Espelho de água
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O moinho está sempre ali, no bosque vendo as águas que passam.
Por entre as mós que rodam há tempos imemoriais, escuta as queixas
Esmaga o trigo, sim, e ouve as torrentes de angústias que no peito de outrem falam
E ele é paciente, sabe que deve ouvir os corações que batem nas deixas…
Dos queixumes de um confidente do que vai passando sob si
Nas entranhas que escondem a água, à sombra de roda, o escuro convida a testemunhos
E os que seguem sussurram sobre mim, sobre os outros e sobre ti
Das vidas cruzadas, dos desencontros, da vida sonhada feita em gatafunhos
O moinho ouvidor por agora veste-se de plantas húmidas que lhe cobrem a pele
São como carapaças com gotículas de sapiência que o fazem mais forte
E assim acredita ser audaz bastante para acomodar quem os outros repele
Esses revelam tudo e esperam um aconchego, que o futuro lhes traga sorte
É assim há tanto tempo que até o tempo do trigo já não tem sustento
As heras sobre as paredes do velho casebre são como os livros das mercearias
Registam o passado em cada folha e nele esperam o futuro a contento
Nas almas de remedeio que chegaram são a negação do que para ser feliz farias
Armindo Mendes