Tato, poder alma de outrem afagar; Tato, dedilhar-lhe o coração; Tato, olhos sem brilho enxugar; Tato, abraço de pai em rebento filho; Tato, percorrer pele sem destino, volúpia; Tato, cama sôfrega ou dar a mão!
... dos dedos agitados do guitarrista, da subtileza que afaga a harpa, da voz do tenor que se ergue para lá do comum-mortal, do requinte do xilofone ou do sopro de prata do trompetista transpiram ecos, como os gemidos do violino e os graves da bateria que calam o silêncio da superficialidade, como a pena do escritor que rabisca à luz da vela com palavras de narrativas uma folha branca, para a transformar num soneto de belas rimas ou numa ode ao deleite dos sentidos, da contemplação, da imaginação de contextos, de amores arrebatadores, que até as telas de cinema obsequiam em grandes produções que só a sétima das artes ousa fazer, num clímax de emoções, até onde a chama houver...
Saborear sem pressas, à bolina de acordes gourmet de guitarra, cordas em flor, à beira rio, nos dias cinzentos, de meia luz…
Das chuvas que choram nos prados, nas folhas de outono que chocalham terras ressequidas das estivas, nas noites vigilantes que não dormem…
Nos instantes das memórias, do rastro que atrai o poeta ao limbo da alienação, no ontem, hoje e, fogachos de quartzo de amanhã…
Borrifados numa pauta de neblinas, como rescaldos à ré, de refregas por ousar, à espera de respostas que calem o desassossego…
De gritos mudos, do tempo finito, outrossim, vendo de olhos fechados, as calhas do silêncio, qual homem, como qualquer que respira…
Que sente o pulsar nos punhos, nas palmas quentes, apertadas, para agarrar tanto, de coisa alguma, que, como disforme, preenche a senda dos desventurados… quase poetas, como o que vejo ao espelho grisalho pelo tempo…
Só porque, talvez, passo por aquele cabo ventoso, de trovadores, onde na rocha me sento, calado, ante o traço de sol entre nuvens, qual flama que esquenta os sentidos…
Sem ver, aos pés do farol alto, ouço alaúdes na pele, cantigas de amor da Galiza, da Celtibéria, nossa “mátria” ancestral, que “cousa axim”, no regaço do alvarinho, tanta embriaguez como em Finisterra…
Fim do “camiño” de Santiago, onde repousam as solas gastas de tantos passos cumpridos com cajados, nas cercanias e lonjuras, ao pé da maresia e nas penhas dos “loivos”…
Imagino atrás do “Xurez”, em contraluz, um gaiteiro celta tocando melodias de outrora, belas sem fim, que ecoam em avalanchas das “Rías Bajas” até à Torre de Hercules, na Coruña, da luz romana que apaga as trevas, mar adentro…