Na passada sexta-feira à noite, os diabos saíram à rua em Amarante, na "Noite dos Diabos à Solta". Cerca de 300 figurantes, quase todos amarantinos, em colaboração com o Teatro Filandorra, trajaram-se de diabos na noite de S. Bartolomeu e reviveram, num clima de enorme misticismo, uma tradição antiga das gentes amarantinas, uma espécie de culto pagão.
Nas ruas do centro histórico estiveram milhares de pessoas, mas foi no largo de S. Gonçalo que tudo foi mais intensamente vivido. Foi mais uma actividade interessantíssima promovida pela Câmara Municipal, no âmbito do programa “Amarante Anima”, que tem, neste Verão, proporcionado animação quase diária ao burgo de Pascoaes, com música de todos os estilos, teatro, pintura, fotografia, artes circenses, etc. Parabéns à organização, por estar a ser capaz de conferir a Amarante um cunho cada vez mais urbano, mas sem esquecer as raízes ancestrais da cultura de um povo.
Estas foram algumas imagens que retive com a minha câmara.
Saciando a minha paixão pela história, no passado fim-de-semana repeti a rota das aldeias históricas, nas beiras Alta e Baixa do nosso Portugal. Recordei as aldeias medievais de Sortelha, Castelo Mendo, Almeida, Linhares e ainda passei por Belmonte. Há alguns anos já tinha estado em Monsanto, Folgosinho, Idanha-a-Velha, Castelo Novo, Castelo Rodrigo e Penha Garcia. Para uma próxima oportunidade ficou Marialva, próxima de Trancoso, que ainda não conheço. São aldeias magníficas, muito bem preservadas, quase todas com os seus castelos, que retratam o passado heróico dos nossos antepassados da raia, sobretudo o quanto foi duro sermos hoje um Estado independente. No final ainda dei um saltinho à minha serra preferida: O Açor, terra do xisto. Ali “revisitei” coisas lindas, como o Piódão e as fantásticas quedas de água da Fraga da Pena. Para não andar carregado, não quis levar equipamento profissional de fotografia. Captei estas imagens com a minha pequena Nikon compacta Coolix E4100, que partilho agora com os meus amigos…
Por estes dias as notícias continuam a dar conta da subida dos preços dos combustíveis em Portugal. Assistia há dias, num dos canais da RAI, a um noticiário no qual se exibia, com espanto do jornalista, um gráfico que apontava o nosso país como um dos que pratica preços mais elevados na gasolina e no gasóleo. O espanto do jornalista transalpino faz sentido, porque é conhecedor do baixo nível de rendimento dos portugueses - o mais baixo da Europa a 15. Imaginava o repórter o esforço que cada “portuga” teria de fazer para, com o mais baixo rendimento do velho continente, suportar os combustíveis mais caros. Nessa reportagem eram exibidas entrevistas de rua com vários cidadãos italianos, que iam comentando mais um aumento dos combustíveis. Todos protestavam e alguns diziam que o gasóleo e a gasolina tinham atingido valores quase insuportáveis. Assistindo à reportagem, ia confidenciando com os meus botões o quanto os italianos, apesar e tudo, no caso em apreço, até são pessoas com sorte, porque, como se sabe, têm um rendimento médio muito superior ao dos portugueses e, por isso, terão mais capacidade para suportar os custos do combustível. Mas, perguntarão alguns leitores mais desatentos, a que se devem os preços tão altos do combustível em Portugal, quando todos os países da Europa Ocidental adquirem o “ouro negro” nos mercados internacionais a preços semelhantes? Tudo tem a ver, como saberão os mais atentos, com o imposto cobrado no nosso país, o chamado ISP, que é um dos mais elevados da Europa. Li há dias num jornal de economia que mais metade do que pagamos nas bombas de gasolina vai para os cofres do nosso guloso Estado. É também este Estado responsável por abocanhar mais “uma pipa” de impostos nos automóveis que compramos, transformando-os nos mais caros da Europa. Quando, há uns anos, adquiri uma viatura diesel de cinco lugares tive a curiosidade de ver quanto custava o mesmo automóvel em Espanha. Com meia surpresa constatei que custava menos cerca de cinco mil euros do que em Portugal. Se à diferença de preço acrescentarmos o nível do poder de compra dos dois países, concluiremos que um automóvel do lado de cá da fronteira custará cerca do dobro do que custa por terras castelhanas. Fiquei revoltado e, por instantes, apeteceu-me ser espanhol! O preço da gasolina e dos automóveis são apenas dois entre muitos exemplos (ocorre-me também o diferencial brutal da taxa do IVA) do quanto os portugueses estão a anos luz dos nossos vizinhos. Obviamente, todos temos aquele orgulho de sermos portugueses. Prezamos a nossa história, a nossa cultura, prezamos a nossa língua e a maioria de nós nem sequer equacionaria uma hipotética mudança de nacionalidade. Obviamente que adoro o meu país, cujo hino ouço com profunda emoção. Esse amor pátrio, mas de povo sofrido, num estado de alma tão lusitano, não nos deve inibir de reflectirmos porque somos tão mal tratados por um Estado luso tão guloso. Um Estado que nos sufoca com impostos intermináveis, sem que, como contrapartida, tenhamos serviços públicos de qualidade, compagináveis com o nível de taxas que somos obrigados a suportar. Também é legítimo a cada português ousar questionar a Europa que temos. Uma Europa que nos obriga a mil e uma coisas, cumprindo uma teia de directivas e sufocando-nos com taxas de juro determinadas em Berlim ou Bruxelas à revelia dos interesses dos mais pequenos, mas que não é capaz de impor aos Estados gulosos, como o nosso, modelos fiscais tão harmonizados quanto possível, porque a imposição das taxas de juro não tem as mesmas consequências em todos os estados. Por cá, por exemplo, o impacto do aumento das taxas é brutal, atendendo que os portugueses não têm a mesma capacidade financeira dos alemães ou dos holandeses. Pode parecer um paradoxo, mas sou defensor do processo de construção europeia, porque entendo que no deve e haver, tem valido a pena a nossa aposta de integração. Mas essa convicção não nos deve tolhir de ousar questionar aqueles que nos parecem ser os desvios de um caminho…
A Mostra do Tâmega que decorreu recentemente em Amarante é um sinal positivo do quanto um bom entendimento entre os municípios da região pode redundar em iniciativas importantes, como este certame. Os resultados das eleições autárquicas de 2005 trouxeram, de facto, uma lufada de ar fresco na forma como os municípios do Baixo Tâmega perspectivam o associativismo. A ida às urnas ditou o desaparecimento do poder dos dois autarcas que mais resistiam ao espírito associativo: Ferreira Torres, em Marco de Canaveses, e Emília Silva, em Baião. Eram duas pessoas, que perfilhavam um cunho muito individualista e que, visivelmente, não se reviam no esforço que outros autarcas da região, nomeadamente Amarante, iam desenvolvendo no sentido de conferir a este espaço territorial uma visão mais concertada do futuro. Hoje o desenvolvimento não pode ser visto numa mera perspectiva de capela, com cada concelho a olhar exclusivamente para o seu umbigo. Infelizmente, também por cá, em Amarante, ainda há muita gente que continua a alimentar uma visão redutora de desenvolvimento, quase do tipo orgulhosamente sós, como se viu recentemente com a mesquinha resistência dos apoiantes de Ferreira Torres e até o PSD à adesão do município de Amarante à Fundação Eça de Queiroz, só porque aquela tem sede em Baião. Já é tempo de deitarmos para trás das costas as invejas do vizinho do lado e olharmos para ele, não de soslaio, mas como parceiro, entre iguais, num trilho de desenvolvimento. Os municípios são demasiado pequenos para, num quadro nacional e europeu, enfrentarem, isolados, os desafios de futuro. As grandes estratégias de desenvolvimento têm de ser pensadas e desenvolvidas num contexto regional, aliás como já está implícito no novo Quadro de Referência Estratégica Nacional, cujos fundos estão vocacionados para projectos de um âmbito que extravase as fronteiras de um qualquer município. Há que equacionar as políticas numa lógica regional, dotando o conjunto destes seis concelhos, de forma equilibrada e adequada às características de cada um, das ferramentas essenciais para vencer, falemos nós de equipamentos colectivos, acessibilidades, investimentos na indústria ou em infra-estruturas turísticas. Hoje, no Baixo Tâmega respira-se confiança, porque os seis municípios têm em comum a vontade de trabalhar em conjunto. Percebe-se que há um bom relacionamento pessoal entre os autarcas e isso, como se sabe, facilita bastante o trabalho em equipa. O Baixo Tâmega foi visto durante muitos anos, inclusive pelos sucessivos governos, como uma região difícil, também porque os autarcas não apresentavam coesão bastante para trabalhar em conjunto. Lembramo-nos todos, há alguns anos, do atribulado processo de construção de um aterro sanitário que pusesse termo ao cancro das lixeiras. Durante anos, os autarcas não se entenderam sobre a localização. Alguns queriam ver resolvido o problemas, mas, numa visão muito ortodoxa, desde que o aterro não fosse parar aos seus concelhos. Foi assim durante anos até que, um dia, apareceu cá um ministro do Ambiente com “mão de ferro” e deu um murro na mesa. Ou os autarcas se entendiam ou ficariam com um problema gravíssimo entre mãos. Esse ministro chamava-se José Sócrates e a ele se deve o facto de hoje termos uma empresa, a Rebat, com capitais públicos, inclusive dos seis concelhos, que gere com sucesso a política de resíduos sólidos na região. Esta foi uma boa experiência, aliás a única com efectiva dimensão, que o Baixo Tâmega foi capaz de construir. Mas ficou a ideia, consubstanciada em resultados práticos, de que, em determinadas áreas, trabalhar em equipa é sempre mais fácil e eficaz do que isoladamente. Hoje em Marco de Canaveses e Baião temos autarcas de espírito aberto e moderno, que percebem as vantagens num entendimento estratégico com Amarante e com os municípios de Basto. Os nossos presidentes de Câmara estão sinceramente convencidos de que as sinergias criadas entre os seus municípios são fundamentais para ajudar a tirar a região da cauda do país. Mais ainda: estes autarcas tem de saber partilhar ideias, projectos e recursos porque só assim o Baixo Tâmega fará vingar a sua identidade, agora que se sabe que o QREN obriga a projectos conjuntos com o vizinho Vale do Sousa, uma região com muito mais pujança económica e coesão intermunicipal. Esta Mostra do Tâmega é a primeira. Talvez por isso ainda dê mostras de alguma fragilidade, o que é natural. Mas, foi importante a sua concretização como plataforma para outras Mostras do Tâmega, nos próximos anos. Provou-se que foi possível realizar algo em comum, vencendo-se desconfianças antigas. Neste certame já se podem ver empresas de vários concelhos, que disseram presente ao repto da associação de municípios. Mas também outras não quiseram ou puderam vir, mas essas hão-de vir um dia, desde que percebam que vale a pena mostrar os seus produtos e serviços para um público que também ser quer cada vez mais regional e até nacional.