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Marca d'Água

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23
Jun21

Rali de Portugal: As máquinas soaram em Santa Quitéria 23 anos depois


O dia mal raiava e uma multidão acorreu hoje ao alto de Santa Quitéria, em Felgueiras, para o regresso do mundial de ralis, 23 anos depois, com uma moldura que preencheu um anfiteatro natural.

 

Fazia frio pela manhã, mas o ressoar dos motores 1,6 turbo na alameda de Santa Quitéria, de onde os 380 cavalos partiam para o troço cronometrado, aquecia as emoções dos aficionados, com vista privilegiada, também para a cidade, ali perto.

De olhos postos na contagem decrescente, os primeiros pilotos das marcas oficiais do WRC arrancavam com contundência ainda na zona em asfalto, ladeada por árvores e travavam violentamente à entrada de curva e contra curva, esquerda direita, para logo os pneus começarem a lançar gravilha.

Os motores ecoavam nos montes circunvizinhos, dando ainda mais brilho ao momento.

FOTO: Armindo Mendes

Já na terra, pilotos e máquinas aceleravam para abordar a primeira descida, escorregadia, muito escorregadia e abrupta, após a qual um gancho de esquerda impele os carros para, atravessados, acelerarem de novo em descida, em direção ao resto de troço, cerca de oito quilómetros, aguardados por outros milhares nas encostas do monte.

O anfiteatro natural fica ali, logo a seguir às letras gigantes onde se lê “Felgueiras”, que se veem lá da cidade, ao fundo. O declive do terreno foi aproveitado pela câmara para ali construir uns socalcos, em jeito de bancada, que encheu com gente de todas as idades, nem todos com máscara e alguns até demasiado próximos.

FOTO: Armindo Mendes

O cenário não é novo. Algumas tendas de campismo onde tinham dormido aficionados madrugadores e as churrasqueiras que preparavam os petiscos, manhã cedo regados com cerveja, muitas cervejas nas geladeiras que esperavam por uma longa manhã, com duas passagens pelo troço separadas por algumas horas.

Carlos e José, ambos de 18 anos, vieram do Porto às 4:00 da madrugada. Um deles tira fotografias. Era a sua primeira vez no rali.

“Espetáculo”, comentava a cada carro que passava, talvez surpreendido com o pó que lhe sujava a lente da câmara. O amigo sorria e explicava tecnicamente a coragem dos pilotos. Eram ensinamentos do pai, um”velho” aficionado, de 54 anos, referiu à Lusa, sorrindo.

Ali perto, outro grupo da zona da Trofa, Santo Tirso. Uns seis ou sete jovens, todos rapazes, com bandeiras e muita alegria, acenando para um fotógrafo que registava o momento. Cantavam e saltavam também.

Uma criança de oito anos, um menino, parecia mais interessado no helicóptero que sobrevoava à passagem dos carros. Apontava insistentemente para o céu.

A manhã foi avançando e os agasalhos tornaram-se desconfortáveis para a segunda passagem.

O rali é um desporto democrático, todos podem vê-lo, mesmo quem, visivelmente, não percebe muito da modalidade, como uma mulher da terra, de sotaque acentuado e timbre forte, que fazia comentários curiosos, do senso comum.

“Aquele quase se espetava”, gracejava, entre gargalhadas, enquanto o companheiro comentava à Lusa que já tinha saudades de ver “estas bombas em Felgueiras”.

Na multidão, muitas línguas, do francês ao espanhol, as predominantes, provando que o Rali de Portugal é apreciado além fronteiras.

Felgueiras voltou a ser, por instantes, a catedral de ralis, aqui ao lado de um santuário mariano, com o seu troço de curvas e contra curvas, quase sempre a descer, muito do agrado dos pilotos, num monte abençoado por Quitéria, a santa que na terra se diz ser também aficionada pelos automóveis.

 

16
Jun21

Ò Ave ferido que segues para o mar!


Rio Ave.jpg

O Ave é verde, o rio, este, que do alto da montanha, da Cabreira, atravessa o vale que batizaste. O Vale do Ave é verde, como as águas do padrinho de águas, açudes, cascatas e moinhos do verde Minho, hoje pálido, o rio que corre para a sua princesa, a Vila do Conde, a dos arcos perfeitos, onde o Ave se espraia pachorrento, sem o ânimo dos tempos imemoriais, quando do seu estuário, da sua alfândega e dos seus estaleiros saíram as naus e caravelas quinhentistas que mostraram as novas rotas ao mundo. Foste por isso também um descobridor, ò Ave.

O Ave é um rio envergonhado, escondido nos seus granitos, amargurado até, pelos que, despojados de civismo, há décadas o esventram com a poluição do “progresso” que lhe esvaia a alma de rio selvagem, de margens com bosques verdes. Ò Ave, o meu rio da meninice, da minha Guimarães, dos banhos nas tuas águas, nas Taipas, a praia dos remediados como eu fui, sem vergonha alguma,  ò Ave, meu rio que já não cheiras a frescura, ò Ave ferido que segues para o mar, ò Ave que hoje não quis cheirar,  perdão, não tens culpa. Tu que passas por tantas pontes, por tantas gentes, à espera que os homens bons, do presente e vindouros te deem a mão e te salvem, que te devolvam o fascínio e a frescura que atraiu vikings, celtas, romanos, cartagineses, suevos e viu, eu sei, os exércitos de Afonso Henriques, uma amálgama de povos guerreiros ou mercantis que subiram e desceram o teu leito, que fizeram este território, onde nasceu Portugal, sob tua bênção, meu rio Ave…

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