Comprar facas novas no Natal – uma pechincha...
Gosto muito do Natal, mas detesto a onda consumista exacerbada associada à época, que entope os centros comerciais e que me provoca uma espécie de claustrofobia compressora da respiração.
Isto apesar de rodeado por milhares de concidadãos que não conheço, afoitos na ocultação da crise, ávidos por aquele presente tão belo na montra da esquina, comprado antes ou depois de uma deliciosa refeição de plástico num restaurante que até oferece o refrigerante da moda.
Mas, porque orgulhosamente vivo numa “aldeia”, há quem, na minha família, ainda vá à feira fazer umas compras, acreditando que lá, por entre pregões e gritaria quase ensurdecedora, se encontram muitas pechinchas. E, diz o meu familiar, pelos vistos encontra-se muitos produtos a preços de arromba…
Ontem, terça-feira, na feira da Lixa – cidade do longínquo interior, apesar de estar a pouco mais de 50 Km do Porto - quase não se conseguia andar, tantos eram os clientes de carteiras cheias de boas-intenções e tantos eram os comerciantes que só aparecem nesta quadra, animados por uma esperança de negócio… Até uns que vendiam umas cutelarias faziam sucesso, com as pessoas, acotovelando-se, para comprar umas facas de cozinha topo de gama mas a preço - dizia-se por lá – de saldo.
Essas facas vão dar mesmo jeito para cortar as lascas de bacalhau cozido na noite de consoada nortenha. Por isso a ânsia da sua compra, que provocava um inusitado barulho metálico que provocava arrepio, provocado pelo entrecruzar de facas, colheres e garfos, todos topo de gama, convenhamos.
Para muitos dos clientes, porém, essas facas não serão suficientemente engenhosas para cortar nos aumentos de impostos que se anunciam todos os dias nos noticiários que nos deixam cada vez mais deprimidos e com vontade de emigrar para outras paragens, fazendo a vontade a alguns dos nossos governantes.
Não ausência de melhor, essas cutelarias vão dar, porém, mais brilho, à noite de Natal lá de casa.