Olhar que nunca parte
Armindo Mendes
Neste cantinho do mundo estão as minhas raízes…
Neste cantinho da minha urbe, o berço do meu avô, do meu pai.
Foram tasqueiros duros, ali na rua D. João I foram felizes.
Ainda ouço o som das torneiras das pipas do tinto que nas malgas cai.
Olho aquelas portas, agora fechadas, recordo o balcão…
Onde estavam, de pratas coloridas, moedas de chocolate.
Que o meu avô me entrevava na mão…
Que memória incrível daquele olhar que nunca parte.
E aquele cheiro a frito de farinheira, que bom!
Ou de fígado de cebolada em ambiente tasqueiro.
As fêveras quentes no prato, com arroz de feijão…
Sentado, com os manos, em bancos de pau de espaço inteiro.
Vejo o meu avô sentado no cadeirão, já combalido…
A cozinha, das panelas gigantes, no fundo do corredor escuro.
Eu era menino de calção, quatro anos apenas, mas já crescido…
E não sabia, era a última vez que o via vivo, visão que ora procuro.
Outrora, hoje, arrepio ali, sentado no padrão de D. João I…
São tantas lembranças daquelas ruas, daqueles sons de menino.
Da cruz de pedra, dos sinos da colegiada no frio de janeiro…
Hoje é ânsia de querer agarrar o ido, tudo e nada, o destino!
Armindo Mendes