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As igrejas são, acima de tudo, locais de culto dos cristãos, mas também, em parte dos casos, monumentos que retratam a maestria dos crentes no louvor ao divino através das artes, ao longo das diferentes épocas do cristianismo.
A escultura, a pintura, a arquitetura, a engenharia e outras capacidades humanas unem-se para erguer monumentos extraordinários, as igrejas, que são o espelho das épocas, das suas modas, nas suas tendências culturais, sociológicas e até económicas, nos seus diferentes estilos e traços.
A igreja de Santa Marinha de Cortegaça, no concelho de Ovar, é um desses exemplos.
Na linha do tempo, é relativamente recente na construção.
Imponente no seu tamanho, é singela no seu traço e bela na sua abundante decoração em azulejo da década de vinte do século passado, o que lhe confere um traço distintivo, em termos nacionais!
O azulejo é, com certeza, uma marca da nossa portugalidade, neste caso com representações, de grande valor artísitico, que falam das crenças religiosas dos seus mentores.
Vê-la, na sua fachada, é um exercício de admiração trajado de azul e branco, cores que transmitem serenidade a quem a visita.
Gosto tanto da arquitetura que encontramos nos Açores.
Não aquela dos tempos atuais, quase sempre, como no Continente, de gosto duvidoso, mas aquela que observamos nos centros históricos das aldeias, vilas e cidades do arquipélago.
Refiro-me, nomeadamente, mas não só, ao casario e outros traços do urbanismo, quase rude, dos primeiros séculos do povoamento das ilhas, após os descobrimentos.
Podia referir várias vilas que já visitei nos Açores, nas nove ilhas, ma agora apetece-me recordar velas, a sede de um dos dois municípios da Ilha de São Jorge, uma urbe pitoresca, de ruas estreitas, com cheiro a mar, com o seu porto de pescadores, forma de fajã, e um passeio marítimo que apetece percorrer amiúde, a caminho da Calheta, a Leste, a segunda vila da ilha, mais pequena, mas também terra de casario antigo junto ao oceano abraçado por altas encostas.
Mas, como outras, Velas é uma pequena vila com o seu casario primitivo, praças, ruas e jardins, dos séculos XV e XVI, de fachadas singelas, de paredes brancas caiadas, com janelas e portas, rebordadas por pedra negra basáltica… Os seus Paços do Concelho, do período barroco, de portas e janelas vermelhas (traços que também encontramos no Pico) encontram-se numa praceta ajardinada, com belos canteiros floridos, rodeada por edificado de pouca altura, onde se destacam o seu belo coreto branco, do século XIX, abundantemente decorado com gradeamentos rubros, combinando com as janelas das casas, as luminárias e os bancos dos jardins, num estilo do período romântico já raro na arquitetura do continente.
Como foi bom percorrer aquelas ruas gastas pelo tempo e apertadas por sofrimentos passados, onde o tempo dos ilhéus corre devagar, a caminho do Canal, a Sul, fonte de vida de uma ilha, a de São Jorge, esticada no oceano, que não se cansa de olhar a vizinha ínsua do Pico, a sua vila de São Roque e a majestosa montanha que sempre acena para nós, do lado de lá.
Sobre o PIco, um traço de nuvens que se estende por cima da Madalena, quase por magia, até à terceira ponta do triângulo, a Ilha do Faial, a da cosmopolita marina da Horta e dos marinheiros, de pele queimada pelo sal, de mil e uma origens, fumando cachimbo e bebendo gin, como no tempo dos baleeiros à vela norte-americanos que por ali paravam!
Texto e fotos: Armindo Mendes (Direitos Reservados)