Como Sanfins, em Paços de Ferreira, o castro de São Lourenço, em Esposende, sobranceiro ao estuário do rio Cávado, que visitei pela primeira vez por estes dias, é mais um exemplo da importância da cultura castreja no período anterior à romanização da Península Ibérica (III e II a.C).
Este antigo povoado perdurou vários séculos, incluindo os primeiros da ocupação romana, bem evidentes no tipo de construção presente em algumas das habitações.
Os arqueólogos concluíram que o castro terá sido habitado até ao século IV da nossa era.
Calcorrear as antigas ruas do povoado é recuar mais de dois mil anos no tempo, tentando perceber como viveu o povo de então.
Do alto do cabeço, situado a uma altitude de cerca de 200 metros, observa-se o estuário do rio Cávado e uma longa extensão do litoral nortenho.
Não, não somos lixo, como uns senhores capitalistas exacerbados nos quiseram catalogar.
É ofensivo esse epíteto. Milhões de portugueses, que trabalham honestamente todos os dias, não têm culpa alguma do seu país estar na situação atual, para a qual concorreram muitos fatores externos.
Vários dos compatriotas que nos governaram anos a fio, de vários partidos, terão com certeza responsabilidade política pelo que se está a passar.
Independentemente disso e dos erros cometidos, somos um povo com muitos séculos de história dos quais nos devemos orgulhar, com uma bandeira, um hino, com uma língua bonita, com uma cultura intensa, plural e com vultos imensos que deram ao mundo caminhos do futuro.
Quem são esses rostos que ousam rotular-nos a coberto de uma certa imunidade baseada no anonimato?
Conhecerão eles Viriato, o eterno Castelo de Guimarães, Camões ou Amália Rodrigues…
Nunca estiveram, por certo, em Sagres, ouvindo o sussurrado do vento Norte, na Ribeira do Porto, abençoada pelo eterno Douro vinhateiro ou no castelo de S. Jorge, antro de batalhas, olhando o Tejo imenso, afinal porta de caravelas para tantas e partidas e chegadas de um povo.
Esses seres sem rosto nunca subiram ao miradouro para, vergados à natureza, ver e rever a Lagoa das Sete Cidades, nos Açores, ou a Marvão altaneiro para avistar o passado de duras lutas para sermos uma pátria una.
Não conhecemos esses burocratas, apesar de sabermos serem poderosos numa determinada organização política e económica do mundo em que vivemos, cada vez mais desigual, desregrada, que tudo ignora em prol do lucro imediato.
Nós somos pessoas, não somos lixo.
Não somos números, não somos "rating", somos gente com virtudes e defeitos, mas orgulhosos na nossa alma lusitana.