Não queria ser, eu sei!
Não sei o que sou!
Espelho meu, velho ribeiro, estás fosco.
Vejo-te, olho-me, aqui de novo estou!
Quero desenhar-me, mas sabes, sou tosco!
Falta de jeito, há tanto, o meu!
Fito que o tempo me foge do punho.
Grisalho, rugas tantas, sou eu!
Sem brilho, traço este rascunho.
Neste pergaminho vincado…
Outrora sarrabiscos de sonhos.
Hoje cicatrizes do passado…
Até de pensamentos medonhos!
Isso, diz o que sou, que sei que sou.
Que sou o que não queria ser, eu sei!
Sou um não sei o quê, sem estar, aqui estou.
Sem estar, quando fico, não ser o que ousei!
Espelho sem certezas, de acabado gosto...
Vês como estou, sim, no que me tornei!
Baixo a cabeça, pontas dos dedos no rosto…
Saboreio o sal que nesta trama, de novo, escrevinhei!