A propósito das "pieguices" do momento!
Armindo Mendes
Eu não sou piegas.
E a maioria dos meus compatriotas também não.
Como milhões de outros “tugas”, luto com humildade, todos os dias, na minha empresa, no meu trabalho, para que a minha remuneração aconteça, não por mera geração espontânea, mas como consequência natural e justa da força produtiva geradora do lucro.
Faço parte do grupo de portugueses que, atormentado com as notícias de um mundo que parece desmoronar, trabalha todos os dias muitas horas, bem mais do que o horário legal, pouco preocupado com as folgas e as pontes.
Permitam-me este desabafo: quantas vezes dou comigo a pensar o quanto vou ficar prejudicado com os feriados que se sucedem e condicionam a produtividade da minha empresa.
Faço-o, sem queixumes, em primeiro lugar, porque preciso de ganhar a vida, mas também porque gosto muito de me sentir útil.
Mas, muitos portugueses que conheço, de esquerda e de direita, são piegas, com certeza. Queixam-se por tudo e por nada!
Há que assumi-lo.
Não falo obviamente dos que sofrem mais com a crise, dos que auferem de parcos vencimentos dos que estão desempregados. Esses merecem todo o respeito e consideração. Esses não são piegas, porque queixam-se com propriedade e com justiça, revoltados com o rumo que o país está a levar, provocando tantas arbitrariedades imerecidas para os mais frágeis.
O que eu censuro convictamente são os que, sendo uma minoria, vivendo bem, passam a vida, entrincheirados, a queixar-se disto e daquilo, o que é muito português, murmurando, no Facebook ou noutras paragens, com pouca razão, às vezes.
As críticas desses vão quase sempre direitinhas para os poderes públicos, que têm as costas largas, quando estes, sejam de que partido forem, tomam medidas que, direta ou indiretamente, ferem os tais pomposamente chamados direitos adquiridos, os tais tantas vezes ligados aos interesses instalados, corporativos, os tais “lobbys” na nossa sociedade tão latina.
Mas, não raras vezes, esses “tugas”, profissionais do murmúrio, no seu “pequeno mundo de conforto”, tão acometidos estão a uns certos direitos adquiridos, que, zurzindo disto e daquilo, entre umas quantas pontes e dias infindáveis de férias, não têm a modéstia de reconhecerem que, se calhar, não têm sempre razão, que são uns privilegiados face a tantos compatriotas, esses sim, que vivem com inúmeras dificuldades.
Fica-se muitas vezes com a ideia de que, esses, os dos murmúrios, estão sempre à espera de um deslize de linguagem de um qualquer responsável político para logo se lançarem numa cruzada de críticas de cariz por vezes demagógico, que desviam a questão do essencial para o acessório.
E se calhar é isso mesmo que se pretende, lançando uma cortina de fundo sobre os problemas estruturais do país, sobre os políticos, para que nada se mude, tudo se mantenha como está.
Se assim for, na mente dos tais ditos “piegas”, vai prosseguir o mundo de conforto, cheio de direitos adquiridos, cheio de feriados, pontes e férias, na tremenda ilusão de que a riqueza do país nasce de geração espontânea.
Esse mundo cor de rosa, de geração espontânea, escondido atrás do crédito fácil, ao qual acorriam famílias, empresas e o próprio e Estado, que todos os luxos e direitos adquiridos sustentava, acabou, ruiu como um baralho de cartas.
Sou dos que acham que o conforto, a qualidade de vida de um país e a equidade, só pode acontecer se o seu povo trabalhar, se o seu povo produzir mais e melhor, gerando a produtividade fundamental para que apareçam os recursos que suportem uma redistribuição justa da riqueza e garanta uma relação equilibrada, com direitos e deveres justos, entre o empregado e o empregador.