... tão gracioso que ainda não precisamos de pagar para desfrutar
Quando a vida é fel, por vezes, temos de parar e olhar para as coisas lindas que nos rodeiam… …
Entre elas, sim, as flores de belas cores, de fragâncias suaves, que esta Primavera nos trouxe, umas em jardins caseiros, outras, simplesmente, sortilégio, magia, da natureza, num prado qualquer…
Tudo numa aldeia ou cidade com ruas cruzadas de frustrações, angústias, raivas e tantas coisas mais de travo amargo…
Mas, bem-haja também, são ruas com vielas, trilhos, em que, ao passarmos, vemos aquelas flores que bailam ao vento com tanta formusura e sem maldade que o nosso olhar se desfaz em vénias, ficando ali à janela, ante algo tão gracioso que ainda não precisamos de pagar para desfrutar… em deleite...
Afinal o paraíso existe! Num retalho como este com tanto cheiro a mar, quase irreal, que nos cobre de volúpia em tons de cobre, feita nuvens de algodão doce com cheiro a enxofre, que exalta a nossa alma imperfeita, aquela que nos pesadelos teme o fim, mas que, acordados, ousamos querer presumir numa força maior, que não vamos acabar, assim, em nada, em pó!
Subir a encosta para ver mais do alto, lá ao fundo, o rio Tâmega, que vai escrevendo no sobrado da serra aqueles poemas resinosos, aromas a pinho, sons fluviais, palatos a medronhos, sob a forma de vigor que nos molha as mãos enrugadas!
São elas que levamos ao rosto, para nos refrescarmos na caminhada da vida, de tantos suores e lágrimas, ou até, feridas por cicatrizar!
E lá, no baloiço do Tâmega, no vai e volta suspensos nas cordas do destino, retemperamos vontades de irmos para além da nossa força!
Como um pêndulo, por energia maior que a nossa inteligência não entende, nos impele à procura de nos satisfazermos, ora mais, ora menos, nem que seja, à espera do ocaso da jornada, ali, no penhasco, simplesmente, respirando, em paz, para cá do Marão!