'Missing You' é um dos temas escritos, a solo, por Les Holroyd, um dos dois compositores dos Barclay James Harvest (BJH), a banda britânica que surgiu no final da década de 60 do século passado e teve mais de 30 anos de carreira, com dezenas de discos gravados, terminando em meados dos anos 90, com o álbum "River of Dreams".
Les Holroyd, que era o baixista e um dos vocalistas, continuou, felizmente, a atuar ao vivo com um grupo de músicos e, sobretudo, a compor músicas belíssimas, como esta que ouço tantas vezes, com uma sonoridade e uma letra que nos colocam, sem esforço, na atmosfera das emoções dos Barclay James Harvest, a banda da minha vida, que ouço, sem cansar, desde os tempos da minha adolescência.
As palavras têm o tamanho e as formas que queiramos dar-lhes.
São como peças de Legos que, sentados no quarto, de meninos de sandálias, vamos montando de olhos felizes, para criarmos castelos encantados, casas de bonecas, de príncipes e princesas...
E quando a alma do artífice não é pequena, os castelos trajam-se com vestes de gala, bordados com linhas de ouro, e bandolins medievais ali tocando, para, em apoteose, abrir alas a um cortejo real, com trovadores, alquimistas e almocreves que dão cor sépia ao mundo de maravilhas que sonhamos fazer parte, num cavalo branco, o Pégaso do Olimpo, com asas de plumas, até ao fim do horizonte...
... ele chegou sereno, protegendo os olhos da luz de outono, de um cair da folha mundano, perto da capela de Santa Marta, que avisa, ao entardecer precoce, para os dias de Plutão, gelados e efémeros, e as noites de Saturno, gigantes e místicas, aquelas em que nos cobrimos com os anéis como camadas de memórias que giram em rodopios lusco-fuscos, num firmamento de devaneios... como uma história interminável...
A olhar o céu, daqui para lá, como nos símbolos que no traçam em sonhos, como buscando no transcendente o caminho certo que todos ousamos querer trilhar, sem certezas de quase nada!
Para memória futura há de ficar a postura absolutamente equidistante do Expresso de Felgueiras, mais uma vez, no processo eleitoral autárquico que terminou no passado domingo, deixando, como se impunha, o combate político para os partidos e coligações que se apresentaram a sufrágio e promovendo o debate das ideias e dos projetos.
Para memória futura, honrando o passado deste projeto, o nosso compromisso de nos mantermos iguais a nós próprios, como no dia 31 de março de 2006, quando “nascemos”.
Para memória futura ficarão os resultados históricos, sem paralelo em Felgueiras, alcançados pela candidatura Sim Acredita, liderada por Nuno Fonseca e seus pares.
Para memória futura ficará a derrota colossal sofrida pelo PSD que deixará marcas profundas num partido de poder que há não muitos anos era hegemónico em termos autárquicos no concelho. Um PSD fraco significará uma oposição fraca e isso é mau até para o poder!
Para memória futura, o vendaval de votos que varreu os social-democratas de quase todas as juntas de freguesia.
Autarcas de freguesia saltitantes
Para memória futura o sinal negativo deixado, de novo, por certos presidentes de junta que vão dançando consoante as aragens do poder rosa, laranja ou de outras cores, saltando de partido em partido, como quem muda de camisa. São culpados os autarcas de freguesia saltitantes, mas também os sucessivos poderes na câmara, de várias cores, que não resistem à tentação de “controlar” os poderes nas freguesias.
Para memória futura, o veredito da maioria dos felgueirenses, que votou maciçamente no modelo de governação municipal liderado por Nuno Fonseca e o civismo com que decorreu a ida às urnas e as reações aos resultados de vencedores e vencidos, traduzindo a maturidade política que se vai observando em Felgueiras.
Para memória futura, o sinal de preocupação que a expressão esmagadora dos resultados para a câmara, assembleia municipal e juntas de freguesia pode significar em matéria de pluralismo político e expressão das diferentes visões no concelho.
Sobranceria do poder?
Para memória futura ficarão os sinais de certa sobranceria que o poder e alguns dos seus protagonistas em Felgueiras, ainda que não todos, foram deixando, muito tempo antes das eleições de domingo, em relação a certos órgãos de comunicação social do concelho, inclusive o Expresso de Felgueiras. Que esses sinais não assumam outra dimensão é a nossa expetativa em ordem a manter a normal relação institucional entre o poder político e o “poder” da imprensa.
Para memória futura ficará o compromisso deste projeto editorial, enquanto órgão de comunicação social, no sentido de, como no passado com Fátima Felgueiras, Inácio Ribeiro e Nuno Fonseca, se manter plural, atento e crítico a eventuais excessos, que não se desejam, que este ou outro qualquer poder circunstancial possa sentir-se tentado a protagonizar, porventura em consequência de um deslumbramento com os resultados eleitorais, como tantas vezes ocorreu com os políticos, inclusive em Felgueiras e noutras paragens próximas.
Abertura à sociedade civil
Para memória futura, por fim, mas relevante para nós, o propósito de nos mantermos abertos à sociedade civil, com novos conteúdos multimédia e outras formas de comunicar, para promoção e divulgação dos projetos e atividades no concelho, significando isto que a atualidade política e autárquica é apenas, note-se, um dos vários contextos sobre os quais o Expresso de Felgueiras se propõe continuar a trabalhar sob ponto de vista editorial, respeitando o primado do serviço público que nos norteia desde o início.
Armindo Mendes / Diretor do Expresso de Felgueiras
... o transcendente esconde-se no trivial, mas é para lá que os mortais miram, chamados por quem chama, num exercício algures entre a crença no subliminar e a casca de noz em que, à bolina, vamos por águas aquém do Bojador, por oceanos já navegados…
E quando a alma não é pequena, a magia das palavras acontece em cada fôlego, com travo de laranja!
E com o mel que corre nas veias de quem sonha só podem sair palavras de poetas!
Os dedos acetinados do sonhador impelem a caneta. Eles e ela dão formas aos sentimentos, com a caligrafia das utopias que se insinuam… a cada sílaba...
E a magia acontece, a folha branca do bloco de notas faz-se diferente com pigmento de frases saltitantes, como o melro na árvore.
E há rios imensos de sonhos e rimas para contar, só há que abrir as asas e voar.
Sem medos, deixar a caneta voar, voar, voar!
É lindo olhar o mundo lá de cima, no céu onde mandam os poetas, e ficar tão leve e sentir a brisa que refresca a alma.
Que espicaça nas asas de um devaneio que se pode contar em sonetos de encantar.
Ou fazer cantigas de amigo sem contar, com ritmos e tons que as letras vão mostrando, como notas musicais, quando a alma não é pequena!
Na levada do meu bosque, na minha pequena aldeia, aquele sítio mágico onde nos quedamos, de quando em vez, sentados na pedra coberta de musgo, como neste dia de quase outono, de sol apressado, entre a folhagem bronzeada.
Para, sem pressas, fecharmos os olhos e vermos sem olhar o passado, sentirmos o presente e, iris fitadas nas águas que correm para o rio, que vamos penteando com os dedos, instarmos o futuro e revelar-nos se amanhã vai ser como hoje ou se ontem, na alquimia do tempo, já foi e vai passar logo, no ocaso deste dia, ou de outro qualquer do calendário dos desassossegos que as flores de outono ressoam.
Tons quentes do bosque da Plaina que são prenúncio dos frios, quase gelados, de outono, a antecâmera dos dias grisalhos de inverno, das castanhas que se aquecem ao lume do S. Martinho.
Quando as noites se sobrepõem aos dias e os ventos cruzados de norte assobiam nas praças das nossas aldeias, por entre o casario de granito nortenho, o tempo que acalora os pés à lareira, junto aos potes de barro negro que o caldo fazem, em serões dos nossos avós, do tempo em que o tempo andava à bolina das estações com tempo, hoje coisas do passado, num presente de desassossego, o nosso, que desafia o futuro, de escasso tempo, para os dias de um amanhã que soçobrará, ou não, por detrás daquela montanha - a incerteza e de uma história sem fim
A música é uma das seis artes clássicas e o que de mais belo convoca um dos cinco sentidos humanos: a audição - um carreiro para a nossa alma.
A clave de sol abre alas para a pauta das notas em partituras de sopro, voz, cordas, percussão e eletrónica que a batuta do maestro cadencia.
Há séculos idos, a criatividade humana criou a magia da música.
Como o pintor renascentista na tela, o ator de túnica no coliseu de Roma declamando Omero, ou o escultor de Creta no mármore dando forma a Ulisses, o compositor imagina e pinta ressonâncias, dá linhas de melodias a uma amálgama de notas musicais, dó, ré, mi, tão sabiamente encadeadas que resulta em fá, sol, lá, quais obras-primas, como as valsas, as sinfonias, os fados ou as óperas dos autores clássicos, e até no pop-rock dos nossos tempos, de Beethoven a Pink Floyd, numa linguagem universal que escusa legendas e une os povos à volta de uma canção de amor, de uma trova que exalta valores, um hino trauteado em todas as latitudes geográficas e de peitos de aquém e além mar, não importa a cor da pele ou o credo.
Dos dedos agitados do guitarrista, da subtileza que esventra a harpa, da voz do tenor que se ergue para lá do comum-mortal, do requinte do xilofone ou do sopro de prata do trompetista transpiram ecos, como os gemidos do violino e os graves da bateria que calam o silêncio da superficialidade, como a pena do escritor que rabisca à luz da vela com palavras de narrativas uma folha branca, para a transformar num soneto de belas rimas ou numa ode ao deleite dos sentidos, da contemplação, da imaginação de contextos, de amores arrebatadores, que até as telas de cinema obsequiam em grandes produções que só a sétima das artes ousa fazer, num clímax de emoções, até onde a chama houver.
É a dança das artes que no palco dos vivos e dos nossos maiores já partidos, com alma, rasga a banalidade, que faz de nós seres com pracetas de estilos vários, que, nas calçadas da nossa quietude, à lareira ou na margem do riacho, clamam por ritmos, cores, declamações a partir do Restelo, ou poemas, sermões aos peixes e outras linguagens para os sentidos, esses, os nossos pelo coração ligados, que dão sentido à vida, que nos tocam o âmago, como uma música, a da nossa vida, que nos tatua a alma, como um campo de malmequeres que ondulam ao vento, por entre a neblina fresca da alvorada ou páginas de um livro aberto ou uma tela de Van Gogh, em tons ora pastel ora arco-íris.
A música é contemplação e o janelo para olharmos com os ouvidos, de peito feito, para o milagre de sentirmos, de existirmos.
Ali, por debaixo das luzes de Led que atraem as barrigas vazias para suculentas imagens de hambúrguer com metro e meio de altura, com nomes muito “à frente” tipo Mac… qualquer coisa, dependendo a “qualquer coisa” da quantidade da carne picada e das batatas fritas ‘gold’.
A azáfama é grande, o rebuliço é fervilhante das gentes, anónimas, à espera, de olhos nos telemóveis, em caracóis de filas, todos inebriados pelos odores e sabores intensos dos molhos de cores garridas que encimam a ‘fast food’ da cadeia norte-americana servida por jovens doutores remediados. São hambúrgueres, mas podiam ser asas de galinha frita, como além.
Ao ritmo dos apetites vorazes, os tabuleiros saem do balcão carregados pelos clientes que se esbarram entre si, tal a trapalhada, com copos de refrigerantes e tantas coisas, numa parafernália de cheiros, pacotes, cores e, claro, brinquedos giríssimos para os meninos e para as meninas, qual engodo no futuro presente.
"...Quando se apreciou ao espelho, olhando o seu rabo, orgulhosa do milagre adelgaçante..."
A senhora loura, abundantemente maquilhada, ali na fila passara há pouco pelas lojas do centro comercial… os passos ruidosos dos saltos altos tinham despertado a minha atenção!
… Ajeitando o cabelo, carrega ainda, orgulhosa, nos sacos de compras, tantas coisas, como aquelas calças de marca a que não resistiu, quando se apreciou ao espelho, olhando o seu rabo, orgulhosa do milagre adelgaçante que o corte da roupa proporcionou às suas partes traseiras que a idade quis agora de linhas abastadas. Uau!!! Vou levar, comentou para o companheiro, puxando pelo cartão de crédito, com um sorriso de orelha a orelha, imaginando o furor que fará quando as amigas (e amigos) do escritório elogiarem… a peça de roupa.
Na fila para a fast food, o companheiro, ao lado da dita, com a barba da moda, calças justas e curtas, de pernas depiladas e com um sapato requintado que deixa ver os pés. Vociferando certas palavras num português pobre, não larga o telemóvel, fazendo as últimas apostas no Placard ou no Betclic, não importa! A expressão dele é de quem procura na fortuna e azar adivinhar o resultado de um qualquer Sporting-Porto desse domingo à tarde, enquanto sonhava com o prémio dos excêntricos, aquele carrão e aquelas boazonas todas só para ele!!!
Já na mesa, na grande sala do shopping, à hora do jantar, a família está em deleite perante os ‘Big Mac’ que fazem as delícias dos tabuleiros com milhões de molhos, mil sabores, amarelos e vermelhos e outras quadricromias, e centenas de guardanapos de pepel que aldrabam as bocas lambuzadas e se deixam cair na confusão, por entre as batatas fritas XL que saltam dos copos de plástico para as bocas, impelidas por mãos a um ritmo desafiante, para gaudio dos comensais, de olhar vazio, mas felizes!
Um pouco por toda a sala, pobres e ricos, letrados ou nem por isso, do avô ao pai, do filho ao neto, todos se saciam até não caber mais, para, de seguida, se levantarem rumo a mais um devaneio, sem destino certo, pelo antro do consumismo, só porque sim, com a loira de olhos postos nas montras de decoração chamativa das lojas e o companheiro, de sapatos finos, de novo perdido nas apostas.
E caminham aos magotes, quase todos impecavelmente vestidos com os trajes de moda.
Elas de barrigas à mostra e calção justo, eles de calças e camisas justas. Tudo pronto para as ‘selfies’ do momento.
Estão contentes, num momento fugaz, ou escondem-se atrás uns dos outros. E cruzam-se indiferentes, quase se tocando nos ombros, nos corredores do shopping dos sonhos, num ritual que manda o status quo, que observo, da minha mesa, onde trabalho, indiferente, talvez!
Recordando uma manhã que há pouco despertara e nela encontrara uma serenidade imensa.
Peito aberto, sentia a brisa que embalsamava a alma. Sentado numa espécie de lençol de areia dourada, olhava o mar, de azul atlântico, que sempre me embalava o olhar.
Papá, papá! – era o meu filho, que chamava para mais uma brincadeira. Sem querer, a criança pusera fim a um momento de deleite. Mas, não faz mal, a voz terna do menino e um sorriso arrebatador já impelira o progenitor para o prazer de brincar com o filho que tanto ama.