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Marca d'Água

Marca d'Água

18
Mar22

Dar a mão não é mandar…

Bolero de unhas em dança, no pico da ilha


Papoila Alentejo.jpg

Mão é extremidade do coração?

- Talvez feições do peito, dedos sem voz.

Mas na palma há riscos de canção?

- Às vezes, trovas entrelaçadas, mesmo sós

 

Com galanteio, rogar mão amada?

Ofertar-lhe mão forte!

Deitar mão a tudo e nada?

- Além, no celeiro, à procura de sorte.

 

Dar a mão não é mandar…

É não ter mãos a medir!

Bronze e pérola, dois a acreditar…

Para dedos entrelaçados florir!

 

A mão ampara, percorre, arrepia…

A mão aquece, aponta o caminho.

A mão benze na fé, alumia!

Com Ele, não estás sozinho!

 

A mão dócil vê, repousa no regaço!

Mão cheira a ternura, a folia…

Primeira mão, primeiro abraço...

Beijo molhado que o coração alumia.

 

Mão no baton, no fogo, na luxúria…

Não ter mãos a medir na partilha…

É tricotar, câmara lenta, com fios de fúria…

É bolero de unhas em dança, no pico da ilha.

 

Armindo Mendes, 18 mar 2022

12
Fev22

Há músicas assim, que nos conquistam!


Como as caravanas da Rota da Seda que, na idade média, das trevas e das pesters, carregavam o tecido que encantava as belas mulheres de senhores da guerra abastados, a música de Kitaro é sinónimo de encanto, prazer, volúpia, calor - convite à contemplação, à paz, sem nunca mais acabar, haja tempo para o tempo da atenção que precisamos, sabendo que o tempo do afeto não tem o tempo que as páginas do tempoexigiam!

27
Out21

Dádiva, alvorada precoce


Flores vermelhas.jpg

O coração dita coisas num cantinho de silvestres flores…

E ele, o coração, bate, cresce, sabe disso!

Abri-lo é sentir delírios, às vezes dores…

Depois, as abelhas lá do Marão vão lavar a alma, qual feitiço!

 

Que bela colmeia de coisas doces,

O mel feito alma, inocência, em cada um!

Colmeia intimista dádiva de luz, alvorada precoce…

Ou dia de primavera sob chuva de estrelas, ainda em jejum.

 

O coração é reportório de coisas, às vezes rechonchudas…

E cabe sempre mais um bocadinho, grande ou pequenino.

E apertar cada pitada, em palavras ao ouvido, carnudas…

Para o antro se tornar terno, agridoce ou de travo fino.

 

E deixar entrar mais abelhas do pólen neste sublime caminho…

Da felicidade, da paz, da querença, da vontade de dar, que não finda.

As obreiras são assim, voam baixinho, são mensageiras do amor…

Em abraço, da vida, da esperança, que coisa, meu Deus, tão linda!

 

 

07
Out21

Num mar ao avesso?


mar salgado.jpg

Sentado numa rocha vejo a luz do meu mar

Estou ali, só, e vejo a minha pele descoberta

A água é sal que chega para a dor atiçar

A maresia de Norte com a alga partiu para parte incerta?

 

O Norte, como a estrela, diz-se, é o rumo ao polo certo

Mas como é o polo do Norte ou do Sul num mundo ao avesso?

O sol na linha do horizonte à espreita da Boa Esperança ou do deserto

A tempestade trará a bonança? É como eu, trovador, assim peço.

 

No meu mar vejo marujos e sereias envoltos em papoilas e malmequeres

No meu mar salgado vejo montanhas verdejantes pintadas de cerejeiras

No meu mar vejo rios, vejo os acasos serem fecundos para todos e quaisquer

No meu mar há corações sem sangrar para sorrirem nas floreiras.

 

Armindo Mendes

07
Out21

Fugas (II)


Fugas 2.jpg

Fugas são corações que se deixam para trás para continuar em frente?

Fugas são ir em frente e olhar corações para trás, em sobressalto

Fugas são ir em frente e ficar perdido entre a corrente

Fugas são querer parar, andando em terreno alto.

 

Fugas é abrir o livro das histórias já versadas

Fugas é ouvir as músicas nos vinis do tempo

Fugas é ir ao armário e ver o pretérito em almofadas

Fugas é aguarela em pastel sobre tela em desalento.

 

Fugas a subir as escadas e sentir o coração ficar

Fugas é teclar, teclar e a escrita em pó sangrar

Fugas é olhar a lua e sentir sem respirar

Fugas é olhar o mar de Moisés e ver o milagre fechar.

 

 

Fugas é caminhar no bosque e ouvir o riacho calado

Fugas é cheirar as plantas desprovidas de odor

Fugas é inverno de moinho só, de portas cerradas

Fugas é ousar ser o que se é, um sonhador.

 

07
Out21

Fugas!


Fugas foto.jpg

Fugas são caminhos estreitos

Fugas são labirintos sem fim

Fugas são dores nos peitos

Fugas são corações assim.

 

Fugas são memórias

Fugas são palpitações

Fugas são histórias

Fugas são turbilhões.

 

Fugas são rodopios

Fugas são olhos baixos

Fugas são arrepios

Fugas são fogachos.

 

Fugas são olhar atrás

Fugas são cara salgada

Fugas são aquém da paz

Fugas são a triste estrada.

 

Fugas são cair e cair

Fugas são recolhimento

Fugas são ter de partir

Fugas são duro sofrimento.

 

 

Armindo Mendes

01
Out21

Línguas de amor eteno segredar


Flor Blogue Armindo Mendes.jpg

Língua que se retrai no primeiro beijo.

Anichada na caverna, oculta por cortina de batom.

A língua espreita doce, miras em lampejo.

E, na boca do passo doble, já num baile em bom tom.

 

 

 

Língua de Romeu que ondula em tango um pedaço de ser.

Língua húmida de Julieta que flutua em devaneio.

Língua que acaricia outra gémea, por se ter.

Línguas em par são passos em bolero, ritmo sem freio…

 

 

Essas línguas enrolam-se, em dança, em ternura.

Essas línguas saboreiam sucos, receber e dar.

Essas línguas segredam o que perdura.

Essas línguas, aves de Danúbio Azul, de amor eteno segredar…

 

 

 

30
Set21

São soslaios tão distraídos


Folha transparente.jpg

Transparências são focos de luz para o coração

Transparências são partilhas, são dádivas

Transparências é como abrir o peito e estender a mão

Transparências são como caminhar sem vontades furtivas  

 

Transparências são como falar sem chão

Transparências são abrir o âmago e deixar entrar outrossim

Transparências põe os sorrisos e os olhos com razão

Transparências são colos e afagos num banco de jardim

 

Transparências são palavras que se dizem sem pensar

Transparências são soslaios tão distraídos

Transparências são como dar e receber sem cobrar

Transparências são amar no canto maior dos sentidos

Armindo Mendes

 

09
Set20

Há um lago imenso de anseios, de coisas por fazer


Nuvens.jpg

Aquelas nuvens ali são de algodão!

São fofinhas, são, dizem os românticos, o afago para a dor dos enamorados...

Dos corações que clamam por um carinho, da cara-metade que conforte quem tão agreste momento suporta!

Elas, as senhoras nuvens são de compota de amoras brancas

Saboreia e parte até onde ousar o desejo.

Ao olhar para baixo percebe que a luz do dia é cristalina e ilumina os audazes!

Há um lago imenso de anseios, de coisas por fazer, de coisar por falar, num contrarrelógio cruel

São saltos para a incerteza dos medos, mas tão perto do prazer, num rebuliço de sensações, que se quer parar num tempo sem relógios!

E ficar ali a saborear até que a noite abrace o dia, num leito de morangos feitos safiras

Pare-se o tempo, feche-se a janela do mundo e, a sete chaves de chumbo, quedemo-nos num antro de lírios e margaridas, até a fadiga  adormecer em sonhos de poetas!

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