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Marca d'Água

Marca d'Água

19
Jul24

Pedaços de vida apontados ao céu...

Gozo que se repete a cada traço de luz


campo de centeio Valadolid segógia 3 2024.jpg

Há momentos de sons que são mágicos, como os ventos da meseta espanhola, logo depois dos prados de lavanda de Tiedra… como cores de bandeira...

campo de centeio Valadolid segógia 2024.jpg

Naquelas lonjuras, as brisas casam-se com pedaços de vida de espigas douradas que, apontadas ao azul do céu, ondulam serenas, sob um sol terno de julho que nos bronzeia a pele arrepiada, de tanto gozo...

Caminhar nesses momentos, sobre terra com pedaços de rochas, é deixar-nos levar por sensações que os sentidos captam para delas gozarmos intensamente, no nosso espírito, num exercício delicioso, quase de sonho, de sermos uns privilegiados, por estarmos ali, ouvindo o sussurro do centeio, inspirando os ares das redondezas, a caminho do campo de girassóis… sim, tão belos que são...

campo de girassois  Valadolid segógia 02 2024.jpg

Aquelas flores gigantes, capazes de nos porem a cabeça à roda, atrás do astro-rei, com tanta beleza, num jardim imenso para onde olhamos, em todas as direções, num gozo que se repete em cada relance de luz, a cada sombra subtil, a cada zumbido das abelhas que saltam atarefadas de flor em flor, num banquete para elas e um postal em alta-definição para nós…

campo de girassois  Valadolid segógia 03 2024.jpg

 

13
Mai24

No fértil planalto onde voam as andorinhas!

Numa Vila Flor, degustando o prado trajado de Primavera


É mesmo assim, encontramos quase por acaso um momento de felicidade, olhando o campo, as montanhas de curvas suaves, sentados algures em Trás-os-Montes…

Flores Vila Flor2 paisagem.jpg

Numa Vila Flor, degustando o prado trajado de Primavera… com aragem tépida, de fim de tarde de domingo… de perfumes floridos, em planos cénicos longos, ondulantes, como nos filmes franceses, ouvindo os grilos atrás da ermida de um santo que não me lembro.

Flores Vila Flor.jpg

Que bom, ainda é grátis, sentirmos momentos assim, de um céu tão azul com pedaços de algodão e um verde que se alonga no fértil planalto da Vilariça, às portas do Tua, terras de olivais e amendoais, onde voam as andorinhas, sobre a vila, para nosso encanto!

Flores Vila Flor2 paisagem vista da vila.jpg

 

18
Abr24

Papoilas, tão dóceis, ondulando ao vento

Tão belas, tão singelas, tão dóceis…


papoila Miranda do Douro4.jpg

As papoilas são flores maravilhosas e estão entre as minhas preferidas…

Por altura de abril, sorte a nossa, todos os anos é este manjar para os sentidos, aí estão as damas vermelhinhas, com todo o seu esplendor, pintando a paisagem!

papoila Miranda do Douro.jpg

Tão belas, tão singelas, tão dóceis, ondulando ao vento, por esses prados de Miranda do Douro, onde caminhamos leves e onde, não longe da Fraga do Puio, à beira Douro, nos sentamos, na companhia delas e das margaridas, também!

papoila Miranda do Douro2.jpg

Apetece tocar as suas pétalas frágeis, mas não o fazemos, respeitamos a sua delicadeza, apenas olhamos, maravilhados, para a sua textura aveludada e para a sua cor profunda, um tom quente que contrasta com o verde silvestre em redor, numa mescla de pigmentações alegres que só a Primavera nos consegue presentear.

papoila Miranda do Douro3.jpg

 

08
Mar24

Florzinhas que, como as ninfas, adocicam a alma

Fragrância a lavanda, como feitiço de Mulher…


campo de lavanda 1.jpg

Campos fora, na meseta, são pigmentações, texturas, mas, sobretudo, a fragrância a lavanda, como feitiço de Mulher…

campo de lavanda 2.jpg

São prados floridos tão imensos que nos enfeitiçam ao pôr do sol, onde caminhamos vestidos de branco, para não perturbarmos a atmosfera cinemática…

campos de Lavanda 3.jpg

Onde, pequeninos, soçobramos com tanta beleza junta… que as palavras são frugais para dela falarem… 

campos de Lavanda 4.jpg

Deixando os cabelos delas serem ainda mais belos, ao vento, até dançando, rodando os vestidos bordados… delas, das Mulheres, nossas deusas, e das florzinhas que, como as ninfas, adocicam o olfato, por esses momentos, o soberano e o mais privilegiado dos sentidos da vida!

É tão bom recordar, neste Dia da Mulher!

28
Mar23

Tocá-las, as papoilas, com vénia, para não ofender…

Corações ao peito, com delongas, admirar


violetas Viana.jpg

No Minho, olhar uma flor é tão saboroso…

Apreciar muitas papoilas é na utopia acreditar.

Suas pigmentações coradas dão supremo gozo…

Em Viana, ao colo do Lima, pétalas parecem flutuar!

 

Tocá-las com vénia, para não ofender…

Abrigadas pela ponte Eiffel, para tantos encantar.

Ao sol de março, tomá-las e quiçá oferecer…

Gesto para "à lá minuta", em Santa Luzia, retratar!

Papoilas de Viana do Castelo.jpg

Cheirá-las é adorá-las, na alameda, a dobrar…

Como lenços de namorados, em lindo jardim.

Corações ao peito, os de Viana, com delongas admirar…

À Nossa senhora da Agonia chegámos, por fim!

 

Armindo Mendes, 27 mar 2023

 

20
Mar23

Primavera és fonte, ventre de luz

Acorde de flauta, eterna salva…


Margaridas Parque de Vilar3.jpg

Ò Primavera, bem-vinda sejas, de volta…

Por onde andaste, tanto tempo, ausente?

Estiveste longe ou andaste perdida, à solta?

Pouco importa agora, voltaste bela, contente!

Flor trilho da levada.jpg

O Inverno já lá vai, do frio, dos dias petizes…

Ò Diva das margaridas, no regaço borboletas trazes

E prados viçosos, fofos, para os amores felizes…

Andorinhas do Sul voltaram, que bela arte fazes.

Maragarida parque de vilar 2.jpg

Os ribeiros estão alegres, nas cachoeiras cantas…

As cerejas vão nascer, para nos corar

Piqueniques no Gerês, arraiais até às tantas

No carvalhal chilreias, para todos encantar…

árvore inverno Melgaço II copiar.jpg

Primavera és nascente, ventre de luz, flor alva...

Rainha em cada recomeço, todos os anos, assim.

Sol e Lua saúdam-te, em acorde de flauta, eterna salva…

Sim, és  bela cegonha em voo de paz e amor, sem fim…

 

23
Abr22

Não são poemas, porque o sol mal espreita

Gotas de chuva, como diamantes desfocados


Tulipa preo de branco.jpg

Dedos começaram, trémulos, a rabiscar rascunho de palavras que se vão acomodando para formarem estrofes de sentimentos e devaneios cruzados, como bafejo de primavera, ora sol, ora chuva, por entre nuvens matizadas, de cinzentos em degradê.

 

Nesta folha branca, do acaso, deixo-me flutuar, com braços que me enlaçam o peito, para sentir o meu palpitar, de olhos semifechados, à meia-luz, que quase me oculta o rosto.

Não são poemas, porque o sol mal espreita e faz frio!

São prosas, afinal, estes dias sem pedigree, jornadas de espera, paciência ansiosa, no desejo que o ímpeto tempere de novo a saga de ser, que percorre cada artéria da vontade de um simples mortal.

As folhas da palmeira vão-se agitando se graça do lado de fora da janela, com a vidraça de gotas de chuva, como diamantes desfocados, e luz de inverno, como espelho do momento, um intervalo, como aguaceiro feroz, rua abaixo, na aldeia, que vai passar, para logo a tarde se trajar de amarelo torrado.

Nesta alameda da vida, desconfiado, aperto o casaco, cubro a cabeça com capuz, para me proteger de não sei o quê, como fazemos quando sonhamos a preto e branco, olhando em redor, procurando o sentido real das coisas e, em sobressalto, acordamos cansados, exaustos da correria, mas aliviados por ter acabado a sofreguidão.

23 de abril

27
Mar22

Prados acordados, por magia, de novo!

Vestes de pétalas à brisa saltitando da alcofa


Hoje dei uns passos na aldeia, reencontrei velha amiga, a Primavera

Bela deusa com flores me presenteia

Amarelos viçosos e brancos mármore à espera

Prados acordados, por magia, de novo!

 

Esquilos ensonados espreitam para ver se a diva chegou…

Sim, ela, com cara de Vénus, ali levando cesto de calor e bonança para o povo

Cuco avisa a vizinhança que o Inverno já passou

Primeiro dia crescido do ano, que bom…

Mais horas para temperar o entardecer, com folha de louro

O sol deitou-se tarde, prometeu amanhās de bom tom…

Mas a levada vai quase vazia, o moinho teme pelo seu tesouro

A chuva de abril há-de cair

Gotículas mil para saciar a sede do regato

Porque a Primavera é fértil para os celeiros provir

O povo vai celebrar, com malhões na eira e presunto no prato

Nos atalhos do bosque, a terra já é fofa

Muros trajam musgos e hera

E há vestes de pétalas à brisa saltitando da alcofa

E o cheiro a mel ao vento, humm… valeu a espera!

Promaver na aldeia.jpg

Os dias longos vão aquecer

Os frutos vermelhos vão adoçar

Os ninhos com crias a crescer

E Cupido nos corações dos amantes vai tocar

 

Armindo Mendes, 27 de março de 2022

12
Mar22

Cinco sentidos!

Esperança, brumas das Atlântidas


Açores Ilhas das Flores poer do sol.jpg

Tato, poder alma de outrem afagar; Tato, dedilhar-lhe o coração; Tato, olhos sem brilho enxugar; Tato, abraço de pai em rebento filho; Tato, percorrer pele sem destino, volúpia; Tato, cama sôfrega ou dar a mão!

 

Olfato, prados de aroma em Sol maior; Olfato, fragrâncias do corpo doce de amoras; Olfato, entender cada flor carmesim, Afrodite até ser dia; Olfato, abrir cacifos de música em cristal; Olfato, desnudar de papoila, em pátio de Córdova, peito cheio...

 

Paladar, como vida, ora doce, ora sem graça; Paladar, sabor a framboesa coberta de agridoce; Paladar, manjar de castanha, espírito Luso, o fado; Paladar, gelado de manga, em dança de bombons! Paladar, amêndoas recobertas de mel, após frutos do mar!

 

Audição, aquele flautim de palpitações da vida; Audição, queixumes, contrabaixo sem voz, só dor; Audição, em León, delírio de Kitaro que serena; Audição, sinos de Mafra que atiçam seres sem flama; Audição, liras de assombros ou violinos de amor!

 

Visão, Cosmos na penumbra da sorte; Visão, ver rimas de afetos na autora; Visão, esperança nas brumas das Atlântidas, cabelos à maresia no canal; Visão, nos feitiços da Lua os fragmentos d`alma;

Visão, palatos, partituras, odores de centeio, sermos maiores!

 

Armindo Mendes, 12 de março de 2022

nacer so sol Ilha das Flores.jpg

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