Portugalidade maior não pode haver: o Porto Sentido
Nas mil cores do Douro
Que momentos junto ao Douro, vendo a Invicta, linda até ao mar
É sempre assim, mágico, o Porto, com as suas tantas cores, ao final do dia, quase noite!
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Que momentos junto ao Douro, vendo a Invicta, linda até ao mar
É sempre assim, mágico, o Porto, com as suas tantas cores, ao final do dia, quase noite!
Hoje, ao pôr do sol, toranja, no torreão, do Queijo…
Sonhando… Quási Natal, com sapatinho ao janelo?
Pai Natal, sorrio, quási com renas te vejo?
Tanta a canela, mexidos, que sorte, poder comê-los
Antanho, na consoada, havia leite-creme e copos de Sumol
Não era o Pai Natal, era o Menino Jesus das prendas
Coelhinhos de chocolate, bombocas ou a bola de futebol
Aquele presépio de musgo era belo, com luzes e oferendas
Hoje, desta lareira com vida, o horizonte, ao poente
Peúgas fofas, flanelas, golas altas, lares de calor
A maresia é tom de mel, de doce ternura é fonte
Noite maior, luz boa, partilhas, chi-coração. De amor!
Sim, tanta saudade dos ausentes, dos partidos…
Olhares perdidos, às vezes, às voltas sem final
Mas à mesa, de mãos dadas, neste espírito unidos…
Votos de saúde, com muita afeição, a todos, Feliz Natal!
24 dez 2023
O nosso Douro é imenso, belo sem igual, quando, trajado de primavera, em veste de gala, abraça as duas urbes irmãs, que são uma apenas!
Velhas vilas, que soçobram entre si, na sua essência, na sua partilha, unidas por taninos redondos, por pontes de paisagens, “estórias”, gentes e cumplicidades, como as que sentimos em Miragaia ou na Afurada, quando à beira rio caminhamos de gelado na mão, respirando a aragem salgada que vem do mar, rio acima, num rabelo às tantas, e nos penteia o cabelo que, como o nosso espírito, ondula livre como os pássaros marinhos que sobrevoam a Sé, num céu tão azul, com tanto sentido!
É como o milhafre da canção do Rui Veloso, que assobiamos ali, de coração cheio, trauteando aqueles versos que falam tripeiro, sentados no muro, vendo os barcos que sobem e descem as águas e ouvindo a cacofonia poliglota dos turistas, aos magotes, que passam na calçada, posando tantas vezes para mais uma fotografia com as mil pontes do Porto em pano de fundo, como no cinema de Manoel de Oliveira, mas sem o preto e branco, que também são as cores da Invicta que amamos!
A luz do nosso Porto, com tantas nuances, tantos traços até às águas, sombras e brilhos, é um cenário inigualável que o mundo só agora descobriu, conferido pelo Douro, de travo refinado, primaveril, as suas várias pontes de mil formas, pelos putos destemidos que mergulham do tabuleiro, pelos rabelos com sotaque encorpado, bandeiras ao vento Norte, e pela Ribeira das peixeiras e tabernas com sabor a dobrada e bifanas, como dos músicos, que se estende de elétrico, do palácio de cristal, dos apaixonados até à Foz, dos passeios alegres e finais de tarde, à espera do São João, vendo o pôr do sol quase púrpura, atrás da silhueta escura do navio que, roncando, rasga o fio de mar cheio de tudo e de nada, a caminho de Leixões!
Com a Ponte de D. Luiz I agora, finalmente, de “cara” lavada, o nosso Porto ganhou novo encanto, ficando mais lindo ainda, uma autêntica tela que os pintores homenageiam, em Miragaia, e um poema que os nossos mestres rimam nas paredes fernandinas, à sombra da Sé.
Que bonita é a ponte centenária que liga à bela Gaia, de onde, entre as grades de ferro, como a partir dos rabelos, se pode ver o velho casario tripeiro que se estende, pardacento, até à Foz do Douro ou, na outra margem, as caves do Vinho do Porto, marca maior, uma cor rubi de Portugal!
Recuperar e preservar o nosso património é algo que, com letras sobre bronze, nos dignifica, porque reconhecemos os nossos pretéritos e legamos esse passado aos nossos vindouros, perdurando a nossa natureza como povo!
Acabara de tomar café numa confeitaria do Porto, igual a tantas outras, apinhada de gente desconhecida para mim!
Era ao lado da clínica. Eu saíra, há instantes, de uma consulta médica e pensava nos altos e baixos da vida… olhando a rua, por trás do vidro, e o rebuliço matinal na invicta, numa segunda-feira, algures na Boavista, com sol em todo o lado.
Passara, sem afico, os olhos no ecrã do tablet, agastado com as notícias da guerra, de um certo jornalismo que faz “escola” por estes dias… em que só o superficial importa ao rebanho, quase sem direito à diferença.
Respondera a umas quantas mensagens de trabalho, despachando assuntos e passando os olhos pelas páginas pintadas de azul do JN, em rescaldo ao FC Porto campeão, para meu contentamento.
Olhava para as pessoas que iam conversando nas mesas vizinhas, a maioria idosos, e o ar atarefado de quem servia aos clientes torradas pejadas de margarina derretendo… e galões transbordando.
Meio agoniado pelo ambiente, acabei saindo, após pagar a conta ao sisudo empregado que atendia tudo e todos ao mesmo tempo! Deu-me o troco, esticando a mão, enquanto já olhava para outro cliente!
Do lado de fora do estabelecimento, dei comigo a olhar para uma senhora de meia-idade, ao fundo da rua, impecavelmente vestida, com uma mochila amarela às costas, que andava muito devagar na rua. Percebi que era cega.
Debatia-se, com paciência, com os mil obstáculos urbanos e aproximava-se de uma passadeira para peões, em plena selva urbana.
Fique ali parado a observá-la. Quedou-se, finalmente, junto à passadeira. Parecia insegura, nervosa, até!
Quase por instinto, dirigi-me à senhora, perguntando-lhe se precisava de ajuda.
Voltou logo o rosto para mim, com aquele olhar vazio, que me tocou, e disse que apenas queria atravessar a rua.
Perguntou-me se estava vermelho para os peões. Respondi-lhe que sim!
- Não se preocupe, eu ajudo-a a atravessar, disse-lhe.
Aguardei uns instantes ao lado dela que o sinal verde para os peões acendesse, enquanto os carros iam passando, apressados e estremecendo o chão. A motas frenéticas das pizas e um carro do INEM a toda a velocidade pareceram assustá-la.
Acabei, depois, por ajudá-a a atravessar a rua, avisando-a, também, para o degrau traiçoeiro do passeio.
Do lado de lá da rua, a senhora agradeceu e seguiu o seu caminho, devagarinho, rua abaixo, ziguezagueando, ao desviar-se de um poste de iluminação e de um quiosque de raspadinhas, perante as demais pessoas que por ela passavam, indiferentes. Olhavam, mas não a viam, estavam cegas pelas sofreguidão de raspar à procura da sorte!
Eu não! Ave rara, sei lá porquê!
Fiquei mais uns instantes, parado, a olhá-la, de coração apertado, cabisbaixo, um pouco!
Será que a devia ter acompanhado para a continuar a ajudar, sabe-se lá até onde, com os meus olhos, questionei-me quando me dirigia para o meu carro estacionado nas proximidades austeras.
E lá subi a rua, devagar, olhando em volta e a pensar no que acabara de sentir.
Para os meus botões dizia ser um sortudo por poder ver! E como será o mundo dela e dos outros que não conseguem ver.
Escuro, o mundo, talvez, pensei!
Que a luz da sua alma ilumine o seu destino, ao cheirar, quiçá, uma rosa no Palácio de Cristal, ao ouvir um sussurro ao ouvido de alguém que ame e ao saborear uma cereja.
Ou, no rosto, sentir a brisa marítima, na barra do Douro, abrigada pelo nevoeiro e protegida pelo foco do farolim!
10 de maio de 2022
Foi também o fundador de um pequeno burgo fortificado, designado ‘Vimaranis’, derivado do seu nome, atualmente a cidade de Guimãrães, que foi o principal centro governativo do Condado Portucalense. Foi em Guimarães que faleceu, em 873.FOTO: Armindo Mendes (Direitos Reservados)
FOTO: Armindo Mendes (Direitos Resevados
"E é sempre a primeira vez
Em cada regresso a casa
Rever-te nessa altivez
De milhafre ferido na asa"
"E esse teu ar grave e sério
Dum rosto e cantaria
Que nos oculta o mistério
Dessa luz bela e sombria"
Foto: Armindo Mendes (Direitos Reservados)
Dias curtos chegaram, opereta de tons marrom, nas folhas caídas, ao vento levadas, nas escarpas onde se erguem fernandinas muralhas...
As folhas são carpetes de pontos de bronze, como a ponte dos comboios a vapor ou paço de glórias idas, estendidas, escadas abaixo.
Ali, o sol apressado nos telhados toscos, casario das ruas de granitos do tempo, paredes cobertas por mil falhas...
Com artes dos pretéritos, os das mil e uma culturas, para – invictas e juntinhas - se espraiarem no colo do Douro, como uvas em cacho.
E as folhas outono, com timidez de cobre e toque estaladiço, flutuam, em cardume, olhando as pontes, os rabelos barcos...
Mirando a românica sé, altaneira, na colina, até provarem o sal, no Castelo do Queijo de marinheiros.
As folhas hão-de voltar viçosas, quando a primavera acordar, em gesto de esperança para júbilo de fortes e fracos…
E nos palácios de cristal de nós todos proporcionarem fresco ar, na sombra em piqueniques sermos na alma, os primeiros.
Ali, por debaixo das luzes de Led que atraem as barrigas vazias para suculentas imagens de hambúrguer com metro e meio de altura, com nomes muito “à frente” tipo Mac… qualquer coisa, dependendo a “qualquer coisa” da quantidade da carne picada e das batatas fritas ‘gold’.
A azáfama é grande, o rebuliço é fervilhante das gentes, anónimas, à espera, de olhos nos telemóveis, em caracóis de filas, todos inebriados pelos odores e sabores intensos dos molhos de cores garridas que encimam a ‘fast food’ da cadeia norte-americana servida por jovens doutores remediados. São hambúrgueres, mas podiam ser asas de galinha frita, como além.
Ao ritmo dos apetites vorazes, os tabuleiros saem do balcão carregados pelos clientes que se esbarram entre si, tal a trapalhada, com copos de refrigerantes e tantas coisas, numa parafernália de cheiros, pacotes, cores e, claro, brinquedos giríssimos para os meninos e para as meninas, qual engodo no futuro presente.
"...Quando se apreciou ao espelho, olhando o seu rabo, orgulhosa do milagre adelgaçante..."
A senhora loura, abundantemente maquilhada, ali na fila passara há pouco pelas lojas do centro comercial… os passos ruidosos dos saltos altos tinham despertado a minha atenção!
… Ajeitando o cabelo, carrega ainda, orgulhosa, nos sacos de compras, tantas coisas, como aquelas calças de marca a que não resistiu, quando se apreciou ao espelho, olhando o seu rabo, orgulhosa do milagre adelgaçante que o corte da roupa proporcionou às suas partes traseiras que a idade quis agora de linhas abastadas. Uau!!! Vou levar, comentou para o companheiro, puxando pelo cartão de crédito, com um sorriso de orelha a orelha, imaginando o furor que fará quando as amigas (e amigos) do escritório elogiarem… a peça de roupa.
Na fila para a fast food, o companheiro, ao lado da dita, com a barba da moda, calças justas e curtas, de pernas depiladas e com um sapato requintado que deixa ver os pés. Vociferando certas palavras num português pobre, não larga o telemóvel, fazendo as últimas apostas no Placard ou no Betclic, não importa! A expressão dele é de quem procura na fortuna e azar adivinhar o resultado de um qualquer Sporting-Porto desse domingo à tarde, enquanto sonhava com o prémio dos excêntricos, aquele carrão e aquelas boazonas todas só para ele!!!
Já na mesa, na grande sala do shopping, à hora do jantar, a família está em deleite perante os ‘Big Mac’ que fazem as delícias dos tabuleiros com milhões de molhos, mil sabores, amarelos e vermelhos e outras quadricromias, e centenas de guardanapos de pepel que aldrabam as bocas lambuzadas e se deixam cair na confusão, por entre as batatas fritas XL que saltam dos copos de plástico para as bocas, impelidas por mãos a um ritmo desafiante, para gaudio dos comensais, de olhar vazio, mas felizes!
Um pouco por toda a sala, pobres e ricos, letrados ou nem por isso, do avô ao pai, do filho ao neto, todos se saciam até não caber mais, para, de seguida, se levantarem rumo a mais um devaneio, sem destino certo, pelo antro do consumismo, só porque sim, com a loira de olhos postos nas montras de decoração chamativa das lojas e o companheiro, de sapatos finos, de novo perdido nas apostas.
E caminham aos magotes, quase todos impecavelmente vestidos com os trajes de moda.
Elas de barrigas à mostra e calção justo, eles de calças e camisas justas. Tudo pronto para as ‘selfies’ do momento.
Estão contentes, num momento fugaz, ou escondem-se atrás uns dos outros. E cruzam-se indiferentes, quase se tocando nos ombros, nos corredores do shopping dos sonhos, num ritual que manda o status quo, que observo, da minha mesa, onde trabalho, indiferente, talvez!
É domingo à tarde, no Porto!
Por estes dias fomos bombardeados com imagens alusivas ao Natal, umas mais interessantes dos que outras, mas a maioria baseadas em criações com recursos digitais. São cada vez em menor número as ilustrações feitas pelas mãos humanas, traduzindo a frieza, mercantilização e formatação que vai tomando conta dos nossos dias.
Vem isto a propósito de um conjunto de ilustrações que observei recentemente no Arquivo da Cidade de Porto, alusivas à quadra natalícia, muitas estrangeiras e com mais de cem anos.
Uma delícia para os sentidos, como esta que partilho: