Praia da Falésia - Algarve
Momentos em Fevereiro
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O tango “La Cumparsita” era canção preferida da senhora minha mãe.
Ouvir, ontem, hoje e amanhã esta bela composição musical aproxima-me dela, tantas são as saudades da mulher mais bela, forte, alegre e meiga que conheci.
E a que me conhecia melhor, sem nunca cobrar, sempre presente!
Uma doença brutal, atroz, injusta, tirou-lhe a memória e a chama, levou-a em 2010.
Mãe, dizias que te doía a tanto a cabeça e eu já sabia o que tinhas, mas nada podia fazer para te salvar. Só te fazia festinhas na cara e tu dizias, sorrindo, gostar das minhas mãos, por serem quentinhas.
Ficaram as saudades e as recordações dos nossos mimos, das nossas danças na sala, dos nossos passeios como namorados, na nossa Guimarães, da tua elegância de senhora sempre bem arranjada, do teu maravilhoso sorriso.
E abraço mais sentido da minha vida, que ambos demos, quando o pai partiu!
Lembras? Vestias de negro e eu também.
O luto e o vazio profundo por ambos manter-se-ão até eu partir, também.
Como eu tremia de medo, naquela noite, de maio de 1990, à porta do hospital, meu Deus!
Chorámos tanto, tanto tempo juntos, minha doce mãe, consolando-nos, porque o meu pai e o teu marido partiram!
Anos depois, foste tu, nos meus braços, o teu último fôlego, o teu último olhar, a tua última súplica.
Fiquei a olhar para ti, chorando, até não conseguir mais, quase sufocando.
Tenho tantas saudades do teu colo, do teu regaço, minha mamã!
fev de 2023
(FOTOS: Évora, Alentejo) - FOTO: Armindo Mendes (Direitos Reservados)
A Baía de Cascais, aqui voltei, há uns dias, tantos anos depois…
É um lugar muito especial para mim.
Além da sua beleza e de ser inspiração de um tema musical dos Delfins, que foi uma espécie de hino na minha atribulada adolescência, também ali vivi um dos momentos mais felizes da minha vida!
Foi há muitos anos, quando, com um grupo de amigos, me desloquei ao sul para vermos a Fórmula 1, no Autódromo do Estoril.
Eu estava tão feliz naquele fim de tarde de sábado, regressado do autódromo onde assistira em êxtase aos treinos cronometrados da F1.
Eu era pobre, naquele tempo! Com a minha família passava necessidades, que não esperávamos.
O meu pai, levado pela doença, havia falecido, menos de um ano antes… e tudo mudara, num ápice, para muito pior… um pesadelo, aquele que me transformou para sempre numa pessoa ansiosa.
Mas reuni dinheiro para poder concretizar um sonho de menino, ver a Fórmula 1 e os meus ases do volante.
Como consegui o dinheiro? Com o jeito que herdara do meu pai, que era fotógrafo, filmando casamentos, batizados e comunhões, além de outros “biscates”, como escrever uns textos para jornais, um 'parte-time', à noite, na rádio de Fafe e até servir à mesa de um café, adiando sonhos...
Não me envergonho disso, era um trabalho honesto, que fazia por necessidade, para ajudar a minha família, para que nada faltasse em casa!
Em cascais, há tantos anos, cabelos ao vento, quase sem tostão, sentei neste muro, como uma gaivota, como esta que agora me acompanha!
E então, olhos de menino, voava, via a baía, as suas embarcações de pesca, sentia o cheiro salgado e sonhava com dias melhores…
E naquele areal, abrigado pelo muro, passei a noite dormindo, enrolado num cobertor, com algum frio, porque não havia dinheiro para hotel e outros luxos...
Na manhã seguinte, esfomeado, mas feliz por estar ali, tomei um humilde pequeno almoço na estação ferroviária do Estoril, de onde, moço da "província", assisti ao nascer do sol, na "civilização" da capital.
… A vida deu muitas voltas desde então. Já não sou pobre, graças ao meu trabalho e à teimosia do destino.
Mas ficaram aquelas memórias, a cores pálidas, de um tempo de privações, mas também de momentos felizes, como aquela inesquecível ida a Cascais, terra de gente abastada, que naquele dia foi “palco” de tantos sonhos, num olhar de criança grande, perdido no horizonte, sob um céu azul!
Agora, mãos nos bolsos, olhei de novo... o mesmo mar!
Revi, além, atrás do forte, aquele olhar que lá deixei, sorrindo e cantarolando…
“Na baía de Cascais
Avistei ao longe um barco a arder
Perguntaste porque o sonhava
Olhei ao céu, não pude responder”
Delfins
Que belas músicas e letras compuseram e interpretaram os Barclay James Harvest (BJH) ao longo da sua longa carreira, uma banda que sempre usou o singelo inseto borboleta como seu símbolo, traduzindo a sensibilidade que os seus membros sempre manifestaram com temas que encheram a alma de tantos apreciadores.
Nas capas dos seus discos o nos cenários dos seus concertos não podia faltar a borboleta!
Ouvi-los, nas suas diferentes fases e abordagens estilísticas, proporciona-me um prazer imenso e sempre renovado há tanto tempo, que já nem me lembro!!!
Letras profundas e melodias deliciosas, sobretudo nas suas baladas, são o denominador comum de 30 anos de canções que guardo em dezenas de CDs, DVDs e vinis, uma coleção iniciada na minha adolescência e tão especial quanto a admiração que tenho pela obra da banda.
FOTO: Armindo Mendes
“Child Of The Universe” é uma das composições mais conhecidas dos BJH e uma das mais apreciadas nas suas atuações ao vivo, como esta em Berlim no início da década de 80, "A Concert For The People", um dos período áureos da banda.
Por entre tempestades e tormentas, a caravela logrou escapar vezes sem conta ao naufrágio que Velhos do Restelo da velha urbe lhe pressagiaram.