Papoila no cabelo, como um só!
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Mão folheia livros do sim e do não…
Hieróglifos de odisseias, de moldes de bustos.
Pinceladas de Gioconda, James Last de acordeão…
Calo de enxada, punho de brutos!!!
Mamilo de mãe para saciar…
Afago em rosto enrugado da avó.
Mão de pai grisalho de tanto amar
Papoila no cabelo, como um só!
Mão na dor, no aceno, nas eternas partidas?
- Dedo em riste, palmas: humanos como são.
E véu para as lágrimas, refúgio das feridas?
- Cicatrizes, mão cerrada, sob o pontão.
Armindo Mendes, 18 mar 2022
Bolero de unhas em dança, no pico da ilha
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Mão é extremidade do coração?
- Talvez feições do peito, dedos sem voz.
Mas na palma há riscos de canção?
- Às vezes, trovas entrelaçadas, mesmo sós
Com galanteio, rogar mão amada?
Ofertar-lhe mão forte!
Deitar mão a tudo e nada?
- Além, no celeiro, à procura de sorte.
Dar a mão não é mandar…
É não ter mãos a medir!
Bronze e pérola, dois a acreditar…
Para dedos entrelaçados florir!
A mão ampara, percorre, arrepia…
A mão aquece, aponta o caminho.
A mão benze na fé, alumia!
Com Ele, não estás sozinho!
A mão dócil vê, repousa no regaço!
Mão cheira a ternura, a folia…
Primeira mão, primeiro abraço...
Beijo molhado que o coração alumia.
Mão no baton, no fogo, na luxúria…
Não ter mãos a medir na partilha…
É tricotar, câmara lenta, com fios de fúria…
É bolero de unhas em dança, no pico da ilha.
Armindo Mendes, 18 mar 2022