Monsanto: regresso a tempos idos, por entre lares encaixados em rochas gigantes.
Monsanto, antiga sede de concelho, é uma das mais belas aldeias de Portugal, situada no interior profundo (concelho de Idanha a Nova), não muito longe da fronteira!
Nas últimas décadas, venceu a degradação que o seu casario já acusava e hoje apresenta-se com todo o seu esplendor a quem a visita.
Vale a pena subir a rua principal, sem pressa, e apreciar o seu edificado que diz bem do passado que teve, como sede do concelho, e que honra o país que somos, no presente!
Na primavera e no verão, nas ruas estreitas do velho burgo medieval, rumo ao altaneiro castelo, as janelas, escadarias, varandas e pátios das casinhas de pedra exibem vasos floridos e outros adereços do pretérito rural das suas gentes, como o seu famoso galo no topo da torre da igreja!
Que exercício, o nosso, de regressarmos a tempos idos, entre lares encaixados em rochas gigantes.
E podendo até falar, abrigados do sol, com os poucos residentes, a maioria grisalhos, que ainda por lá vivem, saudando os turistas à passagem!
Que privilégio termos burgos assim, com tão belas luminárias, aconchegadas, como "retalhos" que Fernando Namora descreveu no seu livro!
Sortelha: num fim de tarde soalheiro, ao som das cigarras
Adoro visitar as aldeias históricas portuguesas.
Felizmente, nas últimas décadas, muito se tem feito na recuperação e preservação das aldeias.
Ainda há um longo caminho a percorrer, mas os sinais são animadores, com tantas antigas urbes medievais que são um regalo para quem aprecia este tipo de património.
A altaneira aldeia de Sortelha, no concelho de Sabugal, foi uma das primeiras a merecer atenção nesta estratégia de salvaguarda do nosso edificado histórico.
Revisitá-la é sempre um prazer, tão belo e tão bem preservado está o seu casario, o seu castelo medieval, o seu pelourinho e a sua cerca amuralhada.
Calcorrear sem pressas aquelas ruas sinuosas e íngremes, num maciço rochoso, é um prazer, sobretudo num fim de tarde soalheiro, ao som das cigarras.
Observar cada pormenor, cada recanto escondido de cantaria, cada praceta, cada vaso à janela, com o gato que espreita entre as cortinas, é um regalo, no meio de tanta natureza e tantas fragâncias de Primavera que contornam a “velha” vila, hoje quase sem gente, no passado um importante burgo.
Sortelha é, por isso e por muito mais, uma joia do nosso passado como povo, tão intenso que o sentimos quando subimos ao alto de muralha e olhamos o horizonte raiano, inspirando e abrindo os braços para absorvermos tudo o que nos rodeia, num prazer imenso!
Castelo Novo - pracetas ao virar da esquina, com tantas marcas medievais
Percorrer os caminhos de Portugal, como tanto gosto de fazer, permite-nos ver aldeias históricas encantadoras, escondidas pelo tempo, mas que, sabiamente, têm sido recuperadas e preservadas, sobretudo na Beira Interior.
Há, felizmente, alguns bons exemplos, como este, em Castelo Novo, no concelho de Fundão, cuja recuperação do edificado tem sido notável nas últimas décadas.
Já lá não ia há mais de 20 anos e lá voltei agora. Que agradável surpresa ver como floresceu aquele burgo que um dia vi quase abandonado.
Ver, agora, aquele casario, fontes, pelourinhos, palacetes brasonados, capelas, ruelas de pavimentos íngremes, pracetas ao virar da esquina, com tantas marcas medievais, destacando-se, obviamente, o seu castelo no topo do maciço rochoso, proporciona-me uma grande satisfação e orgulho de que, quando há vontade, mesmo o mais difícil se torna possível.
Caminhar lentamente na malha de artérias de Castelo Novo é gratificante, com tanto para apreciar, com fachadas em granito de casas de encantar, de pequenas janelas, onde os gatos, por entre as cortinas bordadas, de olhos fitos, veem quem passa, num domingo solarengo, de um azul céu infinito, de manhã, quando a missa de Ramos vai começar e os sinos tocam alegres à passagem da pequena procissão, com algumas crianças felizes.
E a aldeia tem uma paisagem circundante maravilhosa, onde não faltam trilhos pedestres para descobrir, no sopé da Gardunha, nesta Primavera cheia de flores, verdes viçosos nos prados, linhas de água cristalina à entrada da pequena urbe e fragâncias silvestres, como as da Cova da Beira, com sabor a cerejas, mel e laranjas à mão de semear!