A propósito do Dia Mundial da Rádio.
Armindo Mendes
Lembro o dia de verão em que, sentado no parapeito da janela, olhava, por entre a árvores, o velho circo que lá ao longe, parara na minha aldeia, enquanto ouvia o som nasal do velho rádio lá de casa, minha companhia obrigatória.
E eu, preocupado com a sede do locutor que falava incessantemente, metido no velho Onda Média, decidi dar-lhe de beber, deitando um pouco de água fresca sobre o aparelho. Lembro-me como se fosse hoje…
A água deve ter-lhe sabido bem, porque o homem calou-se de imediato… Mas eu, criança com uns cinco ou seis anos de idade, fiquei triste e assustado, porque o rádio amuou e percebi que fizera asneira.
Tal gesto, irrefletido, inocente da minha pessoa, mais tarde censurado pelo meu pai, já indiciava o gosto de quem, ainda muito pequeno, adorava ouvir rádio e já despertava para o jornalismo.
Todos os dias, muito pequeno ainda, no tempo dos debates políticos acalorados Cunhal/Soares, não conseguia adormecer se não ouvisse o noticiário da meia-noite.
Mais tarde o gosto pela música e pelas notícias empurrou-me para o mundo da rádio, que desfrutei alguns anos.
A vida, porém, quis outro destino profissional para mim, mais voltado para a escrita, mas a paixão pela senhora rádio ficou incólume.
Hoje continuo a ser um ouvinte de rádio assíduo, respeitando muito os meus colegas que, nem sempre reconhecidos no seu mérito, nela trabalham.