Subir a encosta para ver mais do alto, lá ao fundo, o rio Tâmega, que vai escrevendo no sobrado da serra aqueles poemas resinosos, aromas a pinho, sons fluviais, palatos a medronhos, sob a forma de vigor que nos molha as mãos enrugadas!
São elas que levamos ao rosto, para nos refrescarmos na caminhada da vida, de tantos suores e lágrimas, ou até, feridas por cicatrizar!
E lá, no baloiço do Tâmega, no vai e volta suspensos nas cordas do destino, retemperamos vontades de irmos para além da nossa força!
Como um pêndulo, por energia maior que a nossa inteligência não entende, nos impele à procura de nos satisfazermos, ora mais, ora menos, nem que seja, à espera do ocaso da jornada, ali, no penhasco, simplesmente, respirando, em paz, para cá do Marão!
Hoje faz chuva e faz sol, como as lágrimas e os sorrisos da vida... Hoje olha-se o céu e veem-se nuvens escuras e pedaços de calor! Hoje a Casa da Calçada está pálida, mas seu pátio desafia à subida... Hoje o Tâmega vai delgado sob a ponte, mas chuvas da madrugada deram-lhe vigor!
Hoje na 5 de outubro turistas mirando as conchas de Santiago... Hoje os sinos de S. Gonçalo e S. Pedro com badaladas quase canção! Hoje o mosteiro está de portas abertas para receber as preces e cada afago... Hoje, na última casa do beato Gonçalo, cravos são tantos como a devoção!
Hoje os conventuais na gula de forasteiros e até certos caseiros... Hoje nas confeitarias cheira a Páscoa de amêndoas, tanto sabor! Hoje donas de casa pensam no cabrito para assados domingueiros... Hoje meninos e meninas compram sapatos de verniz para receber o Senhor!
No domingo o Compasso Pascal vai sair à rua, à praça... Que belo cortejo da Ressurreição do nosso Salvador! Haverá campainhas a anunciar a chegada de divina graça... Colchas de linho nas sacadas dos fieis, gesto de amor!
A Banda de Amarante virá à frente em grande tradição! O pároco, sorridente, trará o belo crucifixo, que a Terra conquistou! Para todos, em casa, beijarmos Cristo, com fé e comoção... Água benta, um cálice de Porto, aleluia, aleluia, Cristo ressuscitou!
Chamaram-lhe “Trilho dos Castanheiros”, em Amarante, na margem esquerda do Tâmega – vários quilómetros de deleite para os sentidos (paisagens lindas, para os olhos, o tagarelar polifónico da passarada e o borbulhar nos açudes, para os ouvidos, e mil e uma fragâncias dos bosques das redondezas, – mas, por estes dias, quem mais ordena, são as mimosas, com o seu tom amarelo exuberante ao pôr do sol e aquele cheirinho, prenúncio da Primavera, que convida o nosso ser a contemplar, com volúpia, num banco de madeira à beira rio, cada fim de tarde deste fevereiro chorão e solarengo, mas frio, com vontade de tornar a saborear as vistas da Princesa do Tâmega, que se aconchega num peito de alma grande!
Que surpreendente e belo cantinho para contemplarmos cada nuance da natureza que o Homem quer preservar!
Que belo casamento entre a mãe-Natureza o pai-Homem, unidos num só, belo quadro que se espraia no espelho de água do Tâmega refletindo o céu borrifado de ouro e as mimosas, de pequenos botões, que apetecer tatear, cheirar, levar para casa e guardar, em segredo, num porta-joias aveludado, de azul-marinho, que reabriremos para vermos os tons perfumados da flor-de-lis com sotaque a Versailles deixado pelas invasões.
Amarante proporciona estes antros para nos arrepiar a alma, olharmos o horizonte e vermos os traços no éter quase boreal.
Caminhar ali é tão especial quanto o ar fresco que nos esfria o semblante, mas que nos impele para irmos além daquela curva e perceber o que se oculta lá.
Ponte de Arame, sobre o rio Tâmega, ligando os concelhos de Amarante (Rebordelo) a Mondim de Basto. Por outras palavras, ligando os distritos do Porto (margem direita) e Vila Real, ou as antigas províncias do Douro Litoral e Trás-os-Montes.
Trata-se de uma travessia pedonal, recentemente recuperada, muito apreciada nas belas caminhadas que se fazem por uma zona encantadora, na Serra de Meia Via.
Amarante, 28 out (Lusa) - O novo presidente da Câmara de Amarante quer que os comboios suburbanos do Porto cheguem àquela cidade do interior do distrito, no âmbito de um projeto der remodelação e eletrificação da Linha do Tâmega.
Em declarações à Lusa, José Luís Gaspar (PSD) revelou que já tem indicação positiva da Secretaria de Estado dos Transportes para se avançar com um estudo de viabilidade, acompanhado por técnicos da Refer, da CP e de outros especialistas.
“Esse projeto permitiria uma ligação direta de Amarante ao Porto. Julgo que isso é estruturante para o futuro de Amarante”, explicou.
O edil defendeu as vantagens económicas para a região de se avançar com a reativação do troço da linha, entre a Livração (Linha do Douro) e a cidade de Amarante, suspensa há alguns anos, dotando-a de condições para o transporte de passageiros em composições elétricas.
Para José Luís Gaspar, “tem sentido” eletrificar a infraestrutura, com cerca de 12 quilómetros de extensão, e dotá-la de via larga, articulando a intervenção que está prevista para a Linha do Douro, no troço entre Caíde de Rei e o Marco de Canaveses.
Caminhar é bom, mas fazê-lo contemplando paisagens maravilhosas é muito mais enriquecedor, sob todos os pontos de vista.
Partindo da aldeia de Canadelo, caminhei hoje pelas serranias agrestes, mas belas, de Amarante, contemplando os altos e baixos das serras da Meia Via, Marão e Alvão, cada uma com as suas especificidades, mas com um denominador comum: serem tão majestosas perante os nossos sentidos, sobretudo em tempo de primavera!
Foram 12 quilómetros exigentes sob ponto de vista físico, mas compensados por sensações intensas que preencheram as subidas íngremes, por entre pedras de xisto soltas, as descidas agudas ajudadas por flores de montanha, os bosques onde despontavam pequenas cascatas e chilreava a passarada e terminando na bonita levada que nos acompanhou no regresso à aldeia de Canadelo.
Estas imagens tentam, sem sucesso, mostrar o que os meus olhos puderam degustar.