Exerce uma espécie de feitiço, aquela montanha, o Vesúvio, cabeça de vulcão sobre Nápoles, para onde acabamos olhando, quase sem querer, temendo, quem sabe, que acorde de um sono ligeiro para, num pesadelo, cobrir a cidade de cinzas, como outrora, em Pompeia!
Subindo uma calçada de Melgaço, de casario austero, à procura do castelo, percebemos uma luminária de linha contemporânea.
Que contraste com as marcas do passado!
Impressões do tempo plasmadas na muralha e na torre de menagem, com as ameias voltadas ao presente, que domina o enquadramento, sobre pedaços de nuvens e fogachos de céu azul, que completam o cenário.
Numa composição de um momento que o fotógrafo desenhou, que a fotografia eterniza, em pedaços do inverno na primavera, nas “trocas e baldrocas” das estações!
Caminhadas nos passadiços, com sabor e cheiro a mar
Caminhando, em boa companhia, desfrutando de todos os prazeres do momento, junto ao mar e às dunas, traz-nos tanto bem-estar que até o sentimos na nossa pele.
Por entre as dunas, na cadência da passada, da conversa sobre tudo e sobre nada, vamos olhando à volta, com o Atlântico fresco da manhã, fazendo magia, atraindo a nossa atenção!
O som das ondas pachorrentas no areal, a brisa suave e morna, de Norte, e aquele cheiro a mar que nos preenche todos os bocadinhos, tudo junto, sem segredos, numa alquimia de sensações, de mãos dadas, as nossas, que guardam cumplicidades, à bolina, até onde o acaso nos levar, sem relógio, só com telemóvel, apenas para ir fotografando cada recanto!
A beleza das coisas mede-se pelo que elas nos transmitem, simplesmente por serem o que são, sem filtros…
Como esta simples flor, embalada pela aragem, no bulir sem pressa, da aldeia… ela dialoga connosco!
Uma flor aveludada no tato, no aroma e na coloração rubi, um verdadeiro maná para os sentidos dos que veem e sentem além do banal, sem tocar nela, só admirar e, quiçá, cheirar profundamente!
Uma sensação além de nós, um exercício de partilha, no peito, com o que nos rodeia, parte de um mundo vivo, maior do que o néon ou o ‘soud bite’ do momento, de outrém, numa tarde qualquer…
Igreja de São Vicente de Sousa numa rota histórica
Há pequenas igrejas românicas, encantadoras, nas aldeias do Tâmega e Sousa, como esta em São Vicente de Sousa, uma joia no concelho de Felgueiras e uma das mais bem preservadas do seu género neste território.
Podemos encontrá-la num vale com bosques, prados e terrenos agrícolas, às portas do rio Sousa, afluente do Douro.
Esta ermida apresenta traços arquitetónicos bem definidos do românico do norte de Portugal, sobretudo o seu pórtico e paredes laterais.
É dos primeiros séculos da nossa nacionalidade e a sua decoração no granito é exuberante, justificando deveras a surpresa e admiração a quem a visita.
Este Monumento Nacional integra a Rota do Românico.
Numa Vila Flor, degustando o prado trajado de Primavera
É mesmo assim, encontramos quase por acaso um momento de felicidade, olhando o campo, as montanhas de curvas suaves, sentados algures em Trás-os-Montes…
Numa Vila Flor, degustando o prado trajado de Primavera… com aragem tépida, de fim de tarde de domingo… de perfumes floridos, em planos cénicos longos, ondulantes, como nos filmes franceses, ouvindo os grilos atrás da ermida de um santo que não me lembro.
Que bom, ainda é grátis, sentirmos momentos assim, de um céu tão azul com pedaços de algodão e um verde que se alonga no fértil planalto da Vilariça, às portas do Tua, terras de olivais e amendoais, onde voam as andorinhas, sobre a vila, para nosso encanto!
Há castelos que nos tocam, como este em Mogadouro, do tempo dos templários, do século XII… uma época de cavaleiros medievais, quando o jovem país ainda se esforçava por se manter independente face às ambições leonesas…
Hoje, o que resta da fortaleza, que é Monumento Nacional, rodeada pela paisagem dourada transmontana, com o burgo aos pés, remete-nos para aquele conturbado período da nossa portugalidade…
Andarmos por lá, sentarmo-nos num muro, num quente fim de tarde, à sombra da árvore, mirando a torre de menagem, é um convite a olharmos o passado que fomos, mas também o presente que somos…
Naquele quase silêncio, refletindo sobre uma simpática vila do interior, com as suas gentes, acossada pelo despovoamento, que luta por se manter viva, orgulhosa da sua história, mas quase erodida pelo “progresso”!
Tanta tranquilidade que até “dói” … neste silêncio...
Em Porto de Rei, terra de cerejais, degustada a deliciosa fatia de uma cavaca de Resende, vemos o cruzeiro fluvial passar, descendo o Douro… entre dois distritos, a norte o Porto (Baião), a sul Viseu (Resende)...
Sentados ao sol, no ancoradouro, com as águas do grande rio aos pés, quase nos apetecer ir atrás da correntia e caminharmos nas águas, ao lado do barco, pachorrento, saudando os turistas de olhos em bico encantados com tanta beleza da paisagem… em todos os idiomas a bordo ou com um universal sorriso de orelha a orelha próprio destas gentes do norte de Portugal…
Coisas simples, assim, se fazem, nem que seja imaginando, entre margens deste Douro Verde, por terras do românico!
Brindemos, pois, com o avesso de Baião, na outra margem!
Barragem de Vilarinho das Furnas, de um azul quase profundo...
Como diz a canção de Paulo Gonzo, “…de olhos bem abertos, percorro a paisagem e guardo o que vejo, para sempre, numa clara imagem…”.
Sim, aqui, neste sítio mágico, uma bênção, um espelho de água, ora de um azul profundo, ora quase turquesa cintilante, estende-se por muitos hectares, rodeado pelas montanhas do Parque Nacional Peneda-Gerês, onde nos sentimos pequenos...
Vilarinho das Furnas, no concelho de Terras de Bouro, foi uma aldeia que acabou submersa, em 1971, com a construção da barragem/albufeira que adotou o seu nome…
Hoje, é um dos recantos mais bonitos de Portugal, um sítio mais entre outros pedaços de paraíso que ainda podemos encontrar naquelas vastas serranias do parque nacional, entrecruzadas com a água fresca de rios e ribeiras do Vale do Cávado…
De câmara fotográfica apontada à paisagem, visitar aquele quinhão tão belo é sempre um prazer que se renova a cada regresso pautado pela vontade de inspirar os ares profundos, cristalinos, que bafejam aquelas latitudes, num sossego que nos acaricia a alma, olhando, como diz a canção, “um manto imenso de água… de um azul quase profundo… um sopro de ar”... do lado de cá da serra...