Postais de Portugal :)
Ilha Graciosa, Açores
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Longe ou perto, por milhas amiúde, os caminhos cruzados da vida que somos vão correndo (in)certos, por linhas tortas, ou nem por isso, até onde o destino de acasos, de sortilégios, nos conduzir, ante tanto mundo, de Nascente a Poente, como o Sol, de norte a sul, como a estrela dos navegantes!
Outrossim, tantos lugares-comuns, tantos ditames, olhares em redor, caíres, reergueres, interpelações do eu, tu, nós, vós, em fila, até ao último suspiro, de todos, ao janelo!
A cada regresso à Lagoa do Fogo, ainda que virtual, o mesmo espanto, o mesmo misticismo, de neblinas, de murmúrios, a mesma sensação de estarmos num local imenso, com cheiro a verde por todo o horizonte, para onde estendemos os braços trémulos…
E onde, subindo até ao topo da montanha, cada travo ventoso é mais açucarado do que o ananás da ilha…
É um sítio único… Onde a água desce da encosta até à lagoa como o papel prateado de uma fotografia impressa com uma pintura a carvão colorido… Um retrato que só o Criador ousou conceber… para capa de um álbum de recordações das “minhas” ilhas dos amores, para revisitar sempre que apetecer...
Quando, escondido atrás de um pedaço de nada, que contornamos sem querer, no aparece este pedaço de luz… com raios quase partindo, para se cobrirem pela noite estrelada…
Mas, que delícia, ainda temos tempo para vermos o brilho quente que nos cobre o rosto, que se reflete na nossa menina dos olhos…
Tudo isso, ante um ânimo, o nosso, cabelos ao vento, que quase verte lágrimas salgadas em deleite, num instante de sorte maior por estarmos ali… por dele sermos parte…
Assim, parados sobre o rochedo vulcânico, sentindo fantasia sobre o espelho de água dourado, atlântico, mas agora sereno, que queremos abraçar e fazer nosso, nem que seja sonhando!
Aos que me vão seguindo, através dos meus devaneios neste cantinho, desejo uma Páscoa muito feliz!
Há sítios fascinantes, aqueles pontos onde nos sentimos privilegiados, simplesmente por estarmos lá, por nos ser permitido contemplá-los.
Observar o farol na Ponta do Castelo, voltado a sul, em Santa Maria, com o seu enquadramento cénico tão açoriano, com socalcos de verde e um oceano tão belo e imenso, trilho de baleias e golfinhos, é maravilhoso, que não nos cansamos de admirar, parados no cimo da encosta, num processo inglório de querermos registar aquele quadro cénico na nossa memória, no nosso âmago, porque sabemos que dele iremos ter saudade quando partirmos!
Hoje é um desses dias nostálgicos!
Não queremos ir embora, apesar de o relógio dizer que é hora de partir, na volta à ilha, a caminho da Vila do Porto.
Mais uns segundos, sim, eu quero mais uns segundo, qual gula, olhando o quinhão de formusura, procurando guardá-lo no coração que quase rebenta de prazer!
Também os ares do mar onde passou Colombo, a humidade tropical, os socalcos de vinhedos, as casinhas brancas e a praia de areias escuras da Baía de São Lourenço, porque as fotografias não conseguem abraçar tanta magia, à espera de voltar para matar a nostalgia!
Ofegante pela subida, no cimo do penhasco voltado ao mar, olhos postos no farol, aquele objeto mágico que fascina, que se destaca nesta vista quase lunar, de tons de argila, rochas descomunais e texturas movediças.
Nesta atlântida, o ar que se respira é uma delícia, em cada travo, uma mescla marinha, fresca, com pedaços de solo vulcânico, morno, não longe de campos agrícolas onde pastam os gados das touradas à corda.
Olhando o mar lá no abismo, rosnando de encontro às rochas, sentimo-nos exíguos, guardamos reverência à magnificência da mãe-natureza…
É magia!
É tempo de descansar, caminhando pé ante pé no sobe e desce do cenário ondulante da arriba que nos surpreende em cada relance, com plantas de formas estranhas ou aquelas linhas desenhadas nas rochas, além, no mar, pelos caprichos da erosão sob a forma de uma baleia, um ex-libris da ilha, para ver de todos os ângulos, em admiração.
No topo de farol, como na Ilha da Fantasia, lá do alto, com ventania, de onde aponta o foco de luz aos veleiros, a vertigem de ver tudo, como um alcatraz, de asas abertas, sobrevoando em círculos…
Uma volta de 180 graus, com tempo para os sentidos todos, em êxtase, absorverem cada porção cénica.
Do mar turquesa, ao interior da ilha ornamentado com belos moinhos e muros de pedra negra, tanta coisa para a nossa memória guardar, num manjar para os sentidos que quase nos empanturra.
Sim, cheiramos o oceano infinito e o campo, imaginamos os mil focos de luz do farol apontados às noites de nevoeiro, os mosaicos de verde dos prados e os traços da costa, em rebuliço.
Saboreamos o sal no vento marinho, escorre no rosto a maresia e, sorrindo, levamos as mãos ao rosto para sentirmos que tudo é real!
Somos pequenos, pessoas, mas temos a ousadia de saborearmos tudo, que privilégio!
Somos do tamanho de gente, ante a grandeza da natureza, à procura do farol que nos ilumine e guie, na barca da vida…
Quando nos sentimos pequenos, do tamanho da gente, ante a grandeza da mãe-natureza... com um bocado de pessoas - o farol - como nós!
Que bom sentir aquelas veredas, na ilha branca
No cume da Graciosa, em redor, tanta paz, envolto nela
Abrir os braços, agarrar tanto ar, tanto de nada, sopro para a alma
No vale, veem-se muros de pedra de Vulcano que riscam o verde
Pontos brancos são casas onde moram ilhéus, com rugas de sal
Resquícios de vinhas perduram e vagos ressequidos, nos terraços
Até os cheiros a bagaço se misturam com os raios de sol
Ou sons rurais que ecoam através dos aerogeradores
À volta da velha caldeirinha, imagina-se o pretérito desta esmeralda
Com a lava a acrescentar cada fajã, o fogo avivando o mar
No traço do horizonte que cintila, navios rumam a Leste, quase levitando na bruma
Neste quinhão é-se do tamanho do que somos, um pedaço da natureza!
E que gozo sê-lo, sem faz de conta, apenas pessoa, a preto e branco!
Há imagens que valem por mil palavras, diz-se por aí…
Moinhos na Graciosa, nos Açores, valem milhões de regalos
Aos meus olhos são majestosos, de formas quase humanas
Como chapéus de soldadinhos de chumbo, em harmonia, qual fado eterno
No cume da encosta, avistam-se, serenos, os engenhos
Sobre o verde da cercania, com muros de pedrinhas de basalto
Já não moem o cereal, já não há grão de trigo, mas restam as mós
O moleiro partiu ao pôr do sol, ficou o travo com cheiro a broa
Ao fundo o Atlântico, aqui quase silêncio, só murmúrios alísios
Eles ali, relíquias do passado, inspiração dos que palpitam, sonhando!
Em agosto de 2014, numa das minhas idas aos Açores, visitei as belas Ilhas de São Jorge e do Pico.
E foi na vila das Lajes do Pico que, num agradável sarau, com cheiro a mar, assisti a um espetáculo com violas da terra, típicas do arquipélago, “primas” das violas de arame encontradas em várias localidades do Continente, como a Braguesa ou a Amarantina, entre outras.
Foi um serão singelo, mas muito especial, com aquelas sonoridades que adoro a encherem o pequeno auditório repleto de açorianos e também alguns turistas.
Na altura, registei em vídeo algumas passagens para mais tarde recordar, como esta tão especial, com o famoso tema “Ilhas de Bruma”, um momento de afetos que cantamos todos de coração cheio em honra das “ilhas dos amores”.
E ilhéu me senti, das Ilhas de Bruma, naquele instante!
Mesmo em bicos de pés, somos pequenos, olhando para a força da natureza, tão maior, ela que nos verga, humanos, quando lhe ocorre, impotentes somos, assim!
Sem dó, nos Capelinhos, na Ilha do Faial, sentimo-nos assim, ante as poeiras de cinza que, ao vento, nos pincelam de negro as entranhas do rosto, nesta sensação, quase enxofre, de cheirarmos quanto, nas nossas desventuras do quotidiano material, somos insignificantes aos olhos das energias do universo, no meio do mar, numa ilha atlântida qualquer, “passo a passo, cara a cara”, atrás de um farol qualquer, um ponto que, do topo à base, se vai desnudando do manto vulcânico, até que Vulcano, em carne viva, desperte em novo rugido”…
Gosto tanto da arquitetura que encontramos nos Açores.
Não aquela dos tempos atuais, quase sempre, como no Continente, de gosto duvidoso, mas aquela que observamos nos centros históricos das aldeias, vilas e cidades do arquipélago.
Refiro-me, nomeadamente, mas não só, ao casario e outros traços do urbanismo, quase rude, dos primeiros séculos do povoamento das ilhas, após os descobrimentos.
Podia referir várias vilas que já visitei nos Açores, nas nove ilhas, ma agora apetece-me recordar velas, a sede de um dos dois municípios da Ilha de São Jorge, uma urbe pitoresca, de ruas estreitas, com cheiro a mar, com o seu porto de pescadores, forma de fajã, e um passeio marítimo que apetece percorrer amiúde, a caminho da Calheta, a Leste, a segunda vila da ilha, mais pequena, mas também terra de casario antigo junto ao oceano abraçado por altas encostas.
Mas, como outras, Velas é uma pequena vila com o seu casario primitivo, praças, ruas e jardins, dos séculos XV e XVI, de fachadas singelas, de paredes brancas caiadas, com janelas e portas, rebordadas por pedra negra basáltica… Os seus Paços do Concelho, do período barroco, de portas e janelas vermelhas (traços que também encontramos no Pico) encontram-se numa praceta ajardinada, com belos canteiros floridos, rodeada por edificado de pouca altura, onde se destacam o seu belo coreto branco, do século XIX, abundantemente decorado com gradeamentos rubros, combinando com as janelas das casas, as luminárias e os bancos dos jardins, num estilo do período romântico já raro na arquitetura do continente.
Como foi bom percorrer aquelas ruas gastas pelo tempo e apertadas por sofrimentos passados, onde o tempo dos ilhéus corre devagar, a caminho do Canal, a Sul, fonte de vida de uma ilha, a de São Jorge, esticada no oceano, que não se cansa de olhar a vizinha ínsua do Pico, a sua vila de São Roque e a majestosa montanha que sempre acena para nós, do lado de lá.
Sobre o PIco, um traço de nuvens que se estende por cima da Madalena, quase por magia, até à terceira ponta do triângulo, a Ilha do Faial, a da cosmopolita marina da Horta e dos marinheiros, de pele queimada pelo sal, de mil e uma origens, fumando cachimbo e bebendo gin, como no tempo dos baleeiros à vela norte-americanos que por ali paravam!
Texto e fotos: Armindo Mendes (Direitos Reservados)
Na Graciosa, para onde apontarmos a vista, chamamos o mar que beija as rochas costeiras...
São tantas as cores, tantos os recortes, tantos os contrastes, da serra Branca até às ondas do mar, no sul da ilha, que a vista se faz curta para alcançar tanto prazer junto, num pedacinho de esmeralda tão graciosa, no meio deste oceano atrevido, que ora interpela, ora nos embala com doçura, à espera, por certo, de sermos felizes!
Ponta Delgada, a capital administrativa dos Açores, na Ilha de São Miguel, a maior do arquipélago, é uma cidade interessante, com o seu centro histórico voltado para a frente marítima, onde se destacam os paços do concelho (foto).
Trata-se de um edifício barroco, do final do século XVII e início do século XVIII, onde funcionam os serviços do maior município açoriano.
Quando visitei a cidade pela primeira vez, em 1996, fiquei enamorado com a traça do imóvel, com a sua torre sineira, muito diferente do que costumamos observar no Continente, mas com traços arquitetónicos comuns a outros Paços do Concelho que encontramos da região autónoma, a começar por Ribeira Grande, também em São Miguel, na costa norte.
Registei esta fotografia na minha mais recente visita à ilha verde, em 2018, numa noite de verão, então sob uma maravilhosa maresia, quando decorria um concerto de filarmónicas açorianas, ali perto, nas Portas da Cidade, um momento especial que diz muito da cultura dos ilhéus.
Aquele recanto é simbólico, também porque ali estive sentado, na escadaria dos Paços do Concelho, vendo o “povo” passar sem pressa nenhuma, e tentando imaginar como sentem, como são, como se comportam os passantes “micaelenses” e como será governar uma câmara municipal numa ilha!
Por ali andei, como de costume, registando no digital da minha câmara tantas coisas que os meus olhos curiosos iam observando, como tanto gosto de fazer quando visito amiúde as cidades que aprecio, como esta!
Como as pessoas mais idosas, os comércios antigos (aprecio os cafés históricos), os bancos de jardins e as igrejas, as fachadas das casas, quando bem preservadas, como é o caso nesta praça, encantam-me, porque falam muito para além das janelas, das gentes que habitavam aqueles imóveis em séculos idos, quando os Açores eram um território ultramarino longínquo.
Ponta Delgada não é a mais bonita cidade dos Açores, na minha opinião.
Esse título cabe a Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, cujo centro histórico é Património da Humanidade, onde aprecio de sobremaneira o seu casario, fazendo lembrar as urbes do Alentejo, a sua catedral, os Paços do Concelho, réplica dos originais da cidade do Porto, o belíssimo Monte Brasil, o Forte de São Sebastião e os seus encantadores jardins românticos, com espécies tropicais, além da doçaria, a mais famosa dos Açores, presente nas confeitarias da urbe.
Visitar estas e outras localidades nos Açores é um prazer renovado.
Horta, no Faial, Vila Franca do Campo e Nordeste, em São Miguel, Praia da Vitória, na Terceira, Velas, em São Jorge, Vila do Porto, em Santa Maria, Lajes, no Pico, e Santa Cruz, na Graciosa, são outros polos urbanos que merecem uma visita, sobretudo para quem aprecia o casario e outro edificado, nomeadamente praças e igrejas, dos primeiros anos do povoamento do arquipélago.
São autênticos museus vivos!
E eu gosto de vivê-los, à minha maneira, quando posso!
Há imagens que "valem por mil palavras", diz a frase dos postais... Tenho esta fotografia, registada em 2014, na Ilha do Pico, nos Açores, com vista para a Ilha de São Jorge, a minha “lagarta”, como gosto de lhe chamar, do outro lado do canal de Vitorino Nemésio, retratando uma paisagem que me encantou, a partir de um ponto, na costa norte, de onde, por detrás de flores amarelas, era possível observar os grandes cetáceos, nas suas migrações épicas, aquecido por um sol de fim de tarde que me convidou a ficar ali, olhando… inspirando, vendo as aves marinhas que, graciosamente, pintam o céu azul de pontos brancos, no seu bailado.
Que espetáculo da natureza, que saudades daquela maresia, daquelas ilhas mágicas que, como fajãs gémeas, me enfeitiçam, que me fazem tão feliz quando, sem cansar, as visito amiúde, para nelas ser mais eu, mais livre!
Não consigo dizer qual a mais bela das atlântidas, porque de todas, do Corvo a São Miguel, guardo “visões” extraordinárias no meu banco de memórias sob a forma de hortênsias.
Não são apenas visões, são um tanto de tudo, um banquete de sentidos, picos de prazer, que as minhas palavras, sem jeito, não conseguem narrar, tão pequeninas são face às lagoas de emoções que preenchem a minha alma, como um vulcão, a cada chegada às esmeraldas, lindas de morrer, deitado nelas, nos braços dos seus cerrados, agora, lembrei-me, porque não, no Cume da Terceira, admirando o puzzle de verdes viçosos.
Olhá-las, senti-las é mágico, perdidas no meio do Atlântico, onde gosto de estar, sentado numa rocha basáltica, à beira mar, vendo o sol se pôr, para mais uma noite que o farol de Santa Maria pinta com traços de luz, mar adentro, até à marina da Horta, no Porto Pin, repouso de marujos dos sete mares, como o dos Açores, o mais belo que alguém divino, quem sabe, desenhou um dia.
Velas ao vento, como aquele que agita as altaneiras quedas de águas das Flores, para a América voltadas, no Poço do Bacalhau, o mais extraordinário dos postais que os meus olhos alguma vez contemplaram. Olhei-o tanto, meu Deus!
Sento-me num tronco de criptoméria, na margem da lagoa, a dos Patos, talvez, sinto a humidade no rosto, pedaços de água fresca que da cascata borbulham no ar.
Então, sinto-me como no paraíso, deixo-me levar, sem esforço algum, pelo alvoroço de sons, cheiros, arrepios e visões que os meus sentidos, embaraçados, captam, para um sonho mágico na bruma, ali, numa ilha, não importa qual, dos Açores!
Centenários moinhos de velas brancas são as coroas de terra nobre
Como as prateadas de Espírito Santo, porque a fé ali é eminente
Os faróis hirtos na costa alumiam o que neblina recobre
Alcatra para o almoço, peixe-espada para a janta quente
Inhame e leite, sustento açoriano, que sempre sobra