Um “novo jornalismo” que tritura uma certa ética e deontologia na profissão
Armindo Mendes
Cada vez é mais difícil fazer jornalismo de acordo com os princípios e os valores dos grandes mestres que nos antecederam na profissão. Com eles crescemos, com eles apreendemos uma certa forma de ser e de estar perante as coisas, que plasmávamos, com orgulho, nos nossos trabalhos.
Hoje, assistimos e participamos em discussões acaloradas sobre o caminho, tantas vezes desprovido dos tais valores, que o jornalismo tem seguido nos últimos anos, sobretudo aquilo a que chamo, tantas vezes, o jornalismo” fast-food”. Aquele em que vale quase tudo em nome do resultado mediático imediato, traduzido manchetes de pertinência e sustentação duvidosas, mas que valem euros, que tritura tantas vezes uma certa ética e deontologia na profissão e nos profissionais.
Com o corrupio dos dias, os tais valores encontrá-los-emos, não demorará muito, apenas nos museus e na memória de uns quantos de nós…
No sentido genérico, temos hoje um jornalismo fragilizado por uma conjuntura económica adversa, que debilita as empresas do setor, comprometendo a estabilidade dos que lá labutam. Sim, esses estão hoje, quase todos, numa situação de enorme precariedade, que nada contribui para a necessária estabilidade laboral e emocional, fundamental para a disponibilidade e exercício de uma profissão tão exigente quanto esta.
Por isso, todos temos presente uma forma de “fazer notícias”, a atual, cada vez mais à mercê de interesses económicos, consubstanciados em audiências, e outros de natureza distinta que todos conhecemos, mas dos quais, por razões óbvias, não gostamos de falar.
São esses, mais ou menos dissimulados, que estão a ferir de morte o jornalismo dos valores, dos princípios, da verdade e, sobretudo, dos sentidos de serviço público e espírito de missão que orgulhosamente norteava muitos de nós.