Outono das cores e das vermelhas batalhas
Outono é de amarelos maduros, castanhos-bronze e flores vermelhas tardias;
Outono é sala de espera para o general inverno forrada a fetos envelhecidos;
Outono é partida de migrantes que voam para o sul em grandes correrias;
Outono é tempo de nos recolhermos e nos abrigarmos, por causa do frio, nunca perdidos.
Outono é o final de tarde com sol ouro, no sal do mar, que esvai entre as traineiras:
Outono é no horizonte de além-mar um quarto minguante para as manhas da lua;
Outono é ver a natureza desnudar-se do verão e agasalhar-se nas lareiras;
Outono trava o equídeo sem deixar D. Quixote imaginar Dulcineia no fundo da rua.
Outono é Sancho recolher-se na taberna para a pança encher após venturas sem fim;
Outono é o fiel escudeiro beber vinho novo na taberna e saciar-se com castanhas;
Outono é ver D. Quixote tristonho por o frio vindouro arrefecer delírios de marfim;
Outono é ver os moinhos de vento, como soldados hirtos de lanças imaginados, de meias carpim.
Outono é resfriar arianos exércitos de batalhas lá na Rússia para foices e martelos os derrubar;
Outono é soldados de suástica nas taigas que padecem às agruras das neves árticas;
Outono é ver combates em Leningrado, com brancas vestes de carne para canhão lamentar;
Outono é cada anónimo, cabo ou capitão, com famílias para trás, que sucumbe sem cartas mandar, das américas ou das áfricas.
Outono é ter heróis dos desertos ou das terras do sol nascente que retornam ao lar;
Outono é gritar vivas nas terras do tio Sam, bandeiras ao vento, é ver pais de rostos molhados e filhos com as vidas em pedaços;
Outono é os governos que escrevem cartas às viúvas e às mães desafortunadas que querem apenas os filhos chorar;
Outono é ver o capacete baleado sobre o cano da espingarda, num lar de pesadelos de sobrevivos nas mães em regaços.
outono de 2019