Pontos de vista para o vale
Por terras das Linhas de Torres
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A Serra da Peneda, no Alto Minho, integrada no Parque Nacional da Peneda-Gerês, mesmo junto à fonteira, é uma das mais imponentes de Portugal, alcançando a altitude de 1416 metros.
Os seus maciços graníticos, com milhões de anos de existência, são imponentes, intercalados por bosques, prados e linhas de água que dão um ar bucólico a alguns dos seus recantos, acidentados entre montes e vales.
Ali respira-se ar puro e os sons que se ouvem, quase sempre, são apenas os que resultam da ação da Natureza, como a fauna selvagem, nomeadamente os cavalos que galopam graciosos, ou os riachos, os ribeiros, as cascatas e os ventos… Por vezes, também, os rebanhos!
Vistas voltadas a Melgaço
Castro Laboreiro é uma das suas aldeias altaneiras, que ficou famosa pela raça de cão pastor à qual deu o seu nome – que belo e imponente animal -, mas também pelas ruínas do seu castelo medieval, que vale a pena visitar, após caminhada de 20 minutos, para apreciar o que resta da antiga fortaleza e aproveitar as vistas voltadas a Melgaço, uma bela vila da raia minhota, no sopé da qual passa o rio Minho, ali ainda com certo ar irreverente!
Daqui partem vários trilhos para as serranias do Parque Nacional, para percorrer a pé ou de bicicleta, para deles fruir, ao longo do ano, variando as paisagens, as cores e os cheiros, consoante as estações, entre a natureza e as aldeias das nossas gentes que ainda resistem aos tempos!
Na outra margem mora a incerteza.
Atravessar o passadiço para virar costas a tantas coisas que nos consomem é a vontade que se sente, ante o cansaço por tantas circunstâncias, de seres menores, que parecem só existir, por trás do penedo, para tornar mais íngreme a caminhada dos que ousam subir a colina, de costas direitas!
No alto da serra, da Estrela talvez, vê-se mais longe, sente-se mais alto, cheira-se mais intensamente, ouve-se mais grave, apesar da neblina, sobre a rocha glaciar outrora, hoje miradouro dos sonhadores ou precipício dos prostrados.
Que experiência esta, olhar em redor, em câmara lenta, como nos filmes, com ar rarefeito, mas de peito cheio para a vida, desafiando os queixumes da serrania.
Ventando forte na Torre, porque o fado dita estas coisas que tentam deter as almas.
Mas são essas, hirtas, que vencem, porque acreditar é ímpeto maior nestes carreiros que sobem a montanha da vida, rumo à canção de sermos nós, sempre, uma balada!
Há recantos assim, de pigmentações mágicas, riscos que ondulam ao vento, com acentos lusitanos, que se deixam notar, com tanta subtileza, com sabores a cereal, que nos fazem, como plumas, elevar aos céus…
E planar, vales fora, com vistas para as cordilheiras da raia, rios curvilíneos, lugarejos com sinetas a rebate e muralhas rudes, num exercício de alquimia, como cavaleiros medievais, desfraldando as bandeiras da reconquista afonsina, além Tejo… em batalhas de credos em tempos idos, dos nossos maiores…
Visitar as Berlengas é místico para uns quantos…
É verão, faz calor!
Ao chegar, após viagem à proa da embarcação, quase tocando o mar, uma reentrância, de águas turquesa e rochas bronzeadas, recebe e convida a subir a encosta, até ao topo, o que se faz de pronto, com tantas gaivotas sobrevoando a ilha maior.
Os olhos veem tudo em redor, mas o trilho é estreito, um pouco íngreme até!
Ah, meu Deus!!! Um travo de ar salgado... As paisagens valem o esforço, deixando espaço para devaneios.
Por instantes, ocorre o filme “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock, com aquela cacofonia das gaivotas, quase assustadora, que faz olhar o céu, vezes sem conta, mas o perigo não mora ali - as aves apenas saúdam os visitantes, talvez!!!
Olhando em redor, tanto mar, tantas ondas que se abraçam às grutas do ilhéu, em calmia...
E há o vento morno de norte - bem-vindo sejas - que levanta o cabelo e refresca o rosto ressequido pelo sol do meio-dia.
Baixar os óculos de sol e sentir aqueles ares atlânticos, apontando a nascente, para admirar o casario branco de Peniche, a cerca de 12 Km, numa península com “lobos do mar”.
A caminhada faz-se sem esforço, no topo da ilha!
Olhando à esquerda, a belíssima baía de águas coloridas, com o forte de São João Batista, a única construção a sério da ínsua.
No antro do pedaço de terra, o farol, que se ergue para espanto de quem por lá passa, parando, olhado-o!
À direita, no oceano, as traineiras que trazem carapau e a sardinha da faina, para gáudio da passarada, num cenário que enche o peito de quem vê.
A vegetação é rasteira, com muitos chorões floridos, e convida a descansar, sem olhar para o relógio, para mais uma observação atenta das aves que sobrevoam a ilha, em bando caótico, como pontos brancos que parecem dançar o twist, no céu azul… Ao fechar os olhos, vê-se ainda melhor!
A Berlenga Grande é pequena, com cerca de 1,5 Km, ponto a ponto, mas tem graça!
Visitá-la é uma experiência tão inesquecível quanto a beleza da silhueta da ilha que se deita no mar, ao pôr do sol, no regresso a Peniche.
Feliz, na popa da embarcação, olhar sumiço para registo do momento, em fotografia... E guardam-se as vistas, no coração, em tintas doces-pérola, para sempre!
Que bom sentir aquelas veredas, na ilha branca
No cume da Graciosa, em redor, tanta paz, envolto nela
Abrir os braços, agarrar tanto ar, tanto de nada, sopro para a alma
No vale, veem-se muros de pedra de Vulcano que riscam o verde
Pontos brancos são casas onde moram ilhéus, com rugas de sal
Resquícios de vinhas perduram e vagos ressequidos, nos terraços
Até os cheiros a bagaço se misturam com os raios de sol
Ou sons rurais que ecoam através dos aerogeradores
À volta da velha caldeirinha, imagina-se o pretérito desta esmeralda
Com a lava a acrescentar cada fajã, o fogo avivando o mar
No traço do horizonte que cintila, navios rumam a Leste, quase levitando na bruma
Neste quinhão é-se do tamanho do que somos, um pedaço da natureza!
E que gozo sê-lo, sem faz de conta, apenas pessoa, a preto e branco!
Como é bom caminhar nas margens do Lima, mesmo numa manhã fria e chuvosa num feriado de dezembro... Respirar os ares frescos do Minho é uma delícia, nos trilhos enlameados pelo "dilúvio" da véspera... ao lado de um rio abastado... junto às ermidas, nos açudes ou sob as pontes medievais, apressado, o Lima, a caminho do mar, a poente, em Viana do Castelo, onde beijará o oceano, junto à praia, sob a bênção de Santa Luzia… inspirando lenços de "nemurados"... com tantos erros ortográficos, com sotaques bordados, à magia do amor...
Caminhar junto ao Douro é mágico, a multiplicar…
Ver-nos, entreabertos, ao espelho de água que corre para o mar…
No outono da vida, irmos atrás rio, levitando, seja só na vontade…
Preencher o peito com a brisa e abrir os braços…
Abraçar, como feitiço, parte igual em quadro de afetos…
Que mudam, cada estação, das camélias às margaridas…
Dos sabores citrinos, da Pala, às compotas de cerejas, de Resende…
Em festival de palatos ou botões de rosa, em canteiros de Midões…
Num estágio de vida, da passarada que parte para Sul, epifania sem palavras…
Só emoções, energias percorrem corpos, como marcas que formam rimas
Vemos os barcos de turistas da moda que passam, acenando entre margens…
Sentado ao sol, nesta pedra, para aquecer as mãos, escrever no coração…
Ou seguindo, mãos dadas com o ziguezague do rio, sob pontes…
Vemos casinhas de lousa, caminhos estreitos, chaminés com pedaços de calor…
Onde moram capelas austeras, memórias de reconquistas afonsinas, templárias…
Como outrora, é a busca do raio de sol, nestes passadiços, para amornar dias frios…
Além, atrás, a neblina, porque o Inverno está a chegar!
O rio Douro é uma torrente de emoções quando o olhamos com vistas de ver, do cimo da serra, entre nuvens graciosas que o saúdam, como dedos que tateiam num veludo azul-celeste, com bordos de ouro.
O que vemos então? Vemos tanta água que brilha aos fios de sol, perpassando montes e vales, num leito curvilíneo, majestoso, como o rabelo, que segue até "Portus Cale".
Sob pontes do comboio, deixando para trás tantos socalcos de beleza, de miradouros com pedra de xisto, de cerejais sem fim, de ermidas e mosteiros românicos, de romances de Eça, de devaneios de Torga, ou dos néctares de Baco, sob a forma de cálices de Porto.
Gosto tanto da arquitetura que encontramos nos Açores.
Não aquela dos tempos atuais, quase sempre, como no Continente, de gosto duvidoso, mas aquela que observamos nos centros históricos das aldeias, vilas e cidades do arquipélago.
Refiro-me, nomeadamente, mas não só, ao casario e outros traços do urbanismo, quase rude, dos primeiros séculos do povoamento das ilhas, após os descobrimentos.
Podia referir várias vilas que já visitei nos Açores, nas nove ilhas, ma agora apetece-me recordar velas, a sede de um dos dois municípios da Ilha de São Jorge, uma urbe pitoresca, de ruas estreitas, com cheiro a mar, com o seu porto de pescadores, forma de fajã, e um passeio marítimo que apetece percorrer amiúde, a caminho da Calheta, a Leste, a segunda vila da ilha, mais pequena, mas também terra de casario antigo junto ao oceano abraçado por altas encostas.
Mas, como outras, Velas é uma pequena vila com o seu casario primitivo, praças, ruas e jardins, dos séculos XV e XVI, de fachadas singelas, de paredes brancas caiadas, com janelas e portas, rebordadas por pedra negra basáltica… Os seus Paços do Concelho, do período barroco, de portas e janelas vermelhas (traços que também encontramos no Pico) encontram-se numa praceta ajardinada, com belos canteiros floridos, rodeada por edificado de pouca altura, onde se destacam o seu belo coreto branco, do século XIX, abundantemente decorado com gradeamentos rubros, combinando com as janelas das casas, as luminárias e os bancos dos jardins, num estilo do período romântico já raro na arquitetura do continente.
Como foi bom percorrer aquelas ruas gastas pelo tempo e apertadas por sofrimentos passados, onde o tempo dos ilhéus corre devagar, a caminho do Canal, a Sul, fonte de vida de uma ilha, a de São Jorge, esticada no oceano, que não se cansa de olhar a vizinha ínsua do Pico, a sua vila de São Roque e a majestosa montanha que sempre acena para nós, do lado de lá.
Sobre o PIco, um traço de nuvens que se estende por cima da Madalena, quase por magia, até à terceira ponta do triângulo, a Ilha do Faial, a da cosmopolita marina da Horta e dos marinheiros, de pele queimada pelo sal, de mil e uma origens, fumando cachimbo e bebendo gin, como no tempo dos baleeiros à vela norte-americanos que por ali paravam!
Texto e fotos: Armindo Mendes (Direitos Reservados)
Adoro visitar as aldeias históricas portuguesas.
Felizmente, nas últimas décadas, muito se tem feito na recuperação e preservação das aldeias.
Ainda há um longo caminho a percorrer, mas os sinais são animadores, com tantas antigas urbes medievais que são um regalo para quem aprecia este tipo de património.
A altaneira aldeia de Sortelha, no concelho de Sabugal, foi uma das primeiras a merecer atenção nesta estratégia de salvaguarda do nosso edificado histórico.
Revisitá-la é sempre um prazer, tão belo e tão bem preservado está o seu casario, o seu castelo medieval, o seu pelourinho e a sua cerca amuralhada.
Calcorrear sem pressas aquelas ruas sinuosas e íngremes, num maciço rochoso, é um prazer, sobretudo num fim de tarde soalheiro, ao som das cigarras.
Observar cada pormenor, cada recanto escondido de cantaria, cada praceta, cada vaso à janela, com o gato que espreita entre as cortinas, é um regalo, no meio de tanta natureza e tantas fragâncias de Primavera que contornam a “velha” vila, hoje quase sem gente, no passado um importante burgo.
Sortelha é, por isso e por muito mais, uma joia do nosso passado como povo, tão intenso que o sentimos quando subimos ao alto de muralha e olhamos o horizonte raiano, inspirando e abrindo os braços para absorvermos tudo o que nos rodeia, num prazer imenso!
A beleza da vida está nas coisas simples, naturais, sem filtros, como viver em paragens longe do stress das grandes concentrações humanas!
Nessas "lonjuras", sou feliz, porque sou eu próprio!
FOTO: Armindo Mendes (Direitos Reservados)
Os Picos da Europa são uma formação montanhosa, que chega aos 2.650 metros, no seu ponto de maior altitude.
Situam-se no norte da Espanha, na região das Astúrias, não muito longe do mar e da cidade de Oviedo, e constitui a parte central da cordilheira Cantábrica.
Trata-se de um Parque Nacional espanhol riquíssimo na sua biodiversidade, proporcionando paisagens lindíssimas, com o verde viçoso dos prados e do arvoredo a sobressaírem por entre picos de declive acentuado e formações rochosas.
No parque correm linhas de águas frescas e podem ser encontrados os famosos lagos de Covadonga, que eu não consegui visitar devido ao mau tempo, com inúmeros trilhos para caminhadas e passeios de bicicleta, a grande altitude, com vistas de cortar a respiração!
É sempre bom recordar que foi a partir destas nestas montanhas asturianas, que apresentam um clima irregular, mesmo no verão, que começou a denominada Reconquista Cristã da Península Ibérica.
O Castelo de Lanhoso, situado junto à vila minhota de Póvoa de Lanhoso, remonta ao século X, estando, por isso, ligado aos primeiros anos da nossa nacionalidade e ao período românico, como tantos outros monumentos do Entre Douro e Minho.
Trata-se de um Monumento Nacional situado no cimo do Monte do Pilar, o maior monólito granítico da Península Ibérica, de onde se pode desfrutar de belas paisagens, com vistas para o Gerês, ou agradáveis piqueniques nas áreas abrigadas por árvores, onde existem mesas em granito para os comensais.
Atualmente, de lá partem belos trilhos para caminhadas, nas redondezas verdejantes!
É um local muito procurado por turistas e pela população da zona e também eu, com a minha família, ainda pequeno, a partir de Guimarães (concelho vizinho) lá ia muitas vezes, no verão, em passeio, recordando o percurso íngreme pelas capelinhas, onde íamos parando para retemperar forças, as longas correrias com o meu pai e manos no enorme penedo, e, às vezes, os almoços em família, sobretudo aniversários da minha avó materna, num restaurante que lá havia, no cimo do monte….
A vida é isto: vamos acrescentando saber ao longo da caminhada, como humanos, nem sempre perfeita, tantas vezes por trilhos inclinados.
Para alguns, a subida é íngreme e, a cada passo, descobre-se que certas paisagens, a coberto de uma textura de tons e aromas frutados a amêndoa, num ápice, do outro lado da colina, se revelam em rochas desengraçadas, caules afiados, sem luz, como noites sem rimas...
(Serra da Caldeirão, Algarve) - FOTO: Armindo Mendes (Direitos Reservados)