Olhar o espelho de água do Lima, majestoso, é sempre tonificante, a cada regresso à bela Viana, a princesa do Lima!
Que encantamento de cidade, com os seus cordões de ouro no pescoço das moças na procissão da Agonia, com os seus jardins românticos, com o seu casario antigo, do tempo de mercadores, que parte, beira-rio, caiado de branco, em direção à encosta abençoada por Santa Luzia, sítio mágico de onde a nossa vista alcança tanta terra, tanto mar, tanto areal atlântico, num cenário para fotógrafos à la minuta perpetuarem no papel, a preto e branco.
Esta alma está em cada coração de Viana, essa joalharia sem igual, símbolo de Portugal, ou numa urbe com dotes de poetisa nas quadras que admiramos nos singelos lenços de namorados…onde os erros ortográficos soam a sonetos…ou nos trajes do seu folclore minhoto, o mais alegre deste quinhão de terra espelhado neste estuário de água imensa…
Descer as entranhas do Alvão, nas curvas e contracurvas da estrada, rumo a Mondim, é uma experiência sempre nova, a cada retorno àquele paraíso, nas cercanias da nossa “civilização”…
E depois, parando na berma da estrada, caminhando no trilho acidentado, colina acima, olhando as montanhas, tão imponentes quanto arredondadas, num fim de tarde quase solarengo que aguarda a primavera.
Percebe-se que elas, as montanhas, se alongam, preguiçosas, até outras serranias, como o Marão e a Meia-Via, mas orgulhosas pelos fios de água do Olo, cristalino, que descem, como véu de noiva, em socalcos rochosos, nas Fisgas de Ermelo, até uma poça fresca, com cheiro a resina, coaxar das rãs, milhafres que voam em círculos, num cenário extraordinário da natureza selvagem… que contemplamos, mudos na admiração, imóveis no tempo, sentindo a aragem!
Aqueles bosques abrigados enchem-nos de gentileza, pelas longas vistas de verde nas encumeadas ricas de sombras, e pelas pinhas que vão caindo ao lençol de caruma que cobre os chãos, ao lado da cabana florestal…abrigo de montanha, de tempos idos.
Nas aldeias encravadas na serra, quase sem gente, de telhados toscos, partem os últimos rebanhos que desafiam o futuro, teimando, até que a vontade canse o pastor…