Há uns anos, foi uma honra enorme ver reconhecida a minha "cidade-berço" como Património Mundial da Humanidade, fazendo jus à joia arquitetónica do velho casco medieval, onde, há uns quantos anos crescia e brincava com os outros meninos. No ano que agora termina, foi um orgulho muito especial ver a minha querida Guimarães como Capital Europeia da Cultura, um mote justo e que ajudou a tornar a urbe ainda mais apetecível para que lá vive ou visita.
O velho burgo medieval de Guimarães reserva-nos sempre surpresas. No sábado, passeando pelo centro, alguém conhecedor do casco histórico apresentou-me este cantinho tão delicioso da cidade, que eu não conhecia.
Chama-se "Ilha do Sabão" e ali residiam antigos operários da zona de Couros, uma antiga indústria da cidade.
Em cada recanto da cidade Património Mundial, somos convidados a contemplar o casario magnificamente recuperado.
Os candeeiros antigos, em cada esquina da cidade velha, são sinais bem presentes do bom gosto dos nossos antepassados.
E por esta altura, as velhas ruas vestem-se de um colorido tão especial...
Incontornável, a passagem pela Praça da Oliveira, a mais bonita de Portugal, digo eu!
No Toural, praça de afetos, encontros e reencontros, de todos os vimaranenses...
Sou nortenho e portista, mas gosto de Lisboa, cidade, a capital de todos os portugueses. Mas censuro a macrocefalia da capital que tudo vai esmagando no resto do território do pequeno retângulo Lusitano que alguns, de horizontes que não passam de Vila Franca, denominam “província”.
O que se anuncia agora para a RTP Porto deixa-me, como nortenho, como português que ama o seu país como um todo, inconformado.
Foram-se as sedes de grandes empresas, foi-se a bolsa de valores, foram-se os grandes bancos, foi-se o “nosso” salão automóvel”, foram-se os grandes jornais, foram-se os grandes espetáculos e os grandes teatros. E agora vai-se grande parte do que restava: a RTP.
E assim se vão acentuando as assimetrias entre o norte, onde já só restam as indústrias exportadoras que alavancam a economia do país em tempo de crise, e uma capital sobranceira que cresce cada vez mais à sobra da gigantesca máquina do Estado que asfixia os recursos do país real.
Não é fácil explicar, mas defronte para a estátua do nosso primeiro soberano, em Guimarães, sinto sempre qualquer coisa especial, se calhar um assomo de patriotismo que, confesso, encaro como um bálsamo para o descrédito neste país que por vezes apoquenta o meu espírito. Gostei particularmente desta foto que tirei, entre muitas outras que registei quando por lá passei no sábado.
Muitos anos depois, subi à torre de menagem do imponente Castelo de Guimarães e da lá captei esta imagem da Colina Sagrada, com a capela onde terá sido batizado D. Afonso Henriques, no início do século XII, o lindíssimo Paço dos Duques e a cidade-berço, Património Mundial, no horizonte. Para quem nunca subiu à torre, recomendo vivamente. É uma experiência que merece ser vivenciada.
Neste domingo, um pouco por acaso, revisitei a aldeia da Agra, algures entre Vieira do Minho e Cabeceiras de Basto, terras altas e frescas, que neste outono, quase inverno, me receberam com um sol de orelha a orelha. Uma luz que acentuava os mil tons de castanho que cobrem os vales ponteados de branco pelos rebanhos.
Não muito longe, naquelas paragens, nas fraldas da Serra da Cabreira, nasce o rio Ave, que se encolhe para passar sob uma ponte medieval.
Ali, ainda é muito pequena, aquela linha de água cristalina desce apressada, mal sabendo o que a espera quando entrar no território do têxtil, alguns quilómetros a jusante.
A aldeia da Agra, no Minho profundo, é bonita, mas podia ser muito mais encantadora. As suas casas de granito rude dão voz à ruralidade que ainda perdura por aquelas paragens. Nas valetas das ruas estreitas já não corre a água abundante que um dia observei encantado.
Pena é que a maioria dos edifícios apresente um certo ar de abandono e até de ruína.
Outros aparentam cuidados recentes de preservação, mas aqueles constituem a minoria.
A Agra é uma aldeia que parece um diamante semioculto. Encerra em si um tesouro com um potencial imenso, até no plano turístico. Porém, para que vê de fora, estará a faltar quem seja capaz de promover um programa que restitua à Agra a beleza de outrora.