Vida nova para tradições ancestrais do Solstício de inverno em Trás-os-Montes
Partilho este vídeo bem interessante do meu camarada e amigo Francisco Pinto, da Agência Lusa, correspondente em Mogadouro.
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Partilho este vídeo bem interessante do meu camarada e amigo Francisco Pinto, da Agência Lusa, correspondente em Mogadouro.
Por estes dias, caminhei mais uma vez pelas serranias do Marão, desta vez por trilhos em redor da aldeia de Covelo do Monte, um pequeno burgo com casas de xisto.
Com uma ótima companhia, sem surpresa, voltei a avistar paisagens fantásticas, desfrutando da natureza em todo o seu esplendor, numa manhã de verão!
A beleza dos montes misturava-se, nesta caminhada com os leitos de pequenos regatos, quase secos pelo calor, e uma ruralidade bucólica, tão próxima das gentes que restam daquele povoado, tão pouco conhecido, encravado nas entranhas do Marão.
No sobe e desce das encostas, às vezes ladeados por pinhais, abrigos de montanha abandonados e colmeias, enquanto os pés pisavam pedaços de xisto nos trilhos acidentados, os nossos pulmões agradeciam a bênção daqueles ares tão puros.
Esperavam-nos também vistas com campos de milho e hortas que ladeavam caminhos rústicos, com rochas esventradas pelas rodas dos carros de bois que se escondiam, quiçá, em pequenos resguardos feitos com xisto.
Também ali, abrigados pela sombra de um carvalho, degustámos as amoras silvestres.
Quando subíamos mais alto, às vezes parávamos e, simplesmente, olhávamos e sentíamos o que a natureza nos oferecia. Tão bom!
Ante o céu azul, aquele silêncio num horizonte de montanhas é ouro! Nem a presença sonora dos chocalhos do gado maronês ousava estragar, antes pelo contrário, são sons que contribuem para adensar o sossego de quem simplesmente, às vezes, prefere estar surdo ao que vem lá de longe, da cidade.
Sim, não custa nada, basta apenas caminharmos até lá e deixarmo-nos ser parte daquele conjunto tão simples, mas tão belo.
Vale sempre a pena caminhar por sítios tão bonitos que o nosso país oferece.
Só a aldeia de Covelo do Monte já não tem o encanto de outros tempos, sobretudo porque construções recentes agridem o casario de xisto original, ferindo o que resta do caráter bucólico do velho lugar!
Sendo filho de um pai que era fotógrafo, cresci a “tirar” fotografia. Ainda hoje, o mundo da fotografia é um dos meus passatempos preferidos, para além da componente profissional que, pontualmente, ainda vai representando para mim.
Ao longo dos anos, terei já captado, através das lentes óticas, milhões de imagens, as primeiras ainda em película e mais tarde para suporte digital.
Esta imagem que apresento tem para mim um duplo significado. Em primeiro lugar aquilo que ela retrata, com uma qualidade notável, enquanto mosaico de cores de um Alentejo primaveril do qual tanto gosto.
Mas, tão importante quanto isso, o facto de ter sido captada com o meu telemóvel, provando, se dúvidas havia, que estes suportes já são a terceira geração da fotografia, dando como adquirida que a primeira foi a analógica – em película e papel – e a segunda com o surgimento das câmaras digitais.
A terceira geração acrescenta muito à segunda, por permitir associar um vasto conjunto de recursos tecnológicos que garantem uma qualidade superior e exponenciam, através de técnicas digitais avançadas, as capacidade de captação de imagem, inclusive simulando uma panóplia de lentes e filtros de cor notáveis.
Hoje já começa, em muitas circunstâncias, a fazer sentido pergunta, na altura do “clic”, se devemos optar pelas câmaras digitais ou se, em alternativa, se desejarmos algo mais elaborado, o smartphone que trazemos no bolso.
Comigo já aconteceu muitas vezes, posso garantir. Sobretudo nos momentos em que, após o “clic”, gostando do efeito, nos apetece partilhar de imediato o resultado com os “amigos” através das redes sociais.
Cada vez que se vai, demoradamente, a Amarante é uma oportunidade nova para, com paciência, deitando, quase sem querer, a mão à máquina que trazemos no bolso, registarmos o momento, ousando captar aquele "acaso" de luz, com a subtileza dos reflexos do Tâmega que irradiam o brilho que desabrocha do céu, o que confere uma tonalidade sempre especial ao conjunto medieval formado pelo mosteiro, pela ponte, pelo rio e pelo casario circundante.
Nunca me canso de registar aquele quadro tão magnífico, tão singular!
Imagens do Mosteiro de Refojos, em Cabeceiras de Basto.
Dói a alma observar a degradação deste edifício da antiga estação de Gatão, em Amarante, na desativada Linha do Tâmega, que ligava o Marco de Canaveses a Arco de Baúlhe, passando por Amarante e Celorico de Basto.
Este, como outros edifícios abandonados da antiga infraestrutura ferroviária portuguesa, são a marca indelével das opções estratégicas erradas tomadas nos anos oitenta e noventa do século passado.
Os governos de então, desprovidos de uma visão acertada de futuro, desinvestiram na rede ferroviária portuguesa, votando-a ao mais completo abandono e condenando-a ao declínio que mais tarde degenerou no encerramento, de nada valendo os protestos das populações prejudicadas.
Os decisores políticos de então, no Terreiro do Paço, extasiados pela moda do betão e das autoestradas, cometeram um erro grave ao não perceberem a importância económica, ambiental e até social do transporte ferroviário.
Ao desinvestir naquela infraestrutura, que servia quase todo o país, muito em especial o interior profundo, em contraciclo com o que se fazia no resto da Europa, a tutela delapidou um elemento estruturante para o desenvolvimento de tantas localidades, introduzindo mais um fator que concorreu para a fuga da população e a desertificação de vastas áreas outrora servidas pelo caminho-de-ferro e de repente privadas de um meio barato de transporte de pessoas e mercadorias. Cidades como Bragança, Mirandela, Vila Real, Chaves, Fafe e até Amarante, que cresceram durante décadas, em parte, à sombra do comboio, ainda hoje, volvidas várias décadas, não se recompuseram dos impactos negativos da perda do transporte ferroviário.
Não tenho dúvidas que, se tivessem sido feitos, em tempo útil, os investimentos de modernização que se impunham nas linhas, os comboios, porque mais baratos e eficazes, continuariam a ser procurados pelas pessoas.
Teríamos hoje, por conseguinte, uma rede ferroviária nacional competitiva e adequada às necessidades, que contribuiria para um Portugal mais competitivo, menos desigual, com um interior forte, dotado de infraestruturas de transportes competitivas e por isso preparado para resistir melhor da força "centrifugadora" das grandes cidades.
Recentemente, por terras de Bragança, registei, com telemóvel, estas imagens no bonito centro histórico. Como se percebe, a qualidade das fotografias não é brilhante, mas o que importa é assinalar a riqueza patrimonial daquela cidade do interior profundo de Portugal.
Gostei de revisitar Bragança, onde não ia há 14 anos, mas fiquei um pouco triste ao constatar que algum do seu centro histórico, nomeadamente o casario medieval em torno do castelo, evidencia um certa degradação.
É pena que o nosso país, tão rico em património, mas tão tacanho na ambição de ver mais longe, não acarinhe como devia o legado dos nossos ancestrais, nem perceba o potencial económico deste recurso.
Infelizmente, Bragança não é exceção. Percorrendo as urbes antigas do país, em quase todas, com Lisboa e Porto à cebeça, observamos este triste fenómeno de degradação, sinal evidente de um abandono explicado, só em parte, por políticas erradas, com décadas.
À medida que o desgaste do tempo avança, cada vez será mais difícil e oneroso recuperar o nosso património. Pelo meio de tanto entorpecimento, muita riqueza se vai perdendo, alguma quiçá de forma irremediável.
O velho burgo medieval de Guimarães reserva-nos sempre surpresas. No sábado, passeando pelo centro, alguém conhecedor do casco histórico apresentou-me este cantinho tão delicioso da cidade, que eu não conhecia.
Chama-se "Ilha do Sabão" e ali residiam antigos operários da zona de Couros, uma antiga indústria da cidade.
Em cada recanto da cidade Património Mundial, somos convidados a contemplar o casario magnificamente recuperado.
Os candeeiros antigos, em cada esquina da cidade velha, são sinais bem presentes do bom gosto dos nossos antepassados.
E por esta altura, as velhas ruas vestem-se de um colorido tão especial...
Incontornável, a passagem pela Praça da Oliveira, a mais bonita de Portugal, digo eu!
No Toural, praça de afetos, encontros e reencontros, de todos os vimaranenses...
O centro histórico de Guimarães, com as suas fachadas medievais, encanta-me pela sua beleza, sem igual no país, mas sobretudo, nos dias de hoje, pela sua notável conservação, em contaste gritante com a degradação que observamos, por exemplo, nos velhos casarios de Lisboa, Porto e Coimbra.
No Alto Minho, imagens da bonita aldeia de Lindoso, com os seus 50 espigueiros de granito, dos séculos XVII e XVIII, e o castelo medieval altaneiro que outrora vigiava a fronteira com Castela, ali ao lado.
Ali, com o Gerês no horizonte, somos convidados a sentar numa pedra e, sem pressas, contemplar os espigueiros no sopé do castelo.
Confesso que é um conjunto monumental e histórico com um caráter bucólico que me impressiona, sem igual no nosso país.
No centro interpretativo, no interior do castelo, o espólio evidencia a riqueza histórica e etnográfica daquela aldeia minhota.
Para quem não conhece, recomendo uma visita.
Em tempos que são de crise profunda na generalidade do país observo, numa conhecida praia portuguesa, neste agosto, sinais contrastantes com o que dizem os números da recessão que todos os dias nos inquietam. Sentado numa avenida junto à praia, enquanto outros “tostam” ao sol, constato o desfile, pomposo de viaturas de alta gama, só acessíveis a uns quantos privilegiados.
Confesso que fico confuso por uns instantes... Esta gente, aparentemente, continua completamente alienada do que se vai passando em Portugal, penso eu.
Expressões felizes acompanham os sinais de riqueza que ostentam em cada pormenor.
Uns gozam de conforto fruto do seu mérito, fruto do seu esforço, Mas outros, se calhar, nem por isso!
Mas, dou logo comigo a interiorizar e digerir o que há muito se sabe: este é um país cada vez mais contrastante, no qual o fosso entre ricos e pobres é cada vez mais acentuado.
No meio fica a dita classe média, a tal à qual ainda penso pertencer, mas que vai claudicando à medida que a austeridade avança.
Nesta praia de agosto, de desfile ostentoso para uns quantos, faltam os muitos milhares de portugueses que não têm emprego, que vão sendo arrastados por uma torrente para a qual nada contribuíram.
Por isso, contrariando o ditado, se percebe que o sol quando nasce não é para todos...
O castelo de Belver, junto ao Rio Tejo, no concelho de Gavião, é mais um magnífico exemplo da arquitetura militar do período da reconquista cristã.
Vale a pena visitá-lo e perceber quanto a localização deste tipo de fortificações medievais, neste caso, no cimo de um monte, com o Tejo aos pés, era importante para alcançar os objetivos de uma defesa eficaz de um determinado território conquistado aos mouros.
Por lá andei recentemente, visitando-o demoradamente.
Admito que aquele castelo, no alto, quando olhado da praia fluvial do Alamal, na outra margem, junto ao Tejo, exercia em mim um certo encantamento.
O Castelo de Aguiar é um notável, mas pouco conhecido monumento de arquitetura militar do período da fundação do Reino de Portugal. As suas ruínas, há alguns anos mostradas aos que apreciam estas “coisas”, demonstram a importância que tiveram estes pequenos castelos altaneiros graníticos na consolidação do território conhecido como Condado Portucalense.
Situado no cimo de um penhasco transmontano, não muito longe de uma aldeia hoje quase sem gente, o Castelo já foi de difícil acesso aos visitantes. Hoje, porém, graças aos melhoramentos, incluindo passadiços, está garantida a segurança dos que querem subir os degraus ziguezagueantes e íngremes que separam a porta de entrada do que resta da torre de menagem, da qual se observa, posso garantir, uma paisagem notável do Alto Tâmega.
A região do Tâmega e Sousa, no interior do distrito do Porto, é a mais jovem do país e também a que, com visão de futuro, mais investe em políticas educativas, acentuando o seu maior ativo, a juventude. A aposta no saber é consensual neste território com mais de meio milhão de habitantes, derrubando diferenças político-partidárias dos diferentes municípios.
De Baião a Paredes, do Tâmega mais rural ao Sousa mais industrializado, fecham escolas velhas, caducas, e abrem modernos centros escolares preparados para os novos paradigmas da formação integrada.
O retorno desta aposta deverá fazer-se sentir, também no plano da produtividade, dentro de alguns anos, catapultando este território para um nível de qualificação que estará, com certeza, entre os melhores à escala nacional. Ao tradicional empreendedorismo desta região juntar-se-á, dentro de alguns anos, uma qualificação ímpar em termos nacionais.
Face aos investimentos avultados realizados ou ainda em curso na requalificação de centenas de escolas, estão reunidas algumas das condições fundamentais para que os jovens de hoje, do Tâmega e Sousa, assimilem competências que contribuirão para alavancar o desenvolvimento da região dentro de uma ou duas décadas.
O caminho ainda é longo e difícil, mas a primeira etapa já foi ultrapassada com distinção: O Tâmega e Sousa já não é a região conhecida pelas elevadas taxas de abandono precoce da escola.
Hoje a região é vista como um exemplo de inovação e trabalho, onde vale a pena investir na inteligência e no saber.
Os que acompanham estas matérias já interiorizaram que estamos perante um processo catalisador do desenvolvimento da região na ótica das gerações vindouras.
O país vai perceber isso.
O país que arde todos os dias, queimando-nos a alma, é o resultado de políticas avulsas, mas crónicas, das últimas décadas, de uma gestão egocêntrica, assente em critérios economicistas errados, que redundam na desertificação humana incomensurável do interior, ao mesmo tempo que acentuam a sobrepopulação das cidades do litoral.
O rei vai nu com certeza. As chamas que vemos todos os dias são o sangue ardente que verte das artérias de um país doente, que sofre em resultado de políticas tecnocratas, preconceituosas e provincianas dos que, encasulados no antro do poder, do alto de um pedestal que só alcança Vila Franca, olham para o interior como as “terrinhas”, para onde, dos autotanques e aeronaves, lançam água para suster um interior depressivo que chega cada vez mais ao litoral.
Num país desigual, com um interior sem pessoas, com matas e campos agrícolas votados ao abandono, resultado de ausência de políticas para promover o desenvolvimento rural sustentado, de pouco ou nada vale o país gastar todos os anos milhões de euros nos dispositivos de combate aos incêndios. É um combate inglório, que interessa apenas a determinados grupos económicos que ganham muito dinheiro com o flagelo dos incêndios.
Nos últimos meses, em atividades de lazer e de trabalho, percorri vários concelhos de Trás-os-Montes e Alentejo.
Dói a alma constatar, apesar de tudo, sem surpresa, que as terras vão perdendo as poucas pessoas que ainda restam. Aldeias vazias, quase fantasmagóricas, cidades, outrora florescentes, agora quase moribundas, sangrando a cada dia, até à agonia final, quiçá.
Com a crise dos últimos anos, ao fluxo migratório para o litoral das décadas de centralismo bacoco de quem governa partir dos finos gabinetes, juntou-se entretanto a debandada para destinos além-fronteiras.
São centenas todos os meses que partem, tristes, curvados ante o cenário que fez mergulhar milhares de portugueses num mar de falta de infortúnios.
Como uma mãe que não consegue gerar leite para alimentar os filhos, temos hoje um país paupérrimo, com um tecido económico fragilizado, que não alimenta gerações inteiras, as tais que, sem esperança no país que as viu nascer há 20, 30 ou 40 anos, emigram, fugindo de uma espiral depressiva, do incêndio que varre o país.
O Castelo de Almourol, situado numa ilha do Tejo, nas proximidades de Vila Nova da Barquinha, é um dos mais impressionantes e bonitos monumentos nacionais do período da reconquista cristã. Do alto da sua torre principal, avistam-se paisagens ribatejanas.
Com outros castelos daquela região do centro do país, este edifício da notável arquitetura militar da época medieval representa a importância estratégica que durante décadas teve o rio Tejo no difícil processo de reconquista cristã iniciado no Norte de Portugal, em direção ao Algarve.
Revisitei há dias as lindas paragens do Douro Internacional, algures por terras de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta.
As imagens que de lá trouxe reavivaram passeios realizados há alguns anos, desfrutando de enquadramentos paisagísticos únicos no nosso território.
Só se lamenta que, não obstante os encantos naturais que permanecem, constate-se a cada vez maior desertificação humana daquelas terras.
Desbravando as estradas transmontanas, passando por aldeias e vilas de casas fechadas, percebe-se o peso de políticas erradas adotadas há décadas por quem nos governa, que transformaram o país num “amontoado” de gente no litoral e num interior tão vazio de povo.
Santo Tirso é uma das pequenas cidades do Entre Douro e Minho que mais aprecio. Desde logo por ter um certo ar romântico, no centro histórico, parecido com outra cidade da qual gosto: Fafe.
De comum entre as duas localidades, os jardins do final do século XIX e princípio do século XX, com os seus bancos e o arvoredo de várias espécies. Destaco também os solares brasileiros, no centro da cidade, com os seus azulejos coloridos, as varandas de ferro e a múltiplas claraboias, denotando que esta foi terra de gente migrante com posses.
Além destes pontos comuns, há outro que me encanta, a arcada, em cuja base, como na congénere de Fafe, se destaca um fontanário, com azulejos vastamente decorados. Aos domingos, no século passado, aqui se reuniam as famílias abastadas.
Estes aspetos comuns conferem aos centros históricos das duas pequenas cidades aquele ar romântico que apetece desfrutar num passeio a pé, acompanhado pelo meu filho lindo, o qual, criança ainda, também começa a aprender a gostar destas coisas.
Ao contrário da maioria das novas cidades do país, outrora vilas, Santo Tirso tem um casco urbano de traça tradicional consolidado, que cresceu a partir do mosteiro de S. Bento, cujos claustros, por estarem tão bem conservados, são dos mais encantadores que já visitei.
Santo Tirso é uma cidade abençoada pelo rio Ave, que também atravessa o concelho vizinho que um dia me viu nascer: Guimarães.
Ontem este rio era conhecido como o mais poluído da Europa, por atravessar uma das zonas mais industrializadas do país, ali predominado o têxtil.
Hoje, fruto dos melhoramentos no tratamento dos afluentes urbanos e industriais, o rio Ave já não tem aquele aspeto pestilento do século passado. Ainda não está perfeito, mas vai recuperando aquele ar de rio em cujas águas se banhavam os nossos avós, então putos, como contava o meu pai quando comigo, criança, mergulha no Ave, nas Taipas.
O parque urbano recentemente construído na margem direita do rio, defronte para a cidade, é muito agradável, devolvendo o Ave aos Tirsenses, que dele desfrutam, caminhando num belo passadiço, após a degustação de um delicioso Jesuíta – uma iguaria da terra, a não perder para os mais gulosos, como eu!
Ultrapassado o alvoroço do crescimento industrial anárquico, que tanta coisa destruiu, o Vale do Ave, em terras como Guimarães, Vizela ou Santo Tirso, vai assim revalorizando o que tão belo ainda preserva, partindo nesta caminhada dignificadora a partir do rio que batizou esta região nortenha.
Amanhã vem a Felgueiras o ministro da Economia para ficar a conhecer o Pacto para a Empregabilidade no Tâmega e Sousa, uma das regiões mais empreendedoras do país, mas, seguramente, das que tem sofrido mais com a conjuntura económica atual.
Uma região onde os empregos dos Estado quase não existem. Uma região que tem, há dezenas de anos, na força do trabalho industrial, a sua idiossincrasia.
Um território onde as pessoas quase não têm tempo para lamúrias, para pensar em greves, porque todo o tempo é pouco para labutar em prol de um futuro, em prol da manutenção dos postos de trabalho cada vez mais periclitantes.
Na última greve geral, um sindicalista dizia-me, consternado: “As pessoas daqui fizeram greve à greve”
Do senhor ministro espera-se que traga um discurso positivo, animador e mobilizador, a uma região que está cansada de ser ostracizada por um poder central que nunca nos viu com os olhos que devia.
Já é tempo de o terreiro do paço deixar de olhar de soslaio para nós e reconhecer a este território laborioso o mérito de ser um dos maiores exportadores nacionais, contribuindo de forma líquida para a riqueza nacional.
Há que apoiar quem nesta região ousa acreditar no empreendedorismo, na inovação e na produtividade, chavões que por cá não são palavras vãs, como atesta o sucesso de muitas empresas dos setores do calçado, mobiliário e têxtil.
É a esses exemplos que a região e o país se devem agarrar.