Há pessoas que ficam incomodadas com a incoerência dos que com essas se relacionam em diferentes planos. Eu incluo-me nesse leque.
Admito, por isso, que, como outros, tenho uma dificuldade terrível em lidar com comportamentos incoerentes de uma certa estirpe de pessoas.
Os dias passam e quem de nós já não se deparou com atitudes de outrem que nos deixam atónitos, quase estupefactos, tão inverosímeis tão eivadas de desfaçatez elas nos parecem.
Quantas vezes nos debatemos com um conjunto de circunstancialismos que, conjugados, apontam para uma certa impotência da nossa parte em lidar com factos que nos deixam atónitos.
Quando tal ocorre interiorizamos um inconformismo difícil de suportar.
É difícil lidar hoje com pessoas cujos comportamentos, afirmações e atitudes contrastam de forma grosseira com o que defendiam no passado.
Sobretudo um conjunto de valores que julgávamos ter um denominador comum com o que perfilhávamos e, por isso, se desenvolveram relações que julgávamos, então, serem de confiança.
Quanto tal ocorre a incoerência resvala para uma certa traição. E essa é mais crua.
Percebe-se que as certezas, as convicções do passado, propaladas com espírito quase profético, afinal, hoje são estéreis, são voláteis, são moldáveis a uma nova realidade, esta, agora, eivada de interesses com vestes renovadas, mas que outrora se diabolizavam. Sim, sem dúvida. As evidências são claras.
E de tal forma assim é que tendem a justificar o injustificável, tendem a querer convencer os mais incautos de que afinal o rei não vai nu.
No mundo dos valores e dos princípios, é preferível lidar com os lobos de dentes cerrados. Com esses já sabemos com o que contamos e por isso estaremos mais precavidos.
Mais perigosos, astutos, são alguns novos lobitos, mas que vestem pele de cordeiro. Com esses, os tais que no passado tinham palavras mansinhas e hoje urdem elaboradas estratégias, há que ter muito, muito cuidado...
Mais uma Páscoa passada, mas a actualidade mantém-se... pela piores razões...
Suspeitas no negócio dos submarinos, suspeitas no negócio dos carros blindados... E, se calhar, tantas outras suspeitas em negócios envolvendo o Estado Português...
Pelo meio outras notícias que nos vão esclarecendo sobre os ordenados principescos de alguns gestores de empresas com participações do Estado, como a EDP, a PT ou a Refer, etc, etc.
Também as viagens de alguns deputados de primeira classe, pagas pelo erário público, também as incompatibilidades dos deputados violadas ... e também as comissões de inquérito na AR que não vão dar em nada, além do triste espectáculo de vermos os políticos mergulhados em tantas incongruências...
Enfim, as notícias vão saindo a uma cadência quase diária que os comuns mortais, encolhendo os ombros, já nem vão ligando.
Ficamos quase todos com um sentimento de quase indiferença, ao ponto de, cada um de nós, irmos confessando: são todos iguais.
E depois queixam-se, hipocritamente, uns quantos políticos que os cidadãos olham para eles cada vez com mais desconfiança.
Pudera: com tantas suspeitas... só é pena que raramente as suspeitas sejam provadas e os seus responsáveis punidos como deviam no lugar próprio.
Fica, pelo menos a mim, um travo amargo na boca, sobretudo quando pago os meus impostos e questiono para onde vai o meu dinheiro?
Porque, claro, nós é que pagamos sempre as crises que eles, com as suas políticas, ajudaram a criar!
O EXPRESSO DE FELGUEIRAS cumpre por estes dias o seu quarto aniversário. A 31 de Março de 2006 foi para as bancas o número zero deste periódico. Hoje concretizamos o nº 99, ou seja, é a nossa centésima edição, considerando obviamente o número zero. Assinalando esta efeméride, poderia aproveitar o momento para discorrer sobre um conjunto de factos que ocorreram neste percurso de quatro anos, uns mais positivos do que outros. Prefiro, porém, deter-me em notas sucintas. Sem surpresa para nós, mas porventura de forma mais enfática do que esperávamos, o EF enfrentou desde a primeira hora um sem número de dificuldades inerentes ao facto de exercer a sua actividade jornalística num concelho com elevados níveis de iliteracia e com pouca tradição ao nível da imprensa escrita. A crise que entretanto assolou o país acentuou o quadro de dificuldades em que o jornal tem trabalhado. Acresce que os felgueirenses habituaram-se a ter jornais de alguma maneira reféns de estratégias político-partidárias ou pessoais, usadas em função desses interesses, numa lógica nem sempre coerente, no meu ponto de vista. Olham, por isso, legitimamente, com desconfiança para os órgãos de comunicação social, julgando-os quase sempre afectos ao partido A ou partido B. Talvez por isso haja resistências recorrentes à adesão de mais felgueirenses ao nosso projecto. O EF foi o primeiro jornal do concelho nascido no quadro de um projecto empresarial, assente numa primeira fase em dois profissionais do sector, movimentando-se, por isso, num contexto de distanciamento face aos interesses de natureza política. Nesta casa, como em qualquer empresa, orientámo-nos pelo primado da sustentabilidade económica, procurando compaginá-lo com um produto editorial que suscite o interesse dos nossos leitores. Neste plano, ao nível dos conteúdos, porque conheço o potencial dos que comigo trabalham, admito que muito mais poderia ter sido feito, mas os felgueirenses percebem que na conjuntura actual de crise económica, tantas vezes castradora da criatividade, não há condições para ir mais além. Mas o EF não está sozinho neste percurso. Este jornal regional, incluindo a sua versão online, é um dos vários produtos que a empresa CM - Comunicação e Marketing desenvolve. Só assim, no plano económico, faz sentido o EF. Não fora isso e este projecto editorial para o concelho de Felgueiras não teria qualquer hipótese de ser sustentável. Só uma grande paixão pela profissão tem permitido ultrapassar um sem número de dificuldades. Se é certo que milhares de felgueirenses, como se constatou nas últimas eleições autárquicas, olham para o EF como um jornal de referência no concelho, credor de um capital de credibilidade ímpar nesta terra - esse é o nosso maior património -, não menos verdade é que há outros felgueirenses, esses, felizmente, em menor número, que não disfarçam o desconforto com o nosso percurso, sobretudo com a nossa perseverança. Mas com esses, que “atiram a pedra e escondem a mão”, não percamos tempo...
Quando julgarmos mais oportuno, saberemos separar o trigo do joio conforme nos aprouver
Noutros concelhos que conheço bem, os jornais locais são mais acarinhados, inclusive pelas autarquias. Os exemplos são muitos, basta analisá-los de forma desapaixonada. Por cá, depois de quatro anos de total ostracismo face aos jornais, imposto pelo poder de Fátima Felgueiras, e contra o qual, ao contrário de outros títulos, o EXPRESSO DE FELGUEIRAS assumiu a sua oposição, correndo os riscos a isso implícitos, esperava-se muito da nova equipa que governa a câmara, saída de uma oposição à qual demos voz, enquanto outros, temerosos face ao poder de então, a amordaçavam e até atacavam. Infelizmente, neste plano, os primeiros sinais não são animadores, mas esses não nos esmorecem, antes pelo contrário, dão-nos mais força para sermos iguais a nós próprios, alinhados com um passado de que nos orgulhamos. Sim, nós temos memória! Outros, hoje com responsabilidades, acusam flagrantes incoerências face ao que, de forma quase solene, preconizaram no passado. Queremos e vamos ser plurais a cada dia que passa para reforçarmos o capital de confiança que os felgueirenses em nós depositam, sendo certo que, fiéis à nossa coerência, quando e se julgarmos oportuno, saberemos separar o trigo do joio, conforme nos aprouver. Uma nota final de agradecimento para os colaboradores que todas as edições nos ajudam a fazer o EXPRESSO DE FELGUEIRAS. Sem eles este jornal seria mais pobre.