“Once Upon a Time in the West” é uma das grandes músicas da banda sonora do ‘Western’ com o mesmo nome, realizado em 1968, por Sergio Leone, com banda sonora do inesquecível Ennio Morricone.
Esta composição musical, que tem muitas versões, é uma das mais belas melodias alguma vez criadas por um ser humano, na minha humilde opinião.
Esta versão, interpretada por Benedetta Caretta, está entre as mais bem conseguidas, para ouvir muitas vezes e deixarmo-nos ir até onde a alma de um mortal quiser, quem sabe: Era uma vez no Oeste.
Há imagens que "valem por mil palavras", diz a frase dos postais... Tenho esta fotografia, registada em 2014, na Ilha do Pico, nos Açores, com vista para a Ilha de São Jorge, a minha “lagarta”, como gosto de lhe chamar, do outro lado do canal de Vitorino Nemésio, retratando uma paisagem que me encantou, a partir de um ponto, na costa norte, de onde, por detrás de flores amarelas, era possível observar os grandes cetáceos, nas suas migrações épicas, aquecido por um sol de fim de tarde que me convidou a ficar ali, olhando… inspirando, vendo as aves marinhas que, graciosamente, pintam o céu azul de pontos brancos, no seu bailado.
Que espetáculo da natureza, que saudades daquela maresia, daquelas ilhas mágicas que, como fajãs gémeas, me enfeitiçam, que me fazem tão feliz quando, sem cansar, as visito amiúde, para nelas ser mais eu, mais livre!
Não consigo dizer qual a mais bela das atlântidas, porque de todas, do Corvo a São Miguel, guardo “visões” extraordinárias no meu banco de memórias sob a forma de hortênsias.
Não são apenas visões, são um tanto de tudo, um banquete de sentidos, picos de prazer, que as minhas palavras, sem jeito, não conseguem narrar, tão pequeninas são face às lagoas de emoções que preenchem a minha alma, como um vulcão, a cada chegada às esmeraldas, lindas de morrer, deitado nelas, nos braços dos seus cerrados, agora, lembrei-me, porque não, no Cume da Terceira, admirando o puzzle de verdes viçosos.
Olhá-las, senti-las é mágico, perdidas no meio do Atlântico, onde gosto de estar, sentado numa rocha basáltica, à beira mar, vendo o sol se pôr, para mais uma noite que o farol de Santa Maria pinta com traços de luz, mar adentro, até à marina da Horta, no Porto Pin, repouso de marujos dos sete mares, como o dos Açores, o mais belo que alguém divino, quem sabe, desenhou um dia.
Velas ao vento, como aquele que agita as altaneiras quedas de águas das Flores, para a América voltadas, no Poço do Bacalhau, o mais extraordinário dos postais que os meus olhos alguma vez contemplaram. Olhei-o tanto, meu Deus!
Sento-me num tronco de criptoméria, na margem da lagoa, a dos Patos, talvez, sinto a humidade no rosto, pedaços de água fresca que da cascata borbulham no ar.
Então, sinto-me como no paraíso, deixo-me levar, sem esforço algum, pelo alvoroço de sons, cheiros, arrepios e visões que os meus sentidos, embaraçados, captam, para um sonho mágico na bruma, ali, numa ilha, não importa qual, dos Açores!
Hoje, era quase noite. O casario e ao fundo, no cimo da montanha, a Penha iluminada, numa miragem sem igual, aos meus olhos, de desventurado observador.
Acometido por maleitas do tempo, buscando uma farmácia, parei o carro e, sozinho, subi a avenida, aquela do Conde de Margaride, de tantas memórias, no meu berço, com a escola, ao cimo, a “Chico” de Holanda, onde o menino que fui se fez homem, eu!
Voltei o olhar e lá estava aquele varandim, hoje, às escuras e em silêncio, mas outrora com tanta luz, tantas histórias, tantas ilusões de outros como eu.
Apertei o casaco, fazia frio de janeiro. Mãos nos bolsos, ia subindo a rua, sem pressa, olhando as pessoas que, saindo dos empregos, num fim de tarde chuvoso, como os outros, passavam por mim, sem me verem, correndo para os autocarros, alguns com destino a Pevidém, a minha terra, de tantas recordações, de calções e sandálias.
Parei, sorrindo para mim, apeteceu-me subir e viajar no autocarro com essas pessoas para lá, sentado ao seu lado, dizer-lhes, com orgulho: sou de Pevidém, sou um de vós, vamos conversar!
Que sensação esta de nos vermos, vezes sem conta, chamados para o local onde nascemos, para as nossas origens, só porque sim. E chegados, in loco ou em imaginação, nos sentirmos aconchegados, só por estar junto ao coreto.
Caminhar na minha Guimarães, da minha meninice, da minha adolescência, é um exercício encantador, renovado, sem parar, que não consigo descrever, por palavras! Talvez só por palpitações, sob a forma de bandeiras com cruzes azuis na torre do castelo.
Passar na padaria da Paio Galvão e cheirar aquele aroma a pão quentinho, a trigos de Padronelo que nos convidam a entrar e saborear.
Olhar as montras das lojas da rua de Santo António, que já podia ver quando menino, que resistem ao tempo, como aquelas pastelarias que exibem os seus mil-folhas que tanto gosto, acompanhados de Coca Cola, sabe-se lá porquê, ou as tíbias da Ribela, singulares no sabor.
E fitar o que foi a praça da cidade, onde o meu pai, comigo pela mão, comprava os produtos para abastecer o seu café, como os tremoços para os finos ou polvo fresco, que me impressionava.
Ou numa das portas da vila, aquela casa que vendia e ainda vende café. No passado, nos idos 70`s e 80`s e hoje ainda de lá brota aquele cheiro único a café, que privilégio, numa montra sempre arranjada com lotes da melhor qualidade que brilham ao néon.
À frente, no Toural, perto da varanda onde um dia discursou Mário Soares para a multidão, o Milenário, o café das torradas maravilhosas, com a minha mãe, muito perto da casa dos chapéus, na Alameda. Do outro lado da praça, o pequeno café que servia bolas de Berlim, com um sabor que nunca mais encontrei.
Tantos sítios, tantas festas de Santa Luzia, os sinos de S. Pedro, no Toural, tantos cheiros a bacalhau frito dos tascos, tantas ruelas com cortinas que abanam aos ventos, tantos becos com sacadas floridas, tantas pracetas de japoneiras e amores perfeitos, tantos recantos de cavaleiros medievais, tantos natais, tantas páscoas, como subir as Escadinhas e ir à Feira do Pão. E lá, com o seu casario que me encanta, lembrar o pregão das mulheres que das canastras à cabeça vendiam carapaus e parar para ver a loja que outrora exibia a bola de futebol do Mundial de 1982, que eu namorei tanto, tanto tempo, na montra, até um dia a comprar, esvaziando o meu porquinho das gorjetas!
E o Chico das Novidades, na Rua da Rainha, onde comprávamos os livros escolares, não longe da Praça da Oliveira, de onde eu podia ver a bicicleta vermelha maravilhosa, parada à porta, que já me conhecia dos momentos sem conta em que eu passava diariamente em direção à escola de Santa Clara, parando junto dela, cobiçando-a. A loja também vendia pessebricos!
Um pouco à frente, outra montra com paragem inevitável, porque exibia relógios eletrónicos que me fascinavam… quase como os que eu via no Caminho das Estrelas.
E eu era um menino como os outros, mas uma criança tímida, que escrevia coisas com um olhar diferente, quase de poeta, quiça precoce, que esboçava numa folha de papel ou no pátio da minha casa as entranhas da minha cidade e sabia de cor os nomes das ruas, dos bairros, das igrejas, dos museus e tantas outras coisas que me fascinavam, numa urbe com tantos sumos, com sotaques lindos para ouvir.
Nos meus sonhos, os meus carrinhos percorriam a minha Guimarães em miniatura, os meus cowboys e soldadinhos, em tantas aventuras, que eu inventava, ao estilo Balada de Hill Street, Uma Casa na Pradaria ou Barco do Amor, em momentos que, à minha maneira, quase sempre sozinho, eram tão felizes, sem eu saber.
Adormecer nas memórias do meu berço é mágico! Hoje dormitei por lá um bocadinho e foi bom!