Ó Verão, por que tardas?
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Algures, parece Primavera desnudar-se de Outono…
E as cores garridas encolhem, rosas parecem pardas!
Calçadas nubladas, feitiço de Inverno, como estas, nos dão sono…
Ó vidas, porque sois assim, novembro em maio, ó Verão, por que tardas?
Nas mil cores do Douro
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Que momentos junto ao Douro, vendo a Invicta, linda até ao mar
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É sempre assim, mágico, o Porto, com as suas tantas cores, ao final do dia, quase noite!
Ao sol de inverno
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Paisagens quentes para temperar o frio
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O oceano da Póvoa de Varzim, numa tarde de fevereiro
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Regalo para os sentidos, em clímax!
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Um domingo de janeiro acabado...
Grato pelo belo crepúsculo, além dos montes deste Alvão para fotografar!
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Aquém, houve subidas e descidas nos trilhos rochosos das serranias com vistas para a Senhora de Graça
![Pôr do sol serra do Alvão Fisgas queda de água.]()
Tanto pinhal para cheirar e o rio Olo, cristalino, fio de água que se precipita nas Fisgas
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Espanto renovado sentir esta natureza, regalo para os sentidos todos, juntinhos, em clímax!
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Foi bom, há que voltar quando a primavera acentuar as cores e as fragâncias deste pedaço de éden!!!
Sabor a água fresca no Bosque dos Avós
Num ápice, momentos assim, mágicos… nas entranhas do Marão…
Ser parte deles é estarmos lá, numa bênção da natureza…
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Naquele pedaço de mundo, sem pressas, o pôr-do-sol do alto da serra…
Cheiro a pinho, silêncios na nascente, a frescura no Bosque dos Avós…
"Veja aqui o pôr do sol"!
Desfrutando do "calor" de janeiro, foi bom, merecido, este retrato!
Mãos dadas ao ziguezague do rio, sob pontes…
Caminhar junto ao Douro é mágico, a multiplicar…
Ver-nos, entreabertos, ao espelho de água que corre para o mar…
No outono da vida, irmos atrás rio, levitando, seja só na vontade…
Preencher o peito com a brisa e abrir os braços…
Abraçar, como feitiço, parte igual em quadro de afetos…
Que mudam, cada estação, das camélias às margaridas…
Dos sabores citrinos, da Pala, às compotas de cerejas, de Resende…
Em festival de palatos ou botões de rosa, em canteiros de Midões…
![Passadiços do Rio Douro em Castelo de Paiva (12)]()
Num estágio de vida, da passarada que parte para Sul, epifania sem palavras…
Só emoções, energias percorrem corpos, como marcas que formam rimas
Vemos os barcos de turistas da moda que passam, acenando entre margens…
Sentado ao sol, nesta pedra, para aquecer as mãos, escrever no coração…
Ou seguindo, mãos dadas com o ziguezague do rio, sob pontes…
Vemos casinhas de lousa, caminhos estreitos, chaminés com pedaços de calor…
Onde moram capelas austeras, memórias de reconquistas afonsinas, templárias…
Como outrora, é a busca do raio de sol, nestes passadiços, para amornar dias frios…
Além, atrás, a neblina, porque o Inverno está a chegar!
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Que delícia, querer muito deter o tempo, profundo…
Aguarela do iluminismo, com cheiro e tudo!
Pintar este cantinho do mundo…
Sei não poder, mas esforço-me, sem dor alguma, contudo!
Sôfrego, por agarrá-lo!
Tonto, meto a cabeça entre os ramos…
Para me perder em volúpia de regalos!
Os sentidos, arrepiados, desfrutam, sonhamos…
Qual pintor na tela que pincela com fervor!
Na colina à beira da estrada, debaixo da amendoeira…
De joelhos, ergo olhos e alma para céu mágico, em fervor.
Prenúncio, Primavera, azul de firmamento, como na vez primeira.
Paleta de cores em aguarela.
Que contraste com a candura das flores brancas, singelas.
Que dançam à brisa, valsa de violinos, como à janela.
Apetece tocar, com delicadeza, na cara rosada delas!
Como as cordas do instrumento, afagá-las, com jeitinho…
Para não magoar imensa dádiva da mãe-natureza.
Tê-las na palma das mãos, com tanto carinho!
Fazermos parte daquele mundo, em devaneio até ao ocaso,
Sinfonia em murmúrios ressoa no horizonte breve!
Olhar cintila, banqueteia-se, embriaga-se neste compasso!
Como flauta andina em deriva nas florzinhas de pétalas de neve.
Açucaradas, elas, pontos de amarelo-torrado, rosa ou tons de mel.
Abrir alas para as obreiras, como liras, com zumbidos atarefados.
Do pólen extraem, acentuam a fragância, perfume floral
Sim, mel de Olimpo, para adocicar os anjos feitos fados.
Sobre o vale da Vilariça ou paredes-meias com o Coa das gravuras.
Que olhos pasmam, ao lado do pachorrento do Sabor.
Rios milenares de mineiros, fios de azeite, néctares de Baco, formusuras.
E das castanhas para magustos de outono, tanto calor!
É incrivelmente retemperador correr aqui como caracol,
Entre amendoeiras em flor, subir à rocha para a fotografia,
Neste clímax sazonal da natureza humanizada, sob tanto sol.
Calçadas medievais com muros de dourado xisto que havia…
Que acentuam bermas pintadas pelas árvores, em alamedas,
Com vestes brancas sem fim, carregadas de frutos secos, cobiçados…
Que saboreamos, às vezes, sem culpa, na Torre do Relógio, em Meda…
Passarada, sem saber, canta para ouvidos deleitados…
Rituais de acasalamento, que belo concerto, de tantos sopros…
Com o Douro azul, qual Danúbio, escarpado, ao fundo, no horizonte.
Breve brisa de inverno, às portas de castelos, ruínas de aldeias sem corpos,
Peito aberto, à espera de tudo, mergulhar nos bosques de cada monte.
O fim de tarde chegou, com a pressa dos dias petizes.
Segundo movimento da sinfonia: o pôr do sol, cor de citrino…
Atrás das encumeadas, nuvens imitam amendoeiras felizes.
Para ficarem mais sublimes, de tons dourados, um hino.
Efémeros é certo, mas belos que as óticas dos homens ousam registar, sem sucesso!
A noite caiu, à espera de nova aurora neste cénico mundo!
Natureza e sabedoria milenar dos Homens bons de Trás-os-Montes que nem conheço!
Forasteiros, perante quadro de belezas, somos gratos, em gesto fundo!
Tanto que estas letras parvas não conseguem alcançar.
Só a alma, como o luar de Torre de Moncorvo e os nossos antepassados do Coa…
Souberam sentir e guardar no coração, numa pétala de flor de amendoeira ao ar
Ou num esboço paleolítico, no xisto, traçado, sem voz, ecoa!
26 fev 2022
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Sentado numa rocha vejo a luz do meu mar
Estou ali, só, e vejo a minha pele descoberta
A água é sal que chega para a dor atiçar
A maresia de Norte com a alga partiu para parte incerta?
O Norte, como a estrela, diz-se, é o rumo ao polo certo
Mas como é o polo do Norte ou do Sul num mundo ao avesso?
O sol na linha do horizonte à espreita da Boa Esperança ou do deserto
A tempestade trará a bonança? É como eu, trovador, assim peço.
No meu mar vejo marujos e sereias envoltos em papoilas e malmequeres
No meu mar salgado vejo montanhas verdejantes pintadas de cerejeiras
No meu mar vejo rios, vejo os acasos serem fecundos para todos e quaisquer
No meu mar há corações sem sangrar para sorrirem nas floreiras.
Armindo Mendes
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Fugas são corações que se deixam para trás para continuar em frente?
Fugas são ir em frente e olhar corações para trás, em sobressalto
Fugas são ir em frente e ficar perdido entre a corrente
Fugas são querer parar, andando em terreno alto.
Fugas é abrir o livro das histórias já versadas
Fugas é ouvir as músicas nos vinis do tempo
Fugas é ir ao armário e ver o pretérito em almofadas
Fugas é aguarela em pastel sobre tela em desalento.
Fugas a subir as escadas e sentir o coração ficar
Fugas é teclar, teclar e a escrita em pó sangrar
Fugas é olhar a lua e sentir sem respirar
Fugas é olhar o mar de Moisés e ver o milagre fechar.
Fugas é caminhar no bosque e ouvir o riacho calado
Fugas é cheirar as plantas desprovidas de odor
Fugas é inverno de moinho só, de portas cerradas
Fugas é ousar ser o que se é, um sonhador.