Da adolescência, a idade da candura e da leveza dos anos oitenta, sobram, sob a forma de reminiscências, as cores garridas, as roupas largas, a pele bronzeada e o cabelo grande ao vento, no banco de jardim lá da terra abrigado do sol, nas tardes palpitantes de verão que convidavam a serões animados pelo sotaque francês que os emigrantes traziam.
Eram emoções refrescadas com uma sucessão de gelados de sabor limão, comprados com moedas de cinco escudos, como retempero para as emoções arrebatadoras numa sala que, horas antes, se vestira de penumbra para deixar contemplar o filme do momento, o “TOP GUN”.... Palpitavam então muitos corações adolescentes!
A música cantada em italiano é especial. Tem um quê de romântico, de calor, que me encanta e faz sonhar e recuar aos anos 90, dos quais recordo Eros Ramazzotti e Laura Pausini e quando ouvia, na minha saudosa Opel Corsa, as músicas que gravava em cassete, com todo o cuidado, para me fazerem companhia nas múltiplas viagens nómadas por entre as curvas e contracurvas das estradas da região, às tantas a metáfora da vida que tinha.
Procurava, por esses tempos, uma vida melhor, transportando, ocultadas por mim próprio, tantas inseguranças que herdara de um passado cheio de obstáculos! Mas também tantos sonhos, tantas esperanças…
Recordo, às vezes, uma viagem, algures entre Lousada e Felgueiras, sozinho numa noite muito fria, à noite, conduzindo à chuva, procurando aconchego, um momento pesaroso, não só para a alma, mas que não quero esquecer, quando a vida se fazia esguia, que me fez padecer, mas crescer também para os dias de sol nascente e venturas que mais tarde aconteceram!