Sempre tive um fascínio pelo período dos descobrimentos portugueses. Quando criança, folheando as páginas ilustradas de um livro de história lá de casa, fantasiava com naus e caravelas que navegavam de velas ao alto, rumo ao desconhecido, enfrentando tormentas. Os portugueses de então eram, por isso, homens sonhadores e corajosos, na busca de vidas melhores, quem sabe, até, de riquezas desconhecidas.
Há dias, passando por Vila do Conde, encontrei esta magnífica réplica de uma nau quinhentista, parecida com outras embarcações que, há muitos séculos, iam ganhando forma pela mestria dos homens que trabalhavam nos estaleiros da localidade da foz do Ave.
E ali fiquei, numa tarde de sol, acompanhado do rio pachorrento que caminhava para o Atlântico com águas verde-esmeralda. O meu olhar retinha o pensamento cruzado de como eram mestres os artífices que, tábua a tábua, prego a prego, corda a corda, iam dando forma aos “veículos” que trouxeram novas luzes ao mundo obscurantista, que, até então, há seculos prevalecia.
Hoje, os portugueses já não usam destas embarcações para fugirem às agruras do país que lhes serviu de berço. Acometidos por tempestades inesperadas, hoje, os portugueses, quais navegadores do futuro, partem, à bolina do acaso, sonhando descobrir territórios que lhes abram horizontes.
Que o Cabo das Tormentas seja dobrado e se abram as correntes marítimas aos ventos da Boa Esperança, de além-mar.
Desafortunado o fado lusitano que se repete vezes sem conta!
O Castelo de Aguiar é um notável, mas pouco conhecido monumento de arquitetura militar do período da fundação do Reino de Portugal. As suas ruínas, há alguns anos mostradas aos que apreciam estas “coisas”, demonstram a importância que tiveram estes pequenos castelos altaneiros graníticos na consolidação do território conhecido como Condado Portucalense.
Situado no cimo de um penhasco transmontano, não muito longe de uma aldeia hoje quase sem gente, o Castelo já foi de difícil acesso aos visitantes. Hoje, porém, graças aos melhoramentos, incluindo passadiços, está garantida a segurança dos que querem subir os degraus ziguezagueantes e íngremes que separam a porta de entrada do que resta da torre de menagem, da qual se observa, posso garantir, uma paisagem notável do Alto Tâmega.
A região do Tâmega e Sousa, no interior do distrito do Porto, é a mais jovem do país e também a que, com visão de futuro, mais investe em políticas educativas, acentuando o seu maior ativo, a juventude. A aposta no saber é consensual neste território com mais de meio milhão de habitantes, derrubando diferenças político-partidárias dos diferentes municípios.
De Baião a Paredes, do Tâmega mais rural ao Sousa mais industrializado, fecham escolas velhas, caducas, e abrem modernos centros escolares preparados para os novos paradigmas da formação integrada.
O retorno desta aposta deverá fazer-se sentir, também no plano da produtividade, dentro de alguns anos, catapultando este território para um nível de qualificação que estará, com certeza, entre os melhores à escala nacional. Ao tradicional empreendedorismo desta região juntar-se-á, dentro de alguns anos, uma qualificação ímpar em termos nacionais.
Face aos investimentos avultados realizados ou ainda em curso na requalificação de centenas de escolas, estão reunidas algumas das condições fundamentais para que os jovens de hoje, do Tâmega e Sousa, assimilem competências que contribuirão para alavancar o desenvolvimento da região dentro de uma ou duas décadas.
O caminho ainda é longo e difícil, mas a primeira etapa já foi ultrapassada com distinção: O Tâmega e Sousa já não é a região conhecida pelas elevadas taxas de abandono precoce da escola.
Hoje a região é vista como um exemplo de inovação e trabalho, onde vale a pena investir na inteligência e no saber.
Os que acompanham estas matérias já interiorizaram que estamos perante um processo catalisador do desenvolvimento da região na ótica das gerações vindouras.
O país que arde todos os dias, queimando-nos a alma, é o resultado de políticas avulsas, mas crónicas, das últimas décadas, de uma gestão egocêntrica, assente em critérios economicistas errados, que redundam na desertificação humana incomensurável do interior, ao mesmo tempo que acentuam a sobrepopulação das cidades do litoral. O rei vai nu com certeza. As chamas que vemos todos os dias são o sangue ardente que verte das artérias de um país doente, que sofre em resultado de políticas tecnocratas, preconceituosas e provincianas dos que, encasulados no antro do poder, do alto de um pedestal que só alcança Vila Franca, olham para o interior como as “terrinhas”, para onde, dos autotanques e aeronaves, lançam água para suster um interior depressivo que chega cada vez mais ao litoral. Num país desigual, com um interior sem pessoas, com matas e campos agrícolas votados ao abandono, resultado de ausência de políticas para promover o desenvolvimento rural sustentado, de pouco ou nada vale o país gastar todos os anos milhões de euros nos dispositivos de combate aos incêndios. É um combate inglório, que interessa apenas a determinados grupos económicos que ganham muito dinheiro com o flagelo dos incêndios. Nos últimos meses, em atividades de lazer e de trabalho, percorri vários concelhos de Trás-os-Montes e Alentejo. Dói a alma constatar, apesar de tudo, sem surpresa, que as terras vão perdendo as poucas pessoas que ainda restam. Aldeias vazias, quase fantasmagóricas, cidades, outrora florescentes, agora quase moribundas, sangrando a cada dia, até à agonia final, quiçá. Com a crise dos últimos anos, ao fluxo migratório para o litoral das décadas de centralismo bacoco de quem governa partir dos finos gabinetes, juntou-se entretanto a debandada para destinos além-fronteiras. São centenas todos os meses que partem, tristes, curvados ante o cenário que fez mergulhar milhares de portugueses num mar de falta de infortúnios. Como uma mãe que não consegue gerar leite para alimentar os filhos, temos hoje um país paupérrimo, com um tecido económico fragilizado, que não alimenta gerações inteiras, as tais que, sem esperança no país que as viu nascer há 20, 30 ou 40 anos, emigram, fugindo de uma espiral depressiva, do incêndio que varre o país.
O Castelo de Almourol, situado numa ilha do Tejo, nas proximidades de Vila Nova da Barquinha, é um dos mais impressionantes e bonitos monumentos nacionais do período da reconquista cristã. Do alto da sua torre principal, avistam-se paisagens ribatejanas. Com outros castelos daquela região do centro do país, este edifício da notável arquitetura militar da época medieval representa a importância estratégica que durante décadas teve o rio Tejo no difícil processo de reconquista cristã iniciado no Norte de Portugal, em direção ao Algarve.