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Eis uma música “maior” que me marcou, na transição da infância para a adolescência, no longínquo e marcante ano de 1983, quando ainda havia o comboio que passava em Fafe e me acordava todas as manhãs quando apitava!
Nesse ano mudara-me, com a família, de Guimarães, minha querida terra natal, para a então vila de Fafe, que me recebeu de braços abertos e onde fui tão feliz!
Esta extraordinária composição harmónica do português Tó Neto, já falecido, reflete uma tendência daquela época, quando a música eletrónica brilhava, para gáudio dos apreciadores, como eu, que se deleitavam com as séries e filmes de ficção científica a preto e branco, como a Guerra das Estrelas, o Espaço 1999 e, mais tarde, já a cores, a saudosa epopeia da Galáctica, que nos reunia a quase todos da nossa geração, cada sábado à tarde, à frente da caixa mágica. Era tão bom!!!
Porque recordar é viver, revisito de vez em quando esta bela melodia, do tempo do analógico LP e das cassetes, ouvindo-a vezes seguidas, de olhos voltados para dentro, em crescendo, para maximizar os sentidos da alma, que se embevece num banquete de arrepios, sorrisos e até lágrimas de saudades dos idos, como o meu querido pai Joaquim e a minha querida mãe Camila, que nos molham o rosto… e cujo sal saboreamos, num estranho exercício de masoquismo... ao qual não resistimos...
Nesses instantes em que estamos calados, ouvindo cada acorde, posso sem dificuldade, em imagens em alta-definição impregnadas numa memória de décadas passadas, regressar a um tempo em que fui feliz, na ignorância… da inocência...
E por lá ficar algum tempo, na varanda da casa dos meus pais, de tronco nu, cabelos longos ao vento, numa tarde de verão, quando, ao lado meu saudoso cãozinho, o Fiel, que afagava, lia bandas desenhadas do Major Alvega e livros das Aventuras do Cinco, enquanto contava os dias para, em setembro, ir para a Póvoa de Varzim, de férias… e ali tomar banhos de sol lendo o Autosport ou o Comércio do Porto, onde mais tarde acabei por trabalhar.
Era uma vida simples, sem luxos, mas repleta de sonhos singelos, de menino que ainda era, quando íamos ao cinema ao domingo à tarde com os amigos, comíamos uma broa de mel no bar do liceu, uma bola de Berlim acabadinha de fazer na padaria do sítio e bebíamos um Sumol fresquinho na esplanada da Arcada, vendo as miúdas passar, para lançar uns piropos sem maldade... rindo sem parar a cada anedota que um amigo contava...
E essas quimeras, nas cores garridas dos 80`s, que nos faziam felizes, foram partindo, corroídas pelo tempo, numa sociedade apressada que foi ganhando espaço nas décadas vindouras, arbitrária, de aparências, sem pachorra para as lamechices dos que, como eu, ousam ser assim… mais vagarosos…
Resta o privilégio de poder, sempre que houver tempo, com o volume que nos aprouver, saborear estas e outras músicas da “playlist” da vida, a minha, de cada um...