Caminhar é bom, mas fazê-lo contemplando paisagens maravilhosas é muito mais enriquecedor, sob todos os pontos de vista.
Partindo da aldeia de Canadelo, caminhei hoje pelas serranias agrestes, mas belas, de Amarante, contemplando os altos e baixos das serras da Meia Via, Marão e Alvão, cada uma com as suas especificidades, mas com um denominador comum: serem tão majestosas perante os nossos sentidos, sobretudo em tempo de primavera!
Foram 12 quilómetros exigentes sob ponto de vista físico, mas compensados por sensações intensas que preencheram as subidas íngremes, por entre pedras de xisto soltas, as descidas agudas ajudadas por flores de montanha, os bosques onde despontavam pequenas cascatas e chilreava a passarada e terminando na bonita levada que nos acompanhou no regresso à aldeia de Canadelo.
Estas imagens tentam, sem sucesso, mostrar o que os meus olhos puderam degustar.
Uma dezena de jovens, de seis países europeus, estão a participar, em Amarante, em ações de voluntariado junto de instituições que trabalham com crianças, idosos e portadores de deficiência.
Os jovens estão alojados, há alguns meses, na Casa da Juventude de Amarante, no âmbito de um programa financiado por fundos europeus.
Durante a semana, jovens de Itália, Letónia, Grécia, Dinamarca, Holanda e Roménia, a maioria licenciados, deslocam-se regularmente a instituições da cidade, nas quais participam em atividades lúdicas e pedagógicas.
Na Santa Casa da Misericórdia interagem com idosos, no Centro Escolar da Madalena, com crianças, e na Cercimarante, com portadores de deficiência. As atividades são programadas com as instituições locais, com o objetivo de proporcionar uma relação de proximidade com os utentes.
“A estratégia da Casa da Juventude é trazer jovens estrangeiros para fazer longas experiências de voluntariado e, através dessas, parcerias com a rede local de instituições de jovens, apoio a deficientes e crianças”, explicou à Lusa, Miguel Pinto, da Casa da Juventude.
O responsável sublinha que este programa de voluntariado europeu “permite dar uma nova oportunidade a jovens que não têm emprego e encontram nesta experiência a possibilidade de desenvolverem as competências e servirem a comunidade”.
Miguel Pinto destaca que os voluntários são ainda “responsáveis por toda a agenda cultural da Casa da Juventude e por darem aulas de português, inglês e italiano, que são gratuitas”.
Uma das atividades que mais tem agradado aos jovens é o apoio prestado, dois dias por semana, ao acompanhamento de crianças, em horário pós-escolar, do centro escolar da Madalena, em Amarante.
Elina Kusiniceva, jovem letã, de 23 anos, com formação na área social, está em Portugal há cerca de oito meses. Naquela escola da cidade, a voluntária disse à Lusa gostar muito do trabalho com crianças.
“Fazemos jogos e falamos sobre a geografia do mundo. As crianças portuguesas têm muita energia para brincar”, afirmou em português.
Sobre a experiência em Amarante, disse apreciar muito o norte de Portugal, "porque tem montanhas".
“Mas também gosto da mentalidade dos portugueses, porque são latinos e muito abertos”, observou.
Também o grego Christos Zervas, de 24 anos, salienta a simpatia dos portugueses.
“Nesta atividade, conhecemos muitas pessoas de idades diferentes. Todos os voluntários são de países diferentes e cooperamos muito para trabalhar juntos para a comunidade”, contou à Lusa.
Na escola da Madalena, os voluntários foram recebidos com entusiasmo. Bárbara, aluna de sete anos, contou à Lusa como é a relação com os jovens estrangeiros: “Acho que é divertido, porque falam outra língua, ensinam jogos e mostram os seus países”.
Pedro, de oito anos, falou do ensino de inglês e das canções estrangeiras que as crianças aprendem graças à presença dos voluntários.
“Também pintamos e jogamos à bola com eles”, afirmou o aluno, entusiasmado.
Já para o presidente da Junta de Freguesia da Madalena, esta atividade no estabelecimento, coordenada pela autarquia, é muito importante para os alunos e para os pais.
“Havia a urgência de usar o tempo de prolongamento com atividades enriquecedoras. Os voluntários trazem uma riqueza muito grande a nível cultural, social e pedagógico”, salientou Joaquim Pinheiro, prometendo repetir a iniciativa no próximo ano letivo.
Percorrer, caminhando, a ecopista do Tâmega, em Amarante, é um momento sempre apetecível.
Para o lados de Gatão e da Chapa, a paisagem é sempre encantadora, com o intrépido rio Tâmega, ali ao lado, ziguezagueando rabugento. No horizonte, o Marão como vigilante atento.
O piso da pista é agradável aos pés, impelindo-nos para caminhar cada vez mais, distraídos pelos bosques que brotam verdes luxuriantes e aromas de mil sensações, só perturbados pelo chilrear da passarada que chama a primavera. E quando ela despontar, então há de explodir com a paleta das cores das flores e os verdes viçosos que cobrem as encomiadas da serrania. E pelo meio, haveremos de atravessar uma ponte de granito sobre uma ribeira e mergulhar num túnel que ostenta o engenho e arte de quem, no início do século, construiu a linha férrea do Tâmega.
Vale a pena experimentar, porque a saúde agradece e a alma dos sentidos também. E vamos esperando que o troço em construção, do lado de Celorico, acrescente ainda mais espanto aos que o hão de percorrer, nas curvas e contracurvas das paisagens de Basto, enchendo as entranhas dos ares puros daquelas bandas.
Dói a alma observar a degradação deste edifício da antiga estação de Gatão, em Amarante, na desativada Linha do Tâmega, que ligava o Marco de Canaveses a Arco de Baúlhe, passando por Amarante e Celorico de Basto.
Este, como outros edifícios abandonados da antiga infraestrutura ferroviária portuguesa, são a marca indelével das opções estratégicas erradas tomadas nos anos oitenta e noventa do século passado.
Os governos de então, desprovidos de uma visão acertada de futuro, desinvestiram na rede ferroviária portuguesa, votando-a ao mais completo abandono e condenando-a ao declínio que mais tarde degenerou no encerramento, de nada valendo os protestos das populações prejudicadas.
Os decisores políticos de então, no Terreiro do Paço, extasiados pela moda do betão e das autoestradas, cometeram um erro grave ao não perceberem a importância económica, ambiental e até social do transporte ferroviário.
Ao desinvestir naquela infraestrutura, que servia quase todo o país, muito em especial o interior profundo, em contraciclo com o que se fazia no resto da Europa, a tutela delapidou um elemento estruturante para o desenvolvimento de tantas localidades, introduzindo mais um fator que concorreu para a fuga da população e a desertificação de vastas áreas outrora servidas pelo caminho-de-ferro e de repente privadas de um meio barato de transporte de pessoas e mercadorias. Cidades como Bragança, Mirandela, Vila Real, Chaves, Fafe e até Amarante, que cresceram durante décadas, em parte, à sombra do comboio, ainda hoje, volvidas várias décadas, não se recompuseram dos impactos negativos da perda do transporte ferroviário.
Não tenho dúvidas que, se tivessem sido feitos, em tempo útil, os investimentos de modernização que se impunham nas linhas, os comboios, porque mais baratos e eficazes, continuariam a ser procurados pelas pessoas.
Teríamos hoje, por conseguinte, uma rede ferroviária nacional competitiva e adequada às necessidades, que contribuiria para um Portugal mais competitivo, menos desigual, com um interior forte, dotado de infraestruturas de transportes competitivas e por isso preparado para resistir melhor da força "centrifugadora" das grandes cidades.
Amarante, de ontem e de hoje, terra de afetos ancestrais, num fim de tarde de janeiro, com tons quentes, intensos, mas contrastantes com uma época própria de arrepios, de vários tipos.
A terceira edição do festival literário Escritaria, em Penafiel, dedicado a Agustina Bessa, começou hoje, data de aniversário da escritora, com uma visita à sua terra natal. Apreciadores da vida e obra da escritora estiveram na casa onde nasceu Agustina Bessa Luís, em Vila Meã, Amarante, faz hoje 88 anos.
Este sábado à tarde alguns, não muitos, é certo, reuniram-se no Largo de S. Gonçalo, em Amarante, para protestar contra as barragens no Tâmega anunciadas pelo Governo.
Eu também lá estive, como profissional, mas, porque não, também dizendo NÃO às barragens que vão alterar profundamente um rio quase selvagem, tão belo.
Estas são imagens de algo que não devia ter acontecido.
Imagens do viaduto de Geraldes, em Amarante, sobre o IP4, que ruiu na quarta-feira passada, matando um inocente, que passava de carro, e ferindo vários operários que procediam betonagem daquela infra-estrutura.
Nós, jornalistas, captamos muitas vezes momentos dramáticos como este, às tantas da madrugada, com um frio que nos enregelava. "ossos do ofício", sem dúvida!
De manhã voltei ao local para, com a luz do dia, perceber melhor a dimensão do que se passara horas antes.
Hoje, em Amarante, o rio Tâmega voltou a assustar, ao subir para o nível mais elevado deste Inverno. Esta tarde a água chegou a atingir a rua mais baixa da cidade, inundando algumas caves, mas por aí se ficou, felizmente. O perigo de cheia na cidade por estas horas ainda não está afastado, mas, aparentemente, o pior já terá passado. Ficam algumas imagens que fui registando com a minha câmara.