Observo, sem crença, o turbilhão das águas que passam
Armindo Mendes
Que momento grisalho e frio este na beira do riacho que corre, impaciente…
O velho moinho, com eu, longe das venturas do passado, observa, de paredes tristonhas e musgos sem graça, como o rosto que tenho - de olhar molhado -, a chuva miúda que cobre o manto de folhas. Ele e eu, ali, unidos em sentimento!
Sentado na pedra, abrigado pelo carvalho, aconchego o casaco, encolho os ombros e esfrego as mãos trémulas, quase iguais às dela, mas hoje tão frias…
Observo, sem crença, o turbilhão das águas que passam.
Elas, as correntes, passam, como o verão já ido, mas não levam a inquietude do outono que sou agora, às tantas, não sei…
Atrás, aquele maio que palpita na alma, só sei que me sinto um outono meio perdido no vácuo, hoje, das nossas origens, já.
Há muito, sem os cabelos brancos e os olhos ternos dele, agora, os tangos, os boleros e as valsas dela que se calaram, daquele sorriso da mais bela mulher que conheci, a razão de mim!
Fui, hoje homem, ontem garoto, para ali levado, não sei como… Os passos, como na vida, foram acontecendo entre os arvoredos naquele chão enlameado, procurando um não sei o quê, que me aliviasse do desassossego!
Procuro, em vão, o azul do céu, só vejo o cinzento da neblina, sem vento, que vem chegando para cobrir aquele dia, vestido de noite, um de tantos a preto e branco que já vieram e que já foram, sem a força maior de curar a ferida que ficou e tarda em sarar, até ao dia da partida final!