Manifestação na Linha do Douro, no Marco de Canaveses: Ora cá está uma situação, cujo aparato policial me pareceu claramente exagerado e que só serviu para acicatar ainda mais os ânimos das centenas de pessoas presentes. Viveram-se momentos de alguma tensão, que acabaram, felizmente, por acalmar... prevalecendo o bom-senso dos populares e dos militares da GNR.
Cada vez é mais difícil fazer jornalismo de acordo com os princípios e os valores dos grandes mestres que nos antecederam na profissão. Com eles crescemos, com eles apreendemos uma certa forma de ser e de estar perante as coisas, que plasmávamos, com orgulho, nos nossos trabalhos.
Hoje, assistimos e participamos em discussões acaloradas sobre o caminho, tantas vezes desprovido dos tais valores, que o jornalismo tem seguido nos últimos anos, sobretudo aquilo a que chamo, tantas vezes, o jornalismo” fast-food”. Aquele em que vale quase tudo em nome do resultado mediático imediato, traduzido manchetes de pertinência e sustentação duvidosas, mas que valem euros, que tritura tantas vezes uma certa ética e deontologia na profissão e nos profissionais.
Com o corrupio dos dias, os tais valores encontrá-los-emos, não demorará muito, apenas nos museus e na memória de uns quantos de nós…
No sentido genérico, temos hoje um jornalismo fragilizado por uma conjuntura económica adversa, que debilita as empresas do setor, comprometendo a estabilidade dos que lá labutam. Sim, esses estão hoje, quase todos, numa situação de enorme precariedade, que nada contribui para a necessária estabilidade laboral e emocional, fundamental para a disponibilidade e exercício de uma profissão tão exigente quanto esta.
Por isso, todos temos presente uma forma de “fazer notícias”, a atual, cada vez mais à mercê de interesses económicos, consubstanciados em audiências, e outros de natureza distinta que todos conhecemos, mas dos quais, por razões óbvias, não gostamos de falar.
São esses, mais ou menos dissimulados, que estão a ferir de morte o jornalismo dos valores, dos princípios, da verdade e, sobretudo, dos sentidos de serviço público e espírito de missão que orgulhosamente norteava muitos de nós.
O concelho de Felgueiras pode, no “melhor” dos cenários, perder metade das autarquias de freguesia se a reforma administrativa ao nível do poder local for por diante, como pretende o Governo.
Se for cumprido o espírito da legislação que se encontra em apreciação na Assembleia da República, Felgueiras passará das atuais 32 freguesias para um número que pode chegar às 15 ou 16, consoante a aplicação mais ou menos rigorosa dos critérios de agregação.
Segundo os indicadores do INE, Felgueiras é um concelho de nível 1, porque tem mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado.
Segundo a proposta do Governo, neste caso, as freguesias urbanas a criar, em sede do concelho, terão de ter pelo menos 20 mil habitantes. Em Felgueiras, Margaride, que não chega aos 10.000 habitantes, para reunir esse critério, terá de se agregar com outras freguesias contíguas, num raio de aproximadamente três quilómetros.
A fusão de Margaride com Várzea, Varziela, Moure, Friande e eventualmente Pombeiro poderá ser o cenário em equação. Em tese, portanto, nenhuma das atuais freguesias de Felgueiras poderá continuar como se encontra atualmente, isolada, sendo todas obrigadas a encetar um processo de agregação.
Até julho, a Assembleia Municipal deverá ter de se pronunciar sobre a proposta de agregação.
Caso não haja acordo, caberá à Assembleia da República, através de um grupo técnico, decidir sobre a matéria.
Prevê-se que as próximas eleições autárquicas, em 2013, já se realizem com base no mapa autárquico que sair desta reforma.
Até há pouco, todas as freguesias do concelho, com exceção da situação já referida da sede do município, teriam de se agregar para perfazerem cinco mil habitantes, por se encontrarem em zonas predominantemente urbanas.
Feitas as contas, significaria que o concelho passaria a ter, apenas, entre oito e 10 freguesias.
Contudo, uma recente reclassificação do INE admite que algumas das freguesias mais pequenas de Felgueiras e de outros concelhos sejam consideradas rurais, o que, em termos de critérios de agregação, poderão baixar para os 3.000 habitantes. Ora, na prática, poderá agora haver condições para criar freguesias com aquele universo populacional, quando até há pouco o mínimo exigido era 5.000 habitantes.
Outra alteração recentemente introduzida, na sequência das pressões exercidas nomeadamente pela ANAFRE, prevê uma tolerância de 20 por cento face aos critérios da lei, o que, por certo, dará azo a muitas e complexas contas até se encontrar um mapa definitivo.
Felgueiras ficaria muito bem com apenas oito ou nove freguesias
Bem sei que a extinção de juntas de freguesia preocupa muitos autarcas, mas concordo com a agregação desse tipo de autarquias, nomeadamente num um concelho territorialmente tão pequeno quanto o nosso.
Trinta e duas freguesias numa área tão pequena é manifestamente um exagero, ao ponto de algumas sedes de junta distarem poucas centenas de metros umas das outras. E a pequenez traduz-se em recursos financeiros que não dão para quase nada.
Há muito que discordo da lógica de se multiplicarem equipamentos similares, de diferentes naturezas, em freguesias contíguas, conduzindo à multiplicação de gastos de dinheiros públicos e uma subutilização das infraestruturas.
Isso só acontece, bem se sabe, porque prevalecem os bairrismos, a política anacrónica de paróquia e até alguns egos de pessoas que, enfileirados nos partidos, não abdicam dos seus pequenos poderes.
Dar mais escala territorial e populacional a estas autarquias vai, com certeza, traduzir-se em mais competências e meios financeiros e logísticos para servir melhor as populações, acabando-se, de uma vez por todas, com a manifesta incapacidade das juntas em diferentes domínios, que decorre da sua pequenez.
Note-se que as novas freguesias passarão a poder contar com presidentes de junta a tempo inteiro, remunerados com dignidade, para poderem zelar, com maior disponibilidade, pelos interesses das populações.
Acabar com o presidente de junta "de mão estendida" na câmara
Além disso, uma nova escala, poderá dignificar e potenciar a capacidade de reivindicação das novas freguesias junto do poder municipal, esbatendo a imagem do “pequeno” presidente de junta, representando um reduzido número de eleitores, de mão estendida, na câmara, a pedir umas “esmolas” para fazer uns muros ou pavimentar 50 metros de caminho na sua freguesia.
Ao contrário da demagogia e populismo que por aí se vai ouvindo, a agregação administrativa de freguesias não comprometerá a identidade de cada munícipe, que continuará a pertencer às freguesias a que sempre pertenceu. O que vai desaparecer, em alguns casos, é o órgão administrativo, substituído por outro semelhante, afastado três ou quatro quilómetros, mas com mais recursos e por isso capaz de servir melhor a população.
Felgueiras só teria a ganhar se optasse pelo modelo mais maximalista de agregação de freguesia, enveredando pela criação de oito unidades, facilitando a gestão administrativa do concelho o potenciando os parcos recursos financeiros.
O mapa era fácil de determinar, bastando o bom senso de dar corpo administrativo aos diferentes polos geográficos que já estão definidos no concelho e que, grosso modo, respeitam os critérios exigidos pela reforma.
Além do já referido núcleo de freguesias em torno de Margaride, emergiria o da Lixa, congregando as freguesias de Vila Cova, Borba de Godim, Macieira, Caramos e eventualmente Santão.
Depois formar-se-ia outro núcleo de freguesias agregando Sendim, Jugueiros e Pinheiro.
Os polos urbanos de Airães, Barrosas, Longra dariam, naturalmente, origem a mais três grandes freguesias.
Restaria uma freguesia para o Vale do Vizela e outra congregando eventualmente o polo mais industrializado do concelho, por isso com uma identidade muito própria, compreendendo, por exemplo, Lagares, Torrados e Sousa.
Obviamente que haverá algumas das atuais freguesias, em pontos de partilha entre os diferentes núcleos, que poderiam “saltar” para um lado ou para o outro em função do entendimento a que se vier a chegar no processo negocial em curso. Desta organização sobressairiam enormes vantagens, sobretudo as que decorrem de uma escala maior que permitiria uma programação de investimentos mais eficaz.
Obviamente que cairiam muitos cargos, muitas remunerações e provocaria um terremoto político no concelho de consequências imprevisíveis, sobretudo nos aparelhos dos dois principais partidos, tão habituados à “contabilidade das capelinhas” e à gestão de equilíbrios de longa data que poderão, num ápice, desmoronar…
Por isso, o nervosismo miudinho que se sente em alguns autarcas e nos aparelhos dos partidos, ainda atordoados com o que pode acontecer.
Mas sobre isso dissertaremos uma futura oportunidade.
Neste dia, desejo a todos os meus amigos uma Páscoa muito adocicada, onde não faltem saúde, algum dinheiro e apetite para degustar umas deliciosas amêndoas de Moncorvo.
A cada Páscoa que passa, regressam aquelas recordações da infância nos idos setentas.
Por aqueles dias, Páscoa significava para mim e para grande parte das crianças a ida aos padrinhos e a estreia de uma roupa nova, com uns belos sapatos de verniz comprados na feira que nos magoavam os pés.
Era sempre assim naquele domingo pascal. Tomávamos um banho reforçado, vestíamos, orgulhosos, a roupa cheirando ainda a nova, enquanto a minha mãe, atarefada, nos enfileirava para uma penteadela do cabelo tipo “lambidinho”, à custa de sucessivas imersões do pente na água do lavatório.
E, todos bonitos, entrávamos no carro do meu pai, um velho Sinca, para iniciarmos o périplo pelos padrinhos dos três filhotes da casa.
Quanto a mim, já sabia que iria receber a tradicional rosca.
Mas… ao contrário dos meus irmãos, eu recebia uma rosca de trigo, enquanto eles recebiam uma rosca de pão-de-ló, todo bem arranjado.
Confesso que me sentia discriminado, porque o pão-de-ló era mais moderno, mais chique. Mas os meus padrinhos, muito tradicionais, insistiam na oferta da rosca de trigo.
Era enorme e enfiava na minha cabeça a dita rosca, enquanto o meu padrinho ia à carteira buscar uma nota de 100 escudos, aquela que tinha a imagem do Camilo.
Já a caminho da casa dos padrinhos dos meus irmãos, eu imaginava o que iria fazer com aquele dinheiro todo… se calhar guardá-lo no porta-moedas que a minha mãe me oferecera.
Mas era a ida à casa do padrinho do meu irmão que eu gostava mais.
Ele vivia numa habitação pequena junto a um rio, afluente do Ave, que atravessava a minha aldeia. Para chegar à casa tínhamos de percorrer algumas centenas de metros num carreiro estreito e sinuoso, sempre a descer por estre arbustos e rochas de grande dimensão, enquanto o cantarolar da água do rio se aproximava, avisando-nos que estávamos a chegar.
Enquanto o meu irmão ia recebendo a bênção do padrinho e os presentes da quadra pascal, incluindo uma nota mais gorda do que a minha, eu ficava no terraço, à porta de casa, ouvindo e olhando o rio, sorrindo, feliz, sentindo um cheiro tão primaveril e fresco da vegetação que ainda hoje consigo imaginá-lo na minha memória.
Era assim todos os anos o ritual da Páscoa, o tal dia em que, na casa onde vivia, chegava sempre o compasso anunciado pela sineta ao longe.
Aqueles minutos finais de espera eram intensos, com toda a família reunida na sala, ajeitando as roupas novas.
Que emoção quando o padre entrava pela casa perfumada, que fora, mandava a tradição, minuciosamente limpa nos dias anteriores para receber o Senhor.
O padre acabava por beber um cálice de Porto e, com o seu séquito em cortejo, partia para a casa seguinte.
Depois, bom, despíamos a roupa nova e envergávamos o traje da brincadeira, porque, lá fora, a pequenada já chamava para mais uma partida de futebol de rua, na calceta do Largo de Santo António.
Os jardins de camélias de Celorico de Basto são lindos. Na maioria deles, encontramos recantos românticos, de mil cores, aromas e formas, que remetem os nossos sentidos, assoberbados pela beleza, para o período em que foram concebidos, nos séculos XVIII e XIX, emoldurando antigas casas apalaçadas e brasonadas.
Alguns desses jardins, espalhados pelo concelho, estão magnificamente preservados, neles reinando as cameleiras, algumas com mais de um século de existência e esculturadas, com formas avulsas, por mãos sábias de jardineiros.
A viagem a estes jardins é assim um passeio pelo passado não muito remoto, de uma ruralidade bucólica. As fragrâncias das flores, dispostas ora em alamedas, ora numa espécie de labirintos, encimados por pequenos lagos, são quase tão profundas quanto as paletas de tons rosas, vermelhos e brancos viçosos.
Este vídeo que realizei procura, “sem sucesso”, reproduzir as emoções que trouxe daquele bonito passeio dominical.