Alienar interioridades incómodas?
Armindo Mendes
Abundam as notícias da falta de médicos em vários concelhos do interior. Essas e outras notícias do encerramento de serviços e valências vão surgindo todos os dias, do Minho ao Algarve.
Engraçado, sem graça nenhuma, esta coisa que se vai passando na dita província, cada vez mais desprovida de serviços, sucumbindo a uma certa forma desumanizada de tomar decisões no conforto de certos gabinetes.
Este é um fenómeno que se me afigura irreversível, por ordem de uma administração centralista, egocêntrica e desprovida de uma visão do país real, que ainda não percebeu que esta política só leva a mais pobreza, a mais desertificação, ora por fuga das populações para as grandes cidades do litoral, ora por via da emigração, cada vez mais a única fuga possível para tanta gente.
Às vezes, dou comigo a pensar que, se a “troika” deixasse, não seria má solução na cabeça de alguns alienar o interior do país, onde só vive, afinal, “gente” da província.
O nosso país ficaria assim, à luz das estatísticas, mais rico ou, bem vistas as coisas, menos pobre.
Mas, acrescento eu, este Portugal ficaria depauperado por esquecimentos injustos de uns quanto burocratas engravatados, que a história há-de de registar como um conjunto de disparates de quem não conhece o país real, o país das grande riquezas ancestrais, das raízes da nossa nacionalidade, mas onde todos os dias, nestas terras distantes, uns quantos lutam contra os estigmas da interioridade, ousando sonhar acreditar que é possível remar contra a maré.
Amanhã Portugal vai ser um país mais pobre, porque interior, nesta Pátria, começa a ser logo que se sai uns quilómetros de Lisboa ou do Porto.