A fotografia com alma, desde pequenino!
Do analógico ao digital
Há meio século, o meu, a paixão da fotografia não se explica, sente-se, como a pulsão de querer registar, muitas vezes sem conseguir, o que captam os nossos sentidos, em cada circunstância, em cada palpitação, em cada fôlego.
É assim, queremos fechar a mão para agarrarmos o que nos rodeia, isso é fotografar!
Os meus olhos são isso, desde menino, espelho da alma, sempre olhando, curioso, vendo, mirando, absorvendo, querendo saber, retratando!
Os momentos são únicos e quando deles gostamos queremos guardá-los na memória, no peito - o nosso baú - e dar-lhes, quando possível, feições, formas, texturas, cores, olhares, expressões de contextos, sentimentos, partilhas… sob a forma de flores, rios, mares, castelos, janelas, praias, montanhas, bosques ou, sobretudo, os viveres das gentes, de outros corpos, como nós, vivendo!
Num “de repete”, olhar algo, uma paisagem, um monumento, um rosto, um céu e querer cristalizar o momento, o sentimento, numa memória digital ou quiçá no papel fotográfico, para todo o sempre, sem cheiro é certo, mas com a alma que lhe quisermos dar quando, simplesmente, fotografamos a nossa memória.
Sou do tempo da fotografia analógica, com cheiro, com química, com tato, com paciência!
Como nesta fotografia com quase 50 anos que fui buscar ao baú, que gozo aquele de “tirar” fotografias” numa máquina analógica, de películas 6X6, sem automáticos, tudo manual, tudo ótica pura, tudo mecânico, sem eletrónica, olhando o espelho da câmara.
“Olha o passarinho”, dizia-se, apontando para o flash Metz, com baterias de água destilada, que projetava um clarão mágico!
Na YASHICAA MAT, a cada 12 disparos, mudar o rolo, como fiz tantas vezes, ajudando o meu pai nos casamentos, desde tenra idade! A recompensa era, mais tarde, uma dose extra de pudim!!!
A foto, primeiro a preto e branco, mais tarde a cores!
Ainda menino, ao lado do meu pai, que explicava tudo, vi nascer muitas fotografias, no laboratório da Foto Nanda!
De uma película de celulose com cristais de prata, conhecida como negativo, para o papel, na tina, a preto e branco, sob uma luz vermelha, no revelador, como que, por magia, do nada, numa folha branca que se ia pintando, até emergir em todo o esplendor, uma imagem!
Que belos momentos, pegar na folha, a 18X24 da Kodak, tirá-la do banho e colocá-la a secar! Ainda sinto aquele cheiro, aquela textura do papel que aparávamos numa guilhotina.
Era tudo uma canseira, tudo manual!
Depois, a revolução da cor. Com sete anos, acompanhei o meu pai, em Linda a Velha, na Kodak, num curso de fotografia a cores. Era obviamente a única criança!
Ali aprendi, rodeado de adultos, os princípios básicos e técnicas de fotografia e de laboratório a cores que ainda hoje me são úteis no mundo digital, por exemplo, quando trabalho, em pós-edição!
No laboratório a cores, trabalhava-se praticamente às escuras.
O tato era os nossos olhos, tudo com muito cuidado, mergulhando as folhas de papel nos três banhos – revelador, branqueador e fixador…
... Que tempos aqueles, sempre ao lado do meu pai, o senhor "retratista", como lhe chamavam, da fotografia, dos retratos, que guardo na minha memória!