Lembras? Vestias de negro e eu também!
MÃE
O tango “La Cumparsita” era canção preferida da senhora minha mãe.
Ouvir, ontem, hoje e amanhã esta bela composição musical aproxima-me dela, tantas são as saudades da mulher mais bela, forte, alegre e meiga que conheci.
E a que me conhecia melhor, sem nunca cobrar, sempre presente!
Uma doença brutal, atroz, injusta, tirou-lhe a memória e a chama, levou-a em 2010.
Mãe, dizias que te doía a tanto a cabeça e eu já sabia o que tinhas, mas nada podia fazer para te salvar. Só te fazia festinhas na cara e tu dizias, sorrindo, gostar das minhas mãos, por serem quentinhas.
Ficaram as saudades e as recordações dos nossos mimos, das nossas danças na sala, dos nossos passeios como namorados, na nossa Guimarães, da tua elegância de senhora sempre bem arranjada, do teu maravilhoso sorriso.
E abraço mais sentido da minha vida, que ambos demos, quando o pai partiu!
Lembras? Vestias de negro e eu também.
O luto e o vazio profundo por ambos manter-se-ão até eu partir, também.
Como eu tremia de medo, naquela noite, de maio de 1990, à porta do hospital, meu Deus!
Chorámos tanto, tanto tempo juntos, minha doce mãe, consolando-nos, porque o meu pai e o teu marido partiram!
Anos depois, foste tu, nos meus braços, o teu último fôlego, o teu último olhar, a tua última súplica.
Fiquei a olhar para ti, chorando, até não conseguir mais, quase sufocando.
Tenho tantas saudades do teu colo, do teu regaço, minha mamã!
fev de 2023