... dos dedos agitados do guitarrista, da subtileza que afaga a harpa, da voz do tenor que se ergue para lá do comum-mortal, do requinte do xilofone ou do sopro de prata do trompetista transpiram ecos, como os gemidos do violino e os graves da bateria que calam o silêncio da superficialidade, como a pena do escritor que rabisca à luz da vela com palavras de narrativas uma folha branca, para a transformar num soneto de belas rimas ou numa ode ao deleite dos sentidos, da contemplação, da imaginação de contextos, de amores arrebatadores, que até as telas de cinema obsequiam em grandes produções que só a sétima das artes ousa fazer, num clímax de emoções, até onde a chama houver...
Sempre fui sonhador, devaneios almejar Sonhei tudo, sem nada, com dor ousei Corri, caí, ergui, quedei, chorei, a fraquejar A meia-luz, refúgio, postigo sou, eu sei!
Dedos começaram, trémulos, a rabiscar rascunho de palavras que se vão acomodando para formarem estrofes de sentimentos e devaneios cruzados, como bafejo de primavera, ora sol, ora chuva, por entre nuvens matizadas, de cinzentos em degradê.
Nesta folha branca, do acaso, deixo-me flutuar, com braços que me enlaçam o peito, para sentir o meu palpitar, de olhos semifechados, à meia-luz, que quase me oculta o rosto.
Não são poemas, porque o sol mal espreita e faz frio!
São prosas, afinal, estes dias sem pedigree, jornadas de espera, paciência ansiosa, no desejo que o ímpeto tempere de novo a saga de ser, que percorre cada artéria da vontade de um simples mortal.
As folhas da palmeira vão-se agitando se graça do lado de fora da janela, com a vidraça de gotas de chuva, como diamantes desfocados, e luz de inverno, como espelho do momento, um intervalo, como aguaceiro feroz, rua abaixo, na aldeia, que vai passar, para logo a tarde se trajar de amarelo torrado.
Nesta alameda da vida, desconfiado, aperto o casaco, cubro a cabeça com capuz, para me proteger de não sei o quê, como fazemos quando sonhamos a preto e branco, olhando em redor, procurando o sentido real das coisas e, em sobressalto, acordamos cansados, exaustos da correria, mas aliviados por ter acabado a sofreguidão.
... A música é uma das seis artes clássicas e o que de mais belo convoca um dos cinco sentidos humanos: a audição - um carreiro para a nossa alma.
A clave de sol abre alas para a pauta das notas em partituras de sopro, voz, cordas, percussão e eletrónica que a batuta do maestro cadencia.
Há séculos idos, a criatividade humana criou a magia da música.
Como o pintor renascentista na tela, o ator de, toga, no coliseu de Roma ou Mérida, declamando Omero, ou o escultor de Creta no mármore dando forma a Ulisses, o compositor imagina e pinta ressonâncias, dá linhas de melodias a uma amálgama de notas musicais, dó, ré, mi, tão sabiamente encadeadas que resulta em fá, sol, lá, quais obras-primas, como as valsas, as sinfonias, os fados ou as óperas dos autores clássicos, e até no pop-rock dos nossos tempos, numa linguagem universal, de Behtovan a Pink Floyd, que escusa legendas e une os povos à volta de uma canção de amor, de uma trova que exalta valores, um hino trauteado em todas as latitudes geográficas e de peitos de aquém e além mar, não importa a cor da pele ou o credo.
Dos dedos agitados do guitarrista, da subtileza que afaga a harpa, da voz do tenor que se ergue para lá do comum-mortal, do requinte do xilofone ou do sopro de prata do trompetista transpiram ecos, como os gemidos do violino e os graves da bateria que calam o silêncio da superficialidade, como a pena do escritor que rabisca à luz da vela com palavras de narrativas uma folha branca, para a transformar num soneto de belas rimas ou numa ode ao deleite dos sentidos, da contemplação, da imaginação de contextos, de amores arrebatadores, que até as telas de cinema obsequiam em grandes produções que só a sétima das artes ousa fazer, num clímax de emoções, até onde a chama houver.
É a dança das artes que no palco dos vivos e dos nossos maiores já partidos, com alma, rasga a banalidade, que faz de nós seres com pracetas de estilos vários, que, nas calçadas da nossa quietude, à lareira ou na margem do riacho, clamam por ritmos, cores, declamações a partir do Restelo, ou poemas, sermões aos peixes e outras linguagens para os sentidos, esses, os nossos pelo coração ligados, que dão sentido à vida, que nos tocam o âmago, como uma música, a da nossa vida, que nos tatua a alma, como um campo de malmequeres que ondulam ao vento, por entre a neblina fresca da alvorada ou páginas de um livro aberto ou uma tela de Van Gogh, em tons ora pastel ora arco-íris.
A música é contemplação e o janelo para olharmos com os ouvidos, de peito feito, para o milagre de sentirmos, de existirmos...
Tato, poder alma de outrem afagar; Tato, dedilhar-lhe o coração; Tato, olhos sem brilho enxugar; Tato, abraço de pai em rebento filho; Tato, percorrer pele sem destino, volúpia; Tato, cama sôfrega ou dar a mão!
Olfato, prados de aroma em Sol maior; Olfato, fragrâncias do corpo doce de amoras; Olfato, entender cada flor carmesim, Afrodite até ser dia; Olfato, abrir cacifos de música em cristal; Olfato, desnudar de papoila, em pátio de Córdova, peito cheio...
Paladar, como vida, ora doce, ora sem graça; Paladar, sabor a framboesa coberta de agridoce; Paladar, manjar de castanha, espírito Luso, o fado; Paladar, gelado de manga, em dança de bombons! Paladar, amêndoas recobertas de mel, após frutos do mar!
Audição, aquele flautim de palpitações da vida; Audição, queixumes, contrabaixo sem voz, só dor; Audição, em León, delírio de Kitaro que serena; Audição, sinos de Mafra que atiçam seres sem flama; Audição, liras de assombros ou violinos de amor!
Visão, Cosmos na penumbra da sorte; Visão, ver rimas de afetos na autora; Visão, esperança nas brumas das Atlântidas, cabelos à maresia no canal; Visão, nos feitiços da Lua os fragmentos d`alma;
Visão, palatos, partituras, odores de centeio, sermos maiores!