Deitado nelas, nos braços dos seus cerrados
Banquete de sentidos, furnas de prazer
Há imagens que "valem por mil palavras", diz a frase dos postais... Tenho esta fotografia, registada em 2014, na Ilha do Pico, nos Açores, com vista para a Ilha de São Jorge, a minha “lagarta”, como gosto de lhe chamar, do outro lado do canal de Vitorino Nemésio, retratando uma paisagem que me encantou, a partir de um ponto, na costa norte, de onde, por detrás de flores amarelas, era possível observar os grandes cetáceos, nas suas migrações épicas, aquecido por um sol de fim de tarde que me convidou a ficar ali, olhando… inspirando, vendo as aves marinhas que, graciosamente, pintam o céu azul de pontos brancos, no seu bailado.
Que espetáculo da natureza, que saudades daquela maresia, daquelas ilhas mágicas que, como fajãs gémeas, me enfeitiçam, que me fazem tão feliz quando, sem cansar, as visito amiúde, para nelas ser mais eu, mais livre!
Não consigo dizer qual a mais bela das atlântidas, porque de todas, do Corvo a São Miguel, guardo “visões” extraordinárias no meu banco de memórias sob a forma de hortênsias.
Não são apenas visões, são um tanto de tudo, um banquete de sentidos, picos de prazer, que as minhas palavras, sem jeito, não conseguem narrar, tão pequeninas são face às lagoas de emoções que preenchem a minha alma, como um vulcão, a cada chegada às esmeraldas, lindas de morrer, deitado nelas, nos braços dos seus cerrados, agora, lembrei-me, porque não, no Cume da Terceira, admirando o puzzle de verdes viçosos.
Olhá-las, senti-las é mágico, perdidas no meio do Atlântico, onde gosto de estar, sentado numa rocha basáltica, à beira mar, vendo o sol se pôr, para mais uma noite que o farol de Santa Maria pinta com traços de luz, mar adentro, até à marina da Horta, no Porto Pin, repouso de marujos dos sete mares, como o dos Açores, o mais belo que alguém divino, quem sabe, desenhou um dia.
Velas ao vento, como aquele que agita as altaneiras quedas de águas das Flores, para a América voltadas, no Poço do Bacalhau, o mais extraordinário dos postais que os meus olhos alguma vez contemplaram. Olhei-o tanto, meu Deus!
Sento-me num tronco de criptoméria, na margem da lagoa, a dos Patos, talvez, sinto a humidade no rosto, pedaços de água fresca que da cascata borbulham no ar.
Então, sinto-me como no paraíso, deixo-me levar, sem esforço algum, pelo alvoroço de sons, cheiros, arrepios e visões que os meus sentidos, embaraçados, captam, para um sonho mágico na bruma, ali, numa ilha, não importa qual, dos Açores!