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Marca d'Água

Marca d'Água

24
Fev23

Lembras? Vestias de negro e eu também!

MÃE


Flor mãe.jpg

O tango “La Cumparsita” era canção preferida da senhora minha mãe.

Ouvir, ontem, hoje e amanhã esta bela composição musical aproxima-me dela, tantas são as saudades da mulher mais bela, forte, alegre e meiga que conheci.

E a que me conhecia melhor, sem nunca cobrar, sempre presente!

Uma doença brutal, atroz, injusta, tirou-lhe a memória e a chama, levou-a em 2010.

Mãe, dizias que te doía a tanto a cabeça e eu já sabia o que tinhas, mas nada podia fazer para te salvar. Só te fazia festinhas na cara e tu dizias, sorrindo, gostar das minhas mãos, por serem quentinhas.

Ficaram as saudades e as recordações dos nossos mimos, das nossas danças na sala, dos nossos passeios como namorados, na nossa Guimarães, da tua elegância de senhora sempre bem arranjada, do teu maravilhoso sorriso.

E abraço mais sentido da minha vida, que ambos demos, quando o pai partiu!

Lembras? Vestias de negro e eu também.

O luto e o vazio profundo por ambos manter-se-ão até eu partir, também.

Como eu tremia de medo, naquela noite, de maio de 1990, à porta do hospital, meu Deus!

Chorámos tanto, tanto tempo juntos, minha doce mãe, consolando-nos, porque o meu pai e o teu marido partiram!

Anos depois, foste tu, nos meus braços, o teu último fôlego, o teu último olhar, a tua última súplica.

Fiquei a olhar para ti, chorando, até não conseguir mais, quase sufocando.

Tenho tantas saudades do teu colo, do teu regaço, minha mamã!

fev de 2023

 

13
Fev23

Agora, mãos nos bolsos, olhei de novo o mesmo mar, na Baía de Cascais

Aqui voltei, há uns dias, tantos anos depois…


Baía de Cascais paisagem.jpg

A Baía de Cascais, aqui voltei, há uns dias, tantos anos depois…

É um lugar muito especial para mim.

Além da sua beleza e de ser inspiração de um tema musical dos Delfins, que foi uma espécie de hino na minha atribulada adolescência, também ali vivi um dos momentos mais felizes da minha vida!

Foi há muitos anos, quando, com um grupo de amigos, me desloquei ao sul para vermos a Fórmula 1, no Autódromo do Estoril.

Armindo Estoril Fórmula 1.jpg

Armindo Estoril Fórmula 2.jpg

Eu estava tão feliz naquele fim de tarde de sábado, regressado do autódromo onde assistira em êxtase aos treinos cronometrados da F1.

Eu era pobre, naquele tempo! Com a minha família passava necessidades, que não esperávamos.

O meu pai, levado pela doença, havia falecido, menos de um ano antes… e tudo mudara, num ápice, para muito pior… um pesadelo, aquele que me transformou para sempre numa pessoa ansiosa.

Mas reuni dinheiro para poder concretizar um sonho de menino, ver a Fórmula 1 e os meus ases do volante.

Como consegui o dinheiro? Com o jeito que herdara do meu pai, que era fotógrafo, filmando casamentos, batizados e comunhões, além de outros “biscates”, como escrever uns textos para jornais, um 'parte-time', à noite, na rádio de Fafe e até servir à mesa de um café, adiando sonhos...

Não me envergonho disso, era um trabalho honesto, que fazia por necessidade, para ajudar a minha família, para que nada faltasse em casa!

Em cascais, há tantos anos, cabelos ao vento, quase sem tostão, sentei neste muro, como uma gaivota, como esta que agora me acompanha!

Armindo Baia de Cascais.jpg

E então, olhos de menino, voava, via a baía, as suas embarcações de pesca, sentia o cheiro salgado e sonhava com dias melhores…

E naquele areal, abrigado pelo muro, passei a noite dormindo, enrolado num cobertor, com algum frio, porque não havia dinheiro para hotel e outros luxos...

Na manhã seguinte, esfomeado, mas feliz por estar ali, tomei um humilde pequeno almoço na estação ferroviária do Estoril, de onde, moço da "província", assisti ao nascer do sol, na "civilização" da capital.

… A vida deu muitas voltas desde então. Já não sou pobre, graças ao meu trabalho e à teimosia do destino.

Mas ficaram aquelas memórias, a cores pálidas, de um tempo de privações, mas também de momentos felizes, como aquela inesquecível ida a Cascais, terra de gente abastada, que naquele dia foi “palco” de tantos sonhos, num olhar de criança grande, perdido no horizonte, sob um céu azul!

Agora, mãos nos bolsos, olhei de novo... o mesmo mar!

Revi, além, atrás do forte, aquele olhar que lá deixei, sorrindo e cantarolando…

 

“Na baía de Cascais

Avistei ao longe um barco a arder

Perguntaste porque o sonhava

Olhei ao céu, não pude responder”

Delfins

08
Fev23

BJH - The butterfly band


Que belas músicas e letras compuseram e interpretaram os Barclay James Harvest (BJH) ao longo da sua longa carreira, uma banda que sempre usou o singelo inseto borboleta como seu símbolo, traduzindo a sensibilidade que os seus membros sempre manifestaram com temas que encheram a alma de tantos apreciadores.

Nas capas dos seus discos o nos cenários dos seus concertos não podia faltar a borboleta!

Ouvi-los, nas suas diferentes fases e abordagens estilísticas, proporciona-me um prazer imenso e sempre renovado há tanto tempo, que já nem me lembro!!!

Letras profundas e melodias deliciosas, sobretudo nas suas baladas, são o denominador comum de 30 anos de canções que guardo em dezenas de CDs, DVDs e vinis, uma coleção iniciada na minha adolescência e tão especial quanto a admiração que tenho pela obra da banda.

Borboleta foto.jpg

FOTO: Armindo Mendes

“Child Of The Universe” é uma das composições mais conhecidas dos BJH e uma das mais apreciadas nas suas atuações ao vivo, como esta em Berlim no início da década de 80, "A Concert For The People", um dos período áureos da banda.

 

 

 

06
Fev23

Diário de Bordo


caravela2.jpg

Por entre tempestades e tormentas, a caravela logrou escapar vezes sem conta ao naufrágio que Velhos do Restelo da velha urbe lhe pressagiaram.

 
Alguns anos volvidos sobre o desembarque, numa enseada de águas calmas, a bordo de uma embarcação tipo “casca de noz”, partiu-se para uma “epopeia”com muitas milhas para contar e poucas bolinas com que contar.
 
No horizonte, desenhava-se, primeiro o Bojador, depois o desconhecido...
 
As nossas velas latinas e quilhas, escudadas na perseverança, foram suficientemente robustas para resistir aos ventos e vagas de estibordo e bombordo.
 
À proa ou à ré, fomos hirtos para com os povos hostis. Fomos hospitaleiros para os bons que nas praças onde atracávamos, também como nós, acreditavam, tinham a fé, de que, depois da tormenta, aconteceria a bonança.
 
Na espuma dos dias, “armados” de astrolábios que nos apontavam o rumo certo, com alguns desses enfrentámos o Adamastor, vencemos o Cabo do Medo e acreditamos no Cabo da Boa Esperança.
 
Nunca esta humilde, mas honrada tripulação se considerou em cruzada contra uns quantos “piratas”. Nunca nos mares agrestes, nos cabos mais temíveis, nos ousamos considerar invencíveis ante a armada que se julgava, essa sim, invencível.
 
Nas batalhas que travámos, em nome de princípios, quantas vezes isolados num mar imenso, temores nos quiseram impor, canhões de Norte e de Oeste sobre nós cuspiram fogo e garrotes nos quiseram asfixiar.
 
Mas, à proa desta caravela, cerramos punhos, resistimos, navegámos, acreditando sempre num novo amanhecer para lá do horizonte.
 
Vencido o Adamastor, a nossa epopeia assentou âncora em porto seguro, para dar descanso a mastros e casco desgastados.
 
Nesta praça de bonança, da nossa barca partiram para destino certo os que, a bordo, connosco, na nossa esteira, ousaram vencer o Cabo das Tormentas.
 
Esses, por vontade do destino, foram chamados.
 
Dos novos “regedores” da plebe, agora conhecidos aquém e além mar, por tão heróico feito, se esperava muito.
 
Tanto da sua torre de menagem que um dia, escribas do futuro, os relatassem merecedores de honrarias pelos tributos prestados aos plebeus.
 
Recolhidos os bronzes que um dia histórico retumbaram sobre a armada invencível, para gáudio de uns quantos, no convés desta barca mantém-se quem, agora como dantes, acredita nas virtudes de um leme robusto.
 
A bordo, saradas as feridas, desfrutou-se finalmente o gozo de um novo raiar.
 
Mas os vivas à nova aurora foram calados por murmúrios na velha e altaneira torre acometida de inusitada deslembrança.
 
Pois reza esta estranha crónica que, na casca de noz, levanta-se agora a âncora, reerguem-se as velas ao vento, presas por cordas dos que acreditam que vale sempre a pena enfrentar mesmo as mais ingratas das tormentas humanas.
 
Como das outras vezes, logo que suba a maré, há que retomar a viagem, à descoberta de destinos, de ventos alísios.
 
Para lá ou para cá da linha do horizonte?
 
Só o correr dos dias, desta maresia, estranhamente tardia, há-de esclarecer.
 
Para trás ficam os humildes de tempos idos, investidos agora de honrarias “muy” grandes.
 
Bem sabemos que nos esperam novos promontórios, mares baixios ou águas tumultuosas que só timoneiros calejados por batalhas passadas poderão bordejar, na descoberta, quiçá, de novos portos seguros.
 
Diz o trovador que cartas náuticas repousam num baú no fundo do convés. Nessas, com tinta da china, ficaram registadas as rotas que um dia honrosamente gizámos por “mares nunca dantes navegados”.
 
São caminhos marítimos e destinos que um dia esta barca, se chamada por faróis de alarme, pode retomar para ajudar a vencer novos adamastores.
 
Para já, desfrutemos destes dias de névoas calmas, navegando à bolina do destino, que vamos carteando neste diário de bordo…
 
Armindo Mendes, a 16 de janeiro de 2010

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