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Marca d'Água

Marca d'Água

20
Mai24

Sobre pedaços de nuvens e fogachos de céu azul

Pormenores, em Melgaço!


castelo de Melgaço luminária efeito.jpg

Subindo uma calçada de Melgaço, de casario austero, à procura do castelo, percebemos uma luminária de linha contemporânea.

Que contraste com as marcas do passado!

Impressões do tempo plasmadas na muralha e na torre de menagem, com as ameias voltadas ao presente, que domina o enquadramento, sobre pedaços de nuvens e fogachos de céu azul, que completam o cenário.

Numa composição de um momento que o fotógrafo desenhou, que a fotografia eterniza, em pedaços do inverno na primavera, nas “trocas e baldrocas” das estações!

06
Mar23

Sem luz, como noites sem rimas...

A coberto de uma textura de tons e aromas frutados


A vida é isto: vamos acrescentando saber ao longo da caminhada, como humanos, nem sempre perfeita, tantas vezes por trilhos inclinados.

Para alguns, a subida é íngreme e, a cada passo, descobre-se que certas paisagens, a coberto de uma textura de tons e aromas frutados a amêndoa, num ápice, do outro lado da colina, se revelam em rochas desengraçadas, caules afiados, sem luz, como noites sem rimas...

(Serra da Caldeirão, Algarve) - FOTO: Armindo Mendes (Direitos Reservados)

paisagem algarvia caminhadajpg.jpg

05
Jan23

Caligrafia à toa, no que se tornou…

Sem remedeio, apenas achar-se!


Rio Cávado ao pôr do sol em Barcelos copiar.jpg

Gosto de sarrabiscar letras nas folhas de nada. De mim!

Sou compasso de ecos e sombras que se repetem, em matiz, escura.

De sonhos, de amanhãs, de outonos em revoltas, sem fim…

Nas folhas, borrifo alma, vaga à noite, no teclado perdura.

 

Comigo, olho-me, asas de papel, nas minhas mãos…

Se caneta fosse, pedaços de nada e de tudo. No dedilhar!

São bramidos, sem brado, são tremores como Fénix sem vãos

À procura de luz, de volta, atrás do muro, para nada esperar!

 

Nesta trova de caligrafia à toa, no que se tornou…

Verso desengraçado, como se reino meu acabasse.

Mistério de ficar no casulo, sem chama, sem filtro sou…

Num acaso sem caso, sem remedeio. Apenas achar-se!

05-01-2023

 

27
Out22

Que apaga as trevas, mar adentro…

... qual homem, como qualquer que respira…


Só porque a arte dos sons tem timbres tantos.

Saborear sem pressas, à bolina de acordes gourmet de guitarra, cordas em flor, à beira rio, nos dias cinzentos, de meia luz…

Das chuvas que choram nos prados, nas folhas de outono que chocalham terras ressequidas das estivas, nas noites vigilantes que não dormem…

 

Nos instantes das memórias, do rastro que atrai o poeta ao limbo da alienação, no ontem, hoje e, fogachos de quartzo de amanhã…

Borrifados numa pauta de neblinas, como rescaldos à ré, de refregas por ousar, à espera de respostas que calem o desassossego…

De gritos mudos, do tempo finito, outrossim, vendo de olhos fechados, as calhas do silêncio, qual homem, como qualquer que respira…

Que sente o pulsar nos punhos, nas palmas quentes, apertadas, para agarrar tanto, de coisa alguma, que, como disforme, preenche a senda dos desventurados… quase poetas, como o que vejo ao espelho grisalho pelo tempo…

Só porque, talvez, passo por aquele cabo ventoso, de trovadores, onde na rocha me sento, calado, ante o traço de sol entre nuvens, qual flama que esquenta os sentidos…

Sem ver, aos pés do farol alto, ouço alaúdes na pele, cantigas de amor da Galiza, da Celtibéria, nossa “mátria” ancestral, que “cousa axim”, no regaço do alvarinho, tanta embriaguez como em Finisterra…

Fim do “camiño” de Santiago, onde repousam as solas gastas de tantos passos cumpridos com cajados, nas cercanias e lonjuras, ao pé da maresia e nas penhas dos “loivos”…

Imagino atrás do “Xurez”, em contraluz, um gaiteiro celta tocando melodias de outrora, belas sem fim, que ecoam em avalanchas das “Rías Bajas” até à Torre de Hercules, na Coruña, da luz romana que apaga as trevas, mar adentro…

26
Ago22

Vinil sussurra fragmentos

Um 33 senil, sábio amigo!


Paisagem urbana Alentejo nortuna copia02r.jpg

Ligar o som, prazer maior, a meio volume…

Escolho vinil, um 33 senil, sábio amigo!

À meia-luz, Monitor Audio soa a perfume…

Na posição fetal, na carpete, falo comigo!

 

O saxofone soa metais, o baixo murmura…

Sinto o seu bafo estremecendo entranhas!

Que interpelam o vácuo que perdura…

E aguilhoa ganas de ousar façanhas!

 

Lengalengas lamechas pontuam pensamentos…

Ora melancolias, ora memórias, até fantasias!

O vinil é assim, um velho que sussurra fragmentos…

É quente o acento, tanto que adocica profecias!

 

E aquela trova com sotaque do Norte quer dormir…

É fim de dia, de fadigas imensas, que nos vencem!

Já sonho ser feliz, que o vácuo se foi, vou sorrir…

O vinil acabou… O sonho acordou… As ganas se esvaem!

 

agosto de 2022

 

 

23
Abr22

Pontos de amarelo ouro

Sugando cada grão, sem pressa!


camélia com abelha 2022c.jpg

Hoje fui abelha ali, molhado, na flor branca quase neve…

Com volúpia, suguei todo o seu rico alimento.

Ousei ficar mais feliz, sobre aquela pétala breve…

Com graça ei-de voltar para saborear o doce momento!

 

Visitei aquele encanto, com perfume a felicidade…

Na camélia alva subtil, sugando cada grão sem pressa!

Generosa dádiva da natureza, com delicada vontade…

Pólen para sagrado mel, o milagre de adoçar a tristeza!

 

A flor da japoneira tem pontos de amarelo ouro!

É tão fofa, tão frágil, esta singela oferenda.

Tão atraente, é a vida, o mais belo tesouro…

Tê-la no meu colo foi sorte minha, tremenda!

 

22 abril de 2022

12
Mar22

Cinco sentidos!

Esperança, brumas das Atlântidas


Açores Ilhas das Flores poer do sol.jpg

Tato, poder alma de outrem afagar; Tato, dedilhar-lhe o coração; Tato, olhos sem brilho enxugar; Tato, abraço de pai em rebento filho; Tato, percorrer pele sem destino, volúpia; Tato, cama sôfrega ou dar a mão!

 

Olfato, prados de aroma em Sol maior; Olfato, fragrâncias do corpo doce de amoras; Olfato, entender cada flor carmesim, Afrodite até ser dia; Olfato, abrir cacifos de música em cristal; Olfato, desnudar de papoila, em pátio de Córdova, peito cheio...

 

Paladar, como vida, ora doce, ora sem graça; Paladar, sabor a framboesa coberta de agridoce; Paladar, manjar de castanha, espírito Luso, o fado; Paladar, gelado de manga, em dança de bombons! Paladar, amêndoas recobertas de mel, após frutos do mar!

 

Audição, aquele flautim de palpitações da vida; Audição, queixumes, contrabaixo sem voz, só dor; Audição, em León, delírio de Kitaro que serena; Audição, sinos de Mafra que atiçam seres sem flama; Audição, liras de assombros ou violinos de amor!

 

Visão, Cosmos na penumbra da sorte; Visão, ver rimas de afetos na autora; Visão, esperança nas brumas das Atlântidas, cabelos à maresia no canal; Visão, nos feitiços da Lua os fragmentos d`alma;

Visão, palatos, partituras, odores de centeio, sermos maiores!

 

Armindo Mendes, 12 de março de 2022

nacer so sol Ilha das Flores.jpg

26
Fev22

Muros de dourado xisto!


flor de amendoeira por do sol.jpg

Que delícia, querer muito deter o tempo, profundo…

Aguarela do iluminismo, com cheiro e tudo!

Pintar este cantinho do mundo…

Sei não poder, mas esforço-me, sem dor alguma, contudo!

 

Sôfrego, por agarrá-lo!

Tonto, meto a cabeça entre os ramos…

Para me perder em volúpia de regalos!

Os sentidos, arrepiados, desfrutam, sonhamos…

 

Qual pintor na tela que pincela com fervor!

Na colina à beira da estrada, debaixo da amendoeira…

De joelhos, ergo olhos e alma para céu mágico, em fervor.

Prenúncio, Primavera, azul de firmamento, como na vez primeira.

 

Paleta de cores em aguarela.

Que contraste com a candura das flores brancas, singelas.

Que dançam à brisa, valsa de violinos, como à janela.

Apetece tocar, com delicadeza, na cara rosada delas!

 

Como as cordas do instrumento, afagá-las, com jeitinho…

Para não magoar imensa dádiva da mãe-natureza.

Tê-las na palma das mãos, com tanto carinho!

 

Fazermos parte daquele mundo, em devaneio até ao ocaso,

Sinfonia em murmúrios ressoa no horizonte breve!

Olhar cintila, banqueteia-se, embriaga-se neste compasso!

Como flauta andina em deriva nas florzinhas de pétalas de neve.

 

Açucaradas, elas, pontos de amarelo-torrado, rosa ou tons de mel.

Abrir alas para as obreiras, como liras, com zumbidos atarefados.

Do pólen extraem, acentuam a fragância, perfume floral

Sim, mel de Olimpo, para adocicar os anjos feitos fados.

 

Sobre o vale da Vilariça ou paredes-meias com o Coa das gravuras.

Que olhos pasmam, ao lado do pachorrento do Sabor.

Rios milenares de mineiros, fios de azeite, néctares de Baco, formusuras.

E das castanhas para magustos de outono, tanto calor!

 

É incrivelmente retemperador correr aqui como caracol,

Entre amendoeiras em flor, subir à rocha para a fotografia,

Neste clímax sazonal da natureza humanizada, sob tanto sol.

Calçadas medievais com muros de dourado xisto que havia…

 

Que acentuam bermas pintadas pelas árvores, em alamedas,

Com vestes brancas sem fim, carregadas de frutos secos, cobiçados…

Que saboreamos, às vezes, sem culpa, na Torre do Relógio, em Meda…

Passarada, sem saber, canta para ouvidos deleitados…

 

Rituais de acasalamento, que belo concerto, de tantos sopros…

Com o Douro azul, qual Danúbio, escarpado, ao fundo, no horizonte.

Breve brisa de inverno, às portas de castelos, ruínas de aldeias sem corpos,

Peito aberto, à espera de tudo, mergulhar nos bosques de cada monte.

 

O fim de tarde chegou, com a pressa dos dias petizes.

Segundo movimento da sinfonia: o pôr do sol, cor de citrino…

Atrás das encumeadas, nuvens imitam amendoeiras felizes.

Para ficarem mais sublimes, de tons dourados, um hino.

 

Efémeros é certo, mas belos que as óticas dos homens ousam registar, sem sucesso!

A noite caiu, à espera de nova aurora neste cénico mundo!

Natureza e sabedoria milenar dos Homens bons de Trás-os-Montes que nem conheço!

Forasteiros, perante quadro de belezas, somos gratos, em gesto fundo!

 

Tanto que estas letras parvas não conseguem alcançar.

Só a alma, como o luar de Torre de Moncorvo e os nossos antepassados do Coa…

Souberam sentir e guardar no coração, numa pétala de flor de amendoeira ao ar

Ou num esboço paleolítico, no xisto, traçado, sem voz, ecoa!

 

26 fev 2022

22
Fev22

Ora carvão, longe ou perto de nós, os outros.


Às vezes, a nossa alma, cova de desassossegos, transfigura o que os nossos olhos veem!

Inebriados por formosura e graça mil das flores das amendoeiras, levantamos o rosto para o calor, são pontos de luz de alva e difusos que nos interpelam a cada momento, cada piscar de olho, cada franzir, cada fogacho de sorriso de nós desnudado sob o azul céu, celeste até não podermos mais, cada ponto de epiderme, cor de xisto, subtil como o Tua.

O astro, fonte de vida, é soberano. Obscurece, com brilho de quartzo, o ferro de Moncorvo dissimulado em nuances de candeeiro, a luz nossa, tão fraca quanto a pétala de camélia de Basto que o vento leva.

Não longe de Marialva, aldeia cofre de tanta história, apontamos a lente, projeção de nós, sob tanta inquietação e registamos, sem filtros, na quietude da contemplação, a inquietação de sermos, afinal, tão frágeis, tão suscetíveis, levados pela torrente de tão humanos, como os das gravuras do Coa, no cantinho das quimeras, ora neve, ora carvão, longe ou perto de nós, os outros.

Candeeiro Meda contra-luz.jpg

09
Nov21

Gula querer tanto assim


árvore luz.jpg

Será d`ouro o que olho?

Ponto luz atrás, é folhagem?

Que dá o brilho que escolho…

Sem querer, eu grato nessa bela imagem.

 

Abro os olhos fechados, abraço o espírito…

Para no peito afixar cada nuance, cada raio.

Inspiro, saboreio cada fitar, sou do brilho súbdito…

Para meu espírito clarejar, ao colo caio!

 

Ver ouro luz em mim

Segredar sem delongas, nem mordaças.

Porque é gula querer tanto assim…

É sentir, saborear, o quanto faças!

 

 

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