Está frio lá fora , fecho a janela!
Acendo o lume para me aquecer!
Aconchego-me no sofá, com manta de flanela…
Ligo o Hi-Fi para meu consolo poder ter.
De pijama e pantufas, olho em frente.
Levanto o volume da balada que escolhi!
Fecho os olhos, arrepiado, o som é quente.
Vibro dentro de mim, viajo por aí!
Na vidraça beija a chuva em pedaços…
Que goteja lenta , vê-me aqui.
Ela e o vento são riscos, são laços…
Do que sinto, mas não pedi.
Está quentinho, é bom!
Neste casulo de fugida , protegido!
Deixo a melodia fluir, saboreio o som…
Desligo, deixo-me adormecer, sentido!
Não sei o que sou!
Espelho meu, velho ribeiro, estás fosco .
Vejo-te, olho-me, aqui de novo estou!
Quero desenhar-me, mas sabes, sou tosco!
Falta de jeito, há tanto, o meu!
Fito que o tempo me foge do punho.
Grisalho, rugas tantas, sou eu!
Sem brilho, traço este rascunho .
Neste pergaminho vincado…
Outrora sarrabiscos de sonhos .
Hoje cicatrizes do passado…
Até de pensamentos medonhos!
Isso, diz o que sou, que sei que sou.
Que sou o que não queria ser, eu sei!
Sou um não sei o quê, sem estar, aqui estou.
Sem estar, quando fico, não ser o que ousei !
Espelho sem certezas, de acabado gosto...
Vês como estou, sim, no que me tornei!
Baixo a cabeça, pontas dos dedos no rosto…
Saboreio o sal que nesta trama, de novo, e screvinhei!
Ponte de Arame, sobre o rio Tâmega, ligando os concelhos de Amarante (Rebordelo) a Mondim de Basto. Por outras palavras, ligando os distritos do Porto (margem direita) e Vila Real, ou as antigas províncias do Douro Litoral e Trás-os-Montes.
Trata-se de uma travessia pedonal, recentemente recuperada, muito apreciada nas belas caminhadas que se fazem por uma zona encantadora, na Serra de Meia Via.
Deusa da noite és
Lua minha, voltaste !
Bela és, neste céu escuro.
És ponto de luz, que procuro!
Auréola celeste em mim realizaste.
Lua, deusa da noite és!
Presença maior no Cosmos de tantos.
Dos contentamentos ou de prantos
Estrelas confessam aos teus pés.
Uma noite mais com o teu perfume!
Servo sou ao teu encantamento.
Detenho-me, olhando-te no firmamento !
Até ao amanhecer, tanto queixume.
Diva de quimeras, de trovadores!
Alumias caminhos do labirinto.
Porém teu brilho hoje sinto!
Audaz para os sonhadores.
Pela madrugada, esperar.
Sei que partirás, mas voltarás!
Nos sonhos de pérolas estarás.
Olhos abrem, acordar, acreditar !
Há dias, quando conduzia ouvi este tema no carro, numa rádio local. Foi fantástico recordar de novo! Subi o volume e ouvi cada segundo com prazer imenso, algures entre Penafiel e Amarante. É um tema fantástico dos Alcoolémia, de 1999, com arranjos lidíssimos e uma letra muito especial, para ouvir muitas vezes seguidas, como eu faço!
Permite recuar no tempo, lembrando quando tudo era analógico, do mundo em que cresci!
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Aqui para ouvir no Spotify, com excelente qualidade de som:
Alcoolémia "Até onde posso ir"
Quase noite neste bosque agridoce …
Troncos de árvores são formas escuras.
A lua já se ergueu, no seu despertar precoce…
O sol levou do dia curto, as agruras.
Carvalhos assustadores, nada sublimes…
Formas fantasmagóricas nas folhagens.
Aves noturnas com sonidos, como nos filmes…
De dia tão belo, agora sem fulgência, as imagen s!
Meus passos repisam outono, nas folhas
Aperto o casaco, faz aqui frio!
Olhos escuros, nesta escuridão de escolhas …
Quando das copas cai forma de arrepio.
Avança-se no trilho sombrio!
Ouve-se a levada, conheço-a, ela vai.
O moinho também, além, que a noite já cobriu …
Olhar à volta, medo, a coragem que se esvai.
O manto de penumbra cobriu o meu cabelo.
Mãos nos bolsos, busco o foco salvador…
Vais ajudar-me no caminh o, quero vê-lo…
A luz corta a noite, mas não certo ardor.
No estradão, ao pé da aldeia, volta a luz fria.
De costas ao bosque, é sem glória esta claridade !
Olho o resto de sol que se perde na serra que cobria…
Regresso ao mundo seguro, quase verdade!
O filme Pearl Harbor, de 2001, realizado por Michael Bay, com música de Hans Zimmer, é um dos filmes da minha vida, por várias razões, sobretudo por ser uma película de época, que retrata um acontecimento histórico marcante da segunda guerra mundial (1941).
O enredo é lindíssimo, cruzando os factos históricos com uma história de amor a três (dois pilotos e uma enfermeira da Marinha) que contagia os espetadores, mas com um fim que corta o coração!
O filme tem uma fotografia extraordinária, contando com uma banda sonora lindíssima, do incrível Hans Zimmer, que me encanta desde o dia em que vi e ouvi numa sala de cinema.
Adquiri, pouco tempo depois, o DVD do filme, que ainda preservo na minha coleção.
Em determinados momentos, revisito o filme e é quase sempre como se fosse a primeira vez!
Tão bonito!
Aqui fica o tema maior: "Tennessee", na sua versão original.
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E também nesta versão, mais recente, muito bem conseguida, do violoncelista Hauser.
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Neste baloiço vejo o Tâmega belo, com vida!
Neste baloiço olho as curvas do meu rio.
Neste baloiço de altos e baixos, pendores de vida.
Neste baloiço inalo paz, sem angústias a fio !
Neste baloiço o brilho é quente.
Neste baloiço sinto aroma silvestre.
Neste baloiço contemplo a aldeia de gente .
Neste baloiço admiro o silêncio agreste.
Neste baloiço não quero pensar!
Neste baloiço com brisas frescas tamanhas.
Neste baloiço ouso salitrar, voar!
Neste baloiço abraço tantas montanhas !
Chorar ao ver folha que desce.
Chorar quando apetece.
Chorar repisando passados.
Chorar memórias aos bocados .
Chorar na alma a chover…
Chorar no coração a verter!
Chorar no olhar dentro, fora …
Chorar no existir, agora!
Chorar no andar nas memórias…
Chorar no sentir pedaços, histórias…
Chorar é sal sobre ferida .
Chorar é arrepio de dor sofrida!
Chorar é ver perto o ausente.
Chorar é provar dor diferente!
Chorar é ver despedida que sacode .
Chorar é abraçar quem não se pode!
Chorar é clamar sem voz .
Chorar é escrevinhar por nós.
Chorar é verso de rima incerta.
Chorar é tingir dor que aperta!
Chorar é agarrar sem apertar…
Chorar é abraçar sem estar!
Chorar é carga no peito
Chorar é gritar sem efeito !
Chorar pranto à luz da lareira!
Chorar em dia de bruma na eira!
Chorar é ápices que tive!
Chorar é suportar o que se vive !
Ò S. Martinho de Tours venerado em Arrifana de Sousa…
Há tantos séculos desta urbe, hoje Penafiel, és padroeiro.
A lenda diz que agasalhaste o pobre, tão honrada essa “cousa”…
O teu andor a 11 de novembro pelas ruas aqui vê o povo inteiro.
Na Matriz a imagem gasta por séculos todos atrai …
Imensa fé de romeiros e até não crentes respeitosos são.
Imemoriais multidões de preces, alegria de quem vem e vai…
Até o vinho novo provar, com castanhas assadas, que animação!
Baco é nestes dias o Deus clássico que se junta à festa…
Não faz mal, comer rojões, iscas e tortas do padroeiro.
Juntos, com a caneca na mão que barrigas atesta…
Concertinas, braguesas e cavaquinhos para baile de casado e solteiro!
Aos magotes cantam alegremente nas ruas, praças e vielas.
Apinhadas do povo nobre de Penafiel e outras redondezas…
Que bonito na avenida moças e moços a comprar castanhas e até panelas.
Alguns, ainda, com bigodes de vinho, testemunhos de proezas.
Ao sol ou à chuva, tudo se vende, tudo se compra no nosso S. Martinho…
Mas as samarras e até as tamancas são as mais procuradas.
Preparo para o inverno que chega com um agasalho quentinho…
Nas tendas, apregoam-se os melhores preços com ladainhas cantadas.
O cheiro a castanha assada é uma perdição, por estes dias deliciosas!
No feriado, filhos da terra encontram-se na Ajuda, alguns de garrafão.
Quentinhas e boas, as rainhas, à volta da fogueira, são tão saborosas…
Na tenda, com malga de vinho novo que colora lábios de animação.
Vamos à festa em família, como os avós dos avós, diz a canção…
É tradição, porque somos de Penafiel, gente de coração de dar.
Povo de alma maior que, como o S. Martinho, oferece o seu pão…
Alegres, queremos ser em convívio, neste dia, ao padroeiro louvar!
Será d`ouro o que olho?
Ponto luz atrás, é folhagem ?
Que dá o brilho que escolho…
Sem querer, eu grato nessa bela imagem.
Abro os olhos fechados , abraço o espírito…
Para no peito afixar cada nuance, cada raio.
Inspiro, saboreio cada fitar, sou do brilho súbdito…
Para meu espírito clarejar, ao colo caio!
Ver ouro luz em mim …
Segredar sem delongas, nem mordaças.
Porque é gula querer tanto assim…
É sentir, saborear, o quanto faças !
E olhar para poente, indo atrás do Sol que corre para o mar…
À espera da Lua! E na encosta, os tapetes de flores sem fim.
Os gados que rodeiam a capela, onde se quer ficar…
Onde existe um solitário banco de pedra para descanso em mim.
Tantos suspiros no sopro fresco de lá do Marão…
Como o verão que aquece, apetece abrir e enlaçar tudo!
É tatuagem cravada no colo para memória, naquele quinhão,
Algo encantador, imponente, na nossa insignificância que ali saúdo !
Com as estrelas, a hora de partir vai de chegar,
Até lá, não se pare de sonhar, desça-se o trilho da aldeia.
Para encontrar o avô e a avó de alguém e medronhos provar,
Guardiões de outras vivências da serra, sapiência que encandeia.
Sabedoria aquela dos avós dos nossos avós…
E o velho pastor que encaminha as cabras, como outrora.
Que traz de um passado, lá do baú, na colina do tempo,
Um mundo que ouso sonhar : é nosso pelo tempo fora!
No pico da montanha dos sonhos, inspirando fundo !
Olha-se o horizonte, vêem-se as serranias em redor e, acreditar , o rio solitário no sopé.
E o silêncio só perturbado pelo fresco entardecer ou pela real águia que observa dos céus do mundo .
Eis o Marão de pintores, poetas e corações cravados em amarantinas violas , belo que é!
Armindo Mendes
Dias curtos chegaram , opereta de tons marrom, nas folhas caídas, ao vento levadas, nas escarpas onde se erguem fernandinas muralhas...
As folhas são carpetes de pontos de bronze , como a ponte dos comboios a vapor ou paço de glórias idas, estendidas, escadas abaixo.
Ali, o sol apressado nos telhados toscos , casario das ruas de granitos do tempo, paredes cobertas por mil falhas...
Com artes dos pretéritos, os das mil e uma culturas, para – invictas e juntinhas - se espraiarem no colo do Douro , como uvas em cacho.
E as folhas outono , com timidez de cobre e toque estaladiço, flutuam, em cardume, olhando as pontes, os rabelos barcos...
Mirando a românica sé, altaneira, na colina, até provarem o sal, no Castelo do Queijo de marinheiros .
As folhas hão-de voltar viçosas, quando a primavera acordar, em gesto de esperança para júbilo de fortes e fracos …
E nos palácios de cristal de nós todos proporcionarem fresco ar, na sombra em piqueniques sermos na alma, os primeiros .
A vida faz-se caminhando, diz-se por aí…
E que caminhos são esses nos acasos tão tortuosos?
São rumos dúbios, súbitos, para onde parti…
Ilusões, suposições, quiçá delírios, passos fragosos.
Largar zona de conforto e atentar no desconhecido…
À espera de encontrar, no desencontro, não sei o quê.
Momentos, no vácuo, fecha-se a porta, abre-se ao aparecido
E sentir-se lá seguro na tibieza de perguntar o porquê?
O caminho é entroncamento de intuições a perder de vista.
Mas uns querem percorrer a tamanha leva de se ter.
Vão fruindo o ápice, sem saber, a conquista…
E logo, ventura nas mãos, olhar atrás, deter, sofrer!
Ver que a leva, os rumos dúbios, angústia trouxeram…
Assumir padecimento para outrem que ficou.
Algum egoísmo foi aquele que lágrimas fizeram…
Agora, amálgama de remissões, caminho de sentido trocou...
Neste cantinho do mundo estão as minhas raíze s…
Neste cantinho da minha urbe , o berço do meu avô, do meu pai.
Foram tasqueiros duros , ali na rua D. João I foram felizes.
Ainda ouço o som das torneiras das pipas do tinto que nas malgas cai .
Olho aquelas portas, agora fechadas , recordo o balcão…
Onde estavam, de pratas coloridas , moedas de chocolate.
Que o meu avô me entrevava na mão …
Que memória incrível daquele olhar que nunca parte .
E aquele cheiro a frito de farinheira , que bom!
Ou de fígado de cebolada em ambiente tasqueiro .
As fêveras quentes no prato , com arroz de feijão…
Sentado, com os manos, em bancos de pau de espaço inteiro .
Vejo o meu avô sentado no cadeirão, já combalido …
A cozinha, das panelas gigantes , no fundo do corredor escuro.
Eu era menino de calção, quatro anos apenas, mas já crescido …
E não sabia, era a última vez que o via vivo, visão que ora procuro .
Outrora, hoje, arrepio ali, sentado no padrão de D. João I …
São tantas lembranças daquelas ruas, daqueles sons de menino .
Da cruz de pedra, dos sinos da colegiada no frio de janeiro…
Hoje é ânsia de querer agarrar o ido, tudo e nada, o destino!
Armindo Mendes