Contrastes
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As palavras, como as flores e os sonhos, têm a idade, o tamanho, o tom, o cheiro, a textura, o caminho, o tempo, o idioma e as formas que queiramos!
São peças de Legos universais que, sentados no quarto, de meninos de calções e sandálias em tarde de veraneio vamos montando, de olhos grandes de felicidade, para criarmos carreiros imaginários e castelos encantados, com torres altaneiras e túneis secretos que percorremos em segredo, como nos Pequenos Vagabundos.
E quando a alma não é pequena, os castelos trajam-se com vestes de gala, bordados com linhas de ouro, botões de rosas, punhos de rendas e botins de cristal.
Alaúdes, tambores e flautas tocam em apoteose, abrindo alas… E lá vai o cortejo real, no casario da Rua de Santa Maria, com estandartes, cavaleiros templários de armaduras reluzentes, pajens, trovadores, alquimistas e almocreves para, com cantigas de amigo, dar cor sépia ao mundo de maravilhas que sonhamos fazer parte, num cavalo branco, o Pégaso do Olimpo, com asas de plumas, galopando entre as nuvens, até ao arco-íris do tesouro, onde já lá está o Noddy, de Enid Blyton.
Pelo caminho vemos Vicky, o Viking, navegando com o marinheiro Popeye, nas mil e uma aventuras de Tintim, à procura das cabanas de Tom Sawyer, das traquinices de Scooby-Doo ou atos heroicos de Flash Gordon e Robin Hood, da floresta encantada da Branca de Neve o os Sete Anões, ou dos Estrunfes que a minha memória guarda a sete chaves.
É tudo tão bonito e doce como as manhãs de sábado com o Verão Azul ou intenso como as tardes de Galáctica e Sandokan, e as noites de medo das metamorfoses de Maya, de Espaço 1999.
E o cavalo branco e o seu cavaleiro, qual Zorro, Braveheart ou Lin Chung, galopam entre os nenúfares sobre o atlântico, passando pelo Barco do Amor e Moby Dick, para Oeste, até chegar às Sete Cidades, da Ilha Esmeralda, e ali, escondidos sob dos vulcões, ver os namorados que há tanto tempo choram lágrimas verdes e azuis entre a bruma, formando as duas lagoas infelizes, numa lenda 'NeverEnding Story, existir'!
Na levada do meu bosque, na minha pequena aldeia, aquele sítio mágico onde nos quedamos, de quando em vez, sentados na pedra coberta de musgo, como neste dia de quase outono, de sol apressado, entre a folhagem bronzeada.
Para, sem pressas, fecharmos os olhos e vermos sem olhar o passado, sentirmos o presente e, iris fitadas nas águas que correm para o rio, que vamos penteando com os dedos, instarmos o futuro e revelar-nos se amanhã vai ser como hoje ou se ontem, na alquimia do tempo, já foi e vai passar logo, no ocaso deste dia, ou de outro qualquer do calendário dos desassossegos que as flores de outono ressoam.