A dita “greve geral” passa ao lado dos trabalhadores do setor privado
A greve, dita “geral”, de hoje, evidencia, uma vez mais, o que há muito se sabe: este país tem duas realidades bem distintas e inteligíveis no mundo laboral: cidadãos que trabalham para o Estado ou para o setor empresarial estatal, que aderem quase sempre em grande número a estas paralisações, e os trabalhadores do setor privado que, em regra, aderem pouquíssimo a estas greves.
Basta percorrer, hoje, os concelhos industrializados do Vale do Sousa para se demonstrar aquela observação:
As repartições públicas e outros serviços de Estado estão quase todos parados devido à greve, enquanto os milhares de funcionários da indústria, comércio e serviços da região estão, obviamente, a trabalhar, passando ao lado desta pretensa “greve geral”. É um dia normalíssimo.
Esta aparente desconformidade acaba por ser, numa primeira e superficial análise, algo contraditória, porque se sabe que, em regra, a maioria dos trabalhadores do Estado tem melhores condições remuneratórias, horários e outros direitos que os do privado ligados àprodução de artigos transacionáveis. Seriam, portanto, os trabalhadores do privado que, em protesto com essas desigualdades, mais motivações teriam para aderir à dita greve. Mas tal não ocorre. Porque será?
Não vale a pena aventar com grandes teorias para explicar a situação!
O senso comum responde de forma clara: Obviamente, que, apesar de todas as recentes medidas que têm penalizado sobretudo os trabalhadores da administração pública, precarizando os seus vínculos e enfraquecendo as suas remunerações, ainda são esses que gozam de mais estabilidade laboral, que lhes confere uma segurança para aderir à greve que os do privado, por conhecerem o patrão, nem ousam experimentar.
Que eu saiba, os números de desemprego dramáticos que o país hoje apresenta decorrem, na sua esmagadora maioria, da perda de postos de trabalho do setor privado, o primeiro, há vários anos, a sofrer com o dito "ajustamento", que só mais recentemente chegou à administração pública.
Obviamente, dirão alguns, esta é uma análise simplista, que aborda apenas parte da matéria, embora, no meu ponto de vista, a mais proeminente, havendo outros fatores que concorrem para a dita diferença de atitude de “uns” e de “outros” face às greves.
Mas esses ficarão para futuras dissertações.