No sobe e desce do passadiço, um pequeno rio e pinheiros com maresia
Às vezes, fruto do acaso, vamos parar a sítios que desconhecíamos, pedaços de Portugal que descobrimos, que admiramos com surpresa!
Foi assim, recentemente, numa passagem pela zona de Torres Vedras, não longe do Vimeiro, onde se avista um lugarejo chamado Porto Novo, cheio de gente simpática, com uma pequena praia de mar salgado e um tímido porto de pesca, rodeado de zonas verdes que apeteceu conhecer, cheirar e percorrer no sobe e desce de um passadiço entre um pequeno rio e pinheiros, quase até às termas...
... com vista para o areal que se estende para Sul e para as vales férteis das redondezas, para o interior…
É assim o Oeste das Linhas de Torres, terras de tantas batalhas de outrora, hoje solo de fruta saborosa e pessoas que apetece conhecer, numa praia quase só para nós, comendo um pastel de feijão, naquele amanhecer fresco e ventoso!
No romantismo de Budapeste, nas margens do Danúbio
As pontes, engenhos humanos, como estes dois exemplares, unem gentes e lugares (Buda a Peste) separados por rio imponentes, como o Danúbio, aqui em Budapeste, na Hungria, num romantismo único, feito de palácios e jardins de encantar, como nos romances clássicos, que nos fazem parar a qualquer hora, deixando o tempo preguiçar, na corrente que se vai, sem pressa, por entre sotaques, apenas desfurtando do momento, à espera da fotografia certa, no relógio que corre do meio dia à meia noite!
Em silêncio, apesar do chilrear da Primavera que chegou!!!
Às vezes, neste mundo cada vez mais digital, temos uma vontade analógica, primária, incontida, de pararmos o tempo, de ordenarmos, só com o olhar, que os ponteiros do relógio avancem em câmara muito, muito... lenta!
Para desfrutarmos de momentos raros de bem-estar, queremos junto ao peito prolongá-los, como partes da natureza maior, ancestral, onde sentimos uma energia mais forte do que nós, uma eletricidade fresca como arrepios, que brota do subsolo, corpo acima, até ao coração!
Que emerge da folhagem das árvores para os nossos cabelos, ou do riacho que, apressado, queremos convidar a ir mais devagar, levitar como véu de núpcias, branco como a fé, que cobre o leito rochoso...
E, por magia, na cascata, as águas param... e os peixinhos castanhos ficam ali, perante nós, olhando soçobrados ao instante de felicidade...
Onde, não importa quando, os raios de sol fintam as sombras da vida, cintilam como estrelas alegres para iluminarem o silêncio, apesar do chilrear garrido da Primavera que chegou!
Subir a encosta para ver mais do alto, lá ao fundo, o rio Tâmega, que vai escrevendo no sobrado da serra aqueles poemas resinosos, aromas a pinho, sons fluviais, palatos a medronhos, sob a forma de vigor que nos molha as mãos enrugadas!
São elas que levamos ao rosto, para nos refrescarmos na caminhada da vida, de tantos suores e lágrimas, ou até, feridas por cicatrizar!
E lá, no baloiço do Tâmega, no vai e volta suspensos nas cordas do destino, retemperamos vontades de irmos para além da nossa força!
Como um pêndulo, por energia maior que a nossa inteligência não entende, nos impele à procura de nos satisfazermos, ora mais, ora menos, nem que seja, à espera do ocaso da jornada, ali, no penhasco, simplesmente, respirando, em paz, para cá do Marão!
Atravessar o passadiço para virar costas a tantas coisas que nos consomem é a vontade que se sente, ante o cansaço por tantas circunstâncias, de seres menores, que parecem só existir, por trás do penedo, para tornar mais íngreme a caminhada dos que ousam subir a colina, de costas direitas!
Olhar o espelho de água do Lima, majestoso, é sempre tonificante, a cada regresso à bela Viana, a princesa do Lima!
Que encantamento de cidade, com os seus cordões de ouro no pescoço das moças na procissão da Agonia, com os seus jardins românticos, com o seu casario antigo, do tempo de mercadores, que parte, beira-rio, caiado de branco, em direção à encosta abençoada por Santa Luzia, sítio mágico de onde a nossa vista alcança tanta terra, tanto mar, tanto areal atlântico, num cenário para fotógrafos à la minuta perpetuarem no papel, a preto e branco.
Esta alma está em cada coração de Viana, essa joalharia sem igual, símbolo de Portugal, ou numa urbe com dotes de poetisa nas quadras que admiramos nos singelos lenços de namorados…onde os erros ortográficos soam a sonetos…ou nos trajes do seu folclore minhoto, o mais alegre deste quinhão de terra espelhado neste estuário de água imensa…
O rio Douro é uma torrente de emoções quando o olhamos com vistas de ver, do cimo da serra, entre nuvens graciosas que o saúdam, como dedos que tateiam num veludo azul-celeste, com bordos de ouro.
O que vemos então? Vemos tanta água que brilha aos fios de sol, perpassando montes e vales, num leito curvilíneo, majestoso, como o rabelo, que segue até "Portus Cale".
Sob pontes do comboio, deixando para trás tantos socalcos de beleza, de miradouros com pedra de xisto, de cerejais sem fim, de ermidas e mosteiros românicos, de romances de Eça, de devaneios de Torga, ou dos néctares de Baco, sob a forma de cálices de Porto.