Aqui nos sentamos, unindo o nosso coração
Linda, vem ver o mar, caminha comigo, agora…
Está um pouco de frio, mas aqueço-te a mão!
Passeamos juntos, sorrindo, mundo fora…
E aqui nos sentamos, unindo o nosso coração!
Bolero de unhas em dança, no pico da ilha
Mão é extremidade do coração?
- Talvez feições do peito, dedos sem voz.
Mas na palma há riscos de canção?
- Às vezes, trovas entrelaçadas, mesmo sós
Com galanteio, rogar mão amada?
Ofertar-lhe mão forte!
Deitar mão a tudo e nada?
- Além, no celeiro, à procura de sorte.
Dar a mão não é mandar…
É não ter mãos a medir!
Bronze e pérola, dois a acreditar…
Para dedos entrelaçados florir!
A mão ampara, percorre, arrepia…
A mão aquece, aponta o caminho.
A mão benze na fé, alumia!
Com Ele, não estás sozinho!
A mão dócil vê, repousa no regaço!
Mão cheira a ternura, a folia…
Primeira mão, primeiro abraço...
Beijo molhado que o coração alumia.
Mão no baton, no fogo, na luxúria…
Não ter mãos a medir na partilha…
É tricotar, câmara lenta, com fios de fúria…
É bolero de unhas em dança, no pico da ilha.
Armindo Mendes, 18 mar 2022
Como as caravanas da Rota da Seda que, na idade média, das trevas e das pesters, carregavam o tecido que encantava as belas mulheres de senhores da guerra abastados, a música de Kitaro é sinónimo de encanto, prazer, volúpia, calor - convite à contemplação, à paz, sem nunca mais acabar, haja tempo para o tempo da atenção que precisamos, sabendo que o tempo do afeto não tem o tempo que as páginas do tempoexigiam!
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O coração dita coisas num cantinho de silvestres flores…
E ele, o coração, bate, cresce , sabe disso!
Abri-lo é sentir delírios, às vezes dores…
Depois, as abelhas lá do Marão vão lavar a alma , qual feitiço!
Que bela colmeia de coisas doces,
O mel feito alma, inocência, em cada um!
Colmeia intimista dádiva de luz , alvorada precoce…
Ou dia de primavera sob chuva de estrelas, ainda em jejum.
O coração é reportório de coisas, às vezes rechonchudas…
E cabe sempre mais um bocadinho, grande ou pequenino.
E apertar cada pitada, em palavras ao ouvido , carnudas…
Para o antro se tornar terno, agridoce ou de travo fino .
E deixar entrar mais abelhas do pólen neste sublime caminho…
Da felicidade, da paz, da querenç a, da vontade de dar, que não finda.
As obreiras são assim, voam baixinho, são mensageiras do amor…
Em abraço, da vida, da esperança, que coisa, meu Deus, tão linda!
Sentado numa rocha vejo a luz do meu mar
Estou ali, só, e vejo a minha pele descoberta
A água é sal que chega para a dor atiçar
A maresia de Norte com a alga partiu para parte incerta?
O Norte, como a estrela, diz-se, é o rumo ao polo certo
Mas como é o polo do Norte ou do Sul num mundo ao avesso?
O sol na linha do horizonte à espreita da Boa Esperança ou do deserto
A tempestade trará a bonança? É como eu, trovador, assim peço.
No meu mar vejo marujos e sereias envoltos em papoilas e malmequeres
No meu mar salgado vejo montanhas verdejantes pintadas de cerejeiras
No meu mar vejo rios, vejo os acasos serem fecundos para todos e quaisquer
No meu mar há corações sem sangrar para sorrirem nas floreiras.
Armindo Mendes
Fugas são corações que se deixam para trás para continuar em frente?
Fugas são ir em frente e olhar corações para trás, em sobressalto
Fugas são ir em frente e ficar perdido entre a corrente
Fugas são querer parar, andando em terreno alto.
Fugas é abrir o livro das histórias já versadas
Fugas é ouvir as músicas nos vinis do tempo
Fugas é ir ao armário e ver o pretérito em almofadas
Fugas é aguarela em pastel sobre tela em desalento.
Fugas a subir as escadas e sentir o coração ficar
Fugas é teclar, teclar e a escrita em pó sangrar
Fugas é olhar a lua e sentir sem respirar
Fugas é olhar o mar de Moisés e ver o milagre fechar.
Fugas é caminhar no bosque e ouvir o riacho calado
Fugas é cheirar as plantas desprovidas de odor
Fugas é inverno de moinho só, de portas cerradas
Fugas é ousar ser o que se é, um sonhador.
Fugas são caminhos estreitos
Fugas são labirintos sem fim
Fugas são dores nos peitos
Fugas são corações assim.
Fugas são memórias
Fugas são palpitações
Fugas são histórias
Fugas são turbilhões.
Fugas são rodopios
Fugas são olhos baixos
Fugas são arrepios
Fugas são fogachos.
Fugas são olhar atrás
Fugas são cara salgada
Fugas são aquém da paz
Fugas são a triste estrada.
Fugas são cair e cair
Fugas são recolhimento
Fugas são ter de partir
Fugas são duro sofrimento.
Armindo Mendes
Língua que se retrai no primeiro beijo.
Anichada na caverna, oculta por cortina de batom.
A língua espreita doce, miras em lampejo.
E, na boca do passo doble, já num baile em bom tom.
Língua de Romeu que ondula em tango um pedaço de ser.
Língua húmida de Julieta que flutua em devaneio.
Língua que acaricia outra gémea, por se ter.
Línguas em par são passos em bolero, ritmo sem freio…
Essas línguas enrolam-se, em dança, em ternura.
Essas línguas saboreiam sucos, receber e dar.
Essas línguas segredam o que perdura.
Essas línguas, aves de Danúbio Azul, de amor eteno segredar…
Transparências são focos de luz para o coração
Transparências são partilhas, são dádivas
Transparências é como abrir o peito e estender a mão
Transparências são como caminhar sem vontades furtivas
Transparências são como falar sem chão
Transparências são abrir o âmago e deixar entrar outrossim
Transparências põe os sorrisos e os olhos com razão
Transparências são colos e afagos num banco de jardim
Transparências são palavras que se dizem sem pensar
Transparências são soslaios tão distraídos
Transparências são como dar e receber sem cobrar
Transparências são amar no canto maior dos sentidos
Armindo Mendes
Aquelas nuvens ali são de algodão!
São fofinhas, são, dizem os românticos, o afago para a dor dos enamorados...
Dos corações que clamam por um carinho, da cara-metade que conforte quem tão agreste momento suporta!
Elas, as senhoras nuvens são de compota de amoras brancas
Saboreia e parte até onde ousar o desejo.
Ao olhar para baixo percebe que a luz do dia é cristalina e ilumina os audazes!
Há um lago imenso de anseios, de coisas por fazer, de coisar por falar, num contrarrelógio cruel
São saltos para a incerteza dos medos, mas tão perto do prazer, num rebuliço de sensações, que se quer parar num tempo sem relógios!
E ficar ali a saborear até que a noite abrace o dia, num leito de morangos feitos safiras
Pare-se o tempo, feche-se a janela do mundo e, a sete chaves de chumbo, quedemo-nos num antro de lírios e margaridas, até a fadiga adormecer em sonhos de poetas!