Adormecendo... na floresta encantada
Serra do Alvão
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Há memórias doces-amargas que às vezes lembramos
Tapadas em passados, com nevoeiro espesso!
A elas regressados quando adormecidos estamos
Das nossas culpas, parecem reais, quando nelas tropeço!
Vale a pena despertar, ao luar, desses pedaços feitos?
Talvez não queiramos, por sermos instantes, ilusões
Ruínas nos atraem, sim, somos tão imperfeitos
Revisitamos estados de alma, num sono de inquietações!
E há castelos imensos de sonhos para contar, este ou outro qualquer, só há que abrir as asas e voar.
Sem medos, deixar a caneta voar, voar, voar!
É lindo olhar o mundo lá de cima, ficar tão leve e sentir a brisa que refresca a alma.
Que espicaça nas asas de um devaneio que se pode contar em estrofes de encantar.
E fazer cantigas de amigo ou cantigas de amor, sem contar, com ritmos e tons que as letras vão mostrando, como notas musicais!
Armindo Mendes
Só porque a arte dos sons tem timbres tantos.
Saborear sem pressas, à bolina de acordes gourmet de guitarra, cordas em flor, à beira rio, nos dias cinzentos, de meia luz…
Das chuvas que choram nos prados, nas folhas de outono que chocalham terras ressequidas das estivas, nas noites vigilantes que não dormem…
Nos instantes das memórias, do rastro que atrai o poeta ao limbo da alienação, no ontem, hoje e, fogachos de quartzo de amanhã…
Borrifados numa pauta de neblinas, como rescaldos à ré, de refregas por ousar, à espera de respostas que calem o desassossego…
De gritos mudos, do tempo finito, outrossim, vendo de olhos fechados, as calhas do silêncio, qual homem, como qualquer que respira…
Que sente o pulsar nos punhos, nas palmas quentes, apertadas, para agarrar tanto, de coisa alguma, que, como disforme, preenche a senda dos desventurados… quase poetas, como o que vejo ao espelho grisalho pelo tempo…
Só porque, talvez, passo por aquele cabo ventoso, de trovadores, onde na rocha me sento, calado, ante o traço de sol entre nuvens, qual flama que esquenta os sentidos…
Sem ver, aos pés do farol alto, ouço alaúdes na pele, cantigas de amor da Galiza, da Celtibéria, nossa “mátria” ancestral, que “cousa axim”, no regaço do alvarinho, tanta embriaguez como em Finisterra…
Fim do “camiño” de Santiago, onde repousam as solas gastas de tantos passos cumpridos com cajados, nas cercanias e lonjuras, ao pé da maresia e nas penhas dos “loivos”…
Imagino atrás do “Xurez”, em contraluz, um gaiteiro celta tocando melodias de outrora, belas sem fim, que ecoam em avalanchas das “Rías Bajas” até à Torre de Hercules, na Coruña, da luz romana que apaga as trevas, mar adentro…
Sempre fui sonhador, devaneios almejar
Sonhei tudo, sem nada, com dor ousei
Corri, caí, ergui, quedei, chorei, a fraquejar
A meia-luz, refúgio, postigo sou, eu sei!
Às vezes gosto de escrever sobre ecos e sombras!
Coisas estranhas neste tempo que sou!
Numa torre altaneira imagino a olhar-me nos olhos turvados e a navegar entre brados
Na insónia sonho o que sonhei ontem para os amanhãs, hoje pretéritos
E crer no retorno das ondas salgadas ao areal, de cabelos grisalhos à nortada
Abraço-me, tremo, vagueio à bolina da madrugada, ao virar da página.
Atalho quieto, sozinho como gosto, ouço a "ronca" da Póvoa na neblina
E a traineira no fim do mar, em silhueta, é ponto de luz que me amansa
Gosto da maresia de setembro. Sento-me na areia, saltito descalço entre algas e mexilhões
Que bom rever rochedos onde brinquei em menino com um baldinho
E imaginar os castelos na areia com sonhos à janela e pontes que fiz
Mas que a água levou, curioso prenúncio de destino. Adormeço!
Armindo Mendes
Lua minha, voltaste!
Bela és, neste céu escuro.
És ponto de luz, que procuro!
Auréola celeste em mim realizaste.
Lua, deusa da noite és!
Presença maior no Cosmos de tantos.
Dos contentamentos ou de prantos
Estrelas confessam aos teus pés.
Uma noite mais com o teu perfume!
Servo sou ao teu encantamento.
Detenho-me, olhando-te no firmamento!
Até ao amanhecer, tanto queixume.
Diva de quimeras, de trovadores!
Alumias caminhos do labirinto.
Porém teu brilho hoje sinto!
Audaz para os sonhadores.
Pela madrugada, esperar.
Sei que partirás, mas voltarás!
Nos sonhos de pérolas estarás.
Olhos abrem, acordar, acreditar!
As palavras têm o tamanho e as formas que queiramos dar-lhes.
São como peças de Legos que, sentados no quarto, de meninos de sandálias, vamos montando de olhos felizes, para criarmos castelos encantados, casas de bonecas, de príncipes e princesas...
E quando a alma do artífice não é pequena, os castelos trajam-se com vestes de gala, bordados com linhas de ouro, e bandolins medievais ali tocando, para, em apoteose, abrir alas a um cortejo real, com trovadores, alquimistas e almocreves que dão cor sépia ao mundo de maravilhas que sonhamos fazer parte, num cavalo branco, o Pégaso do Olimpo, com asas de plumas, até ao fim do horizonte...
Armindo Mendes
... o transcendente esconde-se no trivial, mas é para lá que os mortais miram, chamados por quem chama, num exercício algures entre a crença no subliminar e a casca de noz em que, à bolina, vamos por águas aquém do Bojador, por oceanos já navegados…
Aquelas nuvens ali são de algodão!
São fofinhas, são, dizem os românticos, o afago para a dor dos enamorados...
Dos corações que clamam por um carinho, da cara-metade que conforte quem tão agreste momento suporta!
Elas, as senhoras nuvens são de compota de amoras brancas
Saboreia e parte até onde ousar o desejo.
Ao olhar para baixo percebe que a luz do dia é cristalina e ilumina os audazes!
Há um lago imenso de anseios, de coisas por fazer, de coisar por falar, num contrarrelógio cruel
São saltos para a incerteza dos medos, mas tão perto do prazer, num rebuliço de sensações, que se quer parar num tempo sem relógios!
E ficar ali a saborear até que a noite abrace o dia, num leito de morangos feitos safiras
Pare-se o tempo, feche-se a janela do mundo e, a sete chaves de chumbo, quedemo-nos num antro de lírios e margaridas, até a fadiga adormecer em sonhos de poetas!