Caminhadas nos passadiços, com sabor e cheiro a mar
Caminhando, em boa companhia, desfrutando de todos os prazeres do momento, junto ao mar e às dunas, traz-nos tanto bem-estar que até o sentimos na nossa pele.
Por entre as dunas, na cadência da passada, da conversa sobre tudo e sobre nada, vamos olhando à volta, com o Atlântico fresco da manhã, fazendo magia, atraindo a nossa atenção!
O som das ondas pachorrentas no areal, a brisa suave e morna, de Norte, e aquele cheiro a mar que nos preenche todos os bocadinhos, tudo junto, sem segredos, numa alquimia de sensações, de mãos dadas, as nossas, que guardam cumplicidades, à bolina, até onde o acaso nos levar, sem relógio, só com telemóvel, apenas para ir fotografando cada recanto!
Teu mar, teu sal, salpicam paisagens
Graciosa, ínsua branca, conheci-te, finalmente!
Das nove atlântidas furtivas, a última na minha admiração
Tua quentura suave, sem pressa, tempera ao sol poente…
Teu mar, teu sal, salpicam paisagens, como notas de bela canção!
Que sublime desenho, no voo de garajau, nesse salgado mar
Como as tuas manas, ergueste-te com graça maior
Moinhos, impérios, ermidas, casinhas de encantar
Igrejas de séculos, muros de basalto, vinhedos ao calor!
Serras, a branca e as fontes, a caldeira, a vegetação faustosa!
Laurissilva abundante, naquele quinhão, que ar tão verde, tão doce!
A passarada das ilhas exalta os sentidos, na alma que goza!
Olho na cumeada o chuvisco que molha a pele, à bruma, como borboleta fosse!
Impressionam as entranhas, em abóbada, da furna do enxofre, os vulcões, dos Açores, o fado!
Picos suaves mostram aos forasteiros andantes vistas que coram a memória
Atlântico sem fim, ravinas, nuvens de tantas nuances, prados, gados…
Silêncios na Ponta da Barca, formas basálticas de baleia, farol da Barca, tanta história!
Eternamente… Moinhos de vento à bolina, para os cereais
No pretérito, esses engenhos moíam os gãos para pão.
Hoje, parados, posam, com graça, para a foto, belos, sem iguais.
Como os lagares onde já não se pisam uvas, ou velhas pipas, em solidão.
Santa Cruz, tua brasonada capital, abrigo nos descobrimentos!
Casario branco rebordado a negro, coreto descoberto, pracetas, árvores centenárias…
Acolá, na Calheta, rampas da caça à baleia, botes, arpões, memórias de passado sangrento.
Ali, teus tanques, outrora para gado, na calçada desenhos e belas luminárias!
E na Ribeirinha, burros são animais obreiros e dóceis, da “ilha dos burros”, carinhosamente, os seus
Como as centenárias touradas à corda, espetáculo aos meus olhos sem graça, mas marca das gentes…
Doces as Queijadas da Praia, frescos os peixes da Luz, das traineiras de S. Mateus…
Como o alho da ilha, suave no pão, ou as termas do Carapacho, para os ilhéus doentes!
Graciosa, a derradeira das esmeraldas encantadas, no livro meu de visitas aos Açores!
As ilhas da bruma, das areias negras, das lagoas de namorados, das fajãs, dos vulcões, das furnas, da Laurissilva, das tradições, dos mares…
Caminheiro ali, incapaz sou de escolher a mais bela, porque por todas sinto tantos amores!
A cada ida, alegria de chegar, a cada partida, o vazio de deixar e a vontade de ficar!
julho de 2022