Cone de Vulcano que abraça a lagoa
Pedaços de terra do mar se ergueram para tantos cantares
Hoje “andei” nas Atlântidas, esmeraldas dos lusitanos mares
Porque em quase todas, deixei frações de mim
Nos seus mistérios avistei Açores em longos voares
Como aves que dos cumes veem formosura sem fim
Pedaços de terra do mar se ergueram para tantos cantares
Que inveja não poder voar, planar sobre o verde intenso
Tomar aquela bruma, como navio com maré à proa
Ver bosques encantados de criptomérias e incenso
E o cone de Vulcano que em basalto abraça a lagoa
E o chapéu do Corvo que esconde o caldeirão imenso
Nas águas calmas das Sete Cidades ser peixe e nadar
No azul e verde cálido das lágrimas da lenda
Ter Gorreana com lêvedo para amantes saborear
No Cerrado das Freiras amores obsequiam a oferenda
Ou nas Flores, na Fajã Grande, o sol poente nos deleitar
Abundâncias de prazer descem a encosta em fumarola
E nas poças termais da Caldeira Velha ou Terra Nostra chapinhar
À volta, floresta exótica de aromas de enxofre que consola
Além, o mar beija as negras areias para Neptuno se deleitar
Com as violas de corda da Terceira que choram modas da cantarola
Fajãs belas sem igual, canto maior para cascatas
Cristalinas caem das serranias e fertilizam povoados
Aldeias de casas caiadas ou negras de gentes pacatas
Quintais com muros de hortências guardam bovinos gados
Filarmónicas, casas do povo, para domingos de gravata
Dos vulcões admirar as ilhas da vizinhança em espelho
No azul sem fim, contemplar cetáceos em baile da natureza
No parque saborear queijo de S. Jorge e quiçá verdelho
Mergulhar nas grutas, tubos das lavas há milhões, proeza
Laurissilva densa, árvores até ao céu, em cada concelho
Centenários moinhos de velas brancas são as coroas de terra nobre
Como as prateadas de Espírito Santo, porque a fé ali é eminente
Os faróis hirtos na costa alumiam o que neblina recobre
Alcatra para o almoço, peixe-espada para a janta quente
Inhame e leite, sustento açoriano, que sempre sobra
Praças, fachadas, igrejas coretos, chaminés, jardins dos povoadores
Nas vilas, aldeias e cidades das Atlântidas, tantas joias
Fortalezas, palácios, marinas de gin tónico, velejadores
Nas ruas de história, vemos o Minho, o Alentejo e terras saloias
Sotaques, costumes, doçaria de gentes dignas, as dos Açores!
16 mar 2022